A melhora na segurança pública de Caxias do Sul é sentida nas ruas e merece ser exaltada, afinal são os melhores índices da década, porém ainda é cedo para relaxar. A média de sete assaltos por dia continua alta e traumatiza as vítimas. Em um dos casos de maior repercussão neste ano, dois irmãos, de 17 e 19 anos, filmaram-se exibindo armas apontadas para um motorista.
As imagens se espalharam nas redes sociais no final de setembro e apavoraram Debora Ferreira Zimermman, 36 anos. A motorista de Uber reconheceu nos vídeos os dois jovens que a assaltaram em Farroupilha no dia 16 de setembro. O crime marcou o primeiro mês de Débora na Serra.
— Cheguei em 16 de agosto em busca de tranquilidade. Me disseram que Farroupilha era uma cidade de família, bem sossegada, e eu realmente estava me sentindo no paraíso. Mas agora tudo mudou. Passo o tempo inteiro assustada, tenho medo de sair na rua — lamenta a motorista, que antes morava em Balneário Camboriú (SC).
Uma semana após o crime, o Fiesta de Debora foi recuperado pela BM de Caxias do Sul. O automóvel, que estava com placas clonadas, foi encontrado em uma lancheria do bairro Santa Fé. Na ocasião, os dois irmãos — e suspeitos de atacarem Débora — foram detidos com o celular que filmou o assalto ao motorista e dois revólveres. A resposta policial trouxe conforto à motorista de Uber, mas Debora ainda teme que, apesar de reconhecidos e presos, os jovens sejam autorizados a responder em liberdade.
Pioneiro: O que fazia na noite do assalto?
Debora Ferreira Zimermman: Saí com o meu marido para dar uma volta e decidimos passar no banco, por volta das 20h. É algo que normalmente não faria à noite, mas o meu marido é daqui e disse que não tinha problema. Lembro que, na esquina, vi aqueles dois rapazes e tive medo. Eu trabalho na rua, sabe? A gente precisa estar sempre esperto. Mas ele achei que deveriam ser só dois piás esperando por alguém. Quando encostei, veio um de cada lado, os dois armados, e levaram o carro.
Os bandidos foram violentos?
Eles só queriam o carro e o celular. Estavam calmos e foi muito rápido. Os dois estavam na esquina, perto de um poste, mas tinha bastante gente na rua. Estavam de moletom com capuz e boné. Não tem como distinguir. Todos os jovens se vestem assim. Eu nunca tinha sido assaltada. Agora, não posso ver ninguém correndo por perto que já me assusto.
Como foi saber que o seu carro havia sido recuperado?
Não sei como explicar o sentimento. Embora tenha seguro, é muita burocracia e pode demorar anos. Eu preciso do carro, dependo dele. Se não tivessem recuperado, não sei o que seria de mim. Eu estava em um fosso. Mudei toda minha vida, saí de um lugar que amava, que não tinha medo, vim para um novo lugar com grandes expectativas e, de repente, caiu o meu mundo. A Serra é um lugar lindo e adorei conhecer. Não dá para enxergar essa realidade. Tanto que quando falo do assalto, as pessoas quase não acreditam. Não combina. A imagem que passa não é desse nível de criminalidade.
Como foi ver o vídeo do outro motorista assaltado?
Reconheci os dois naquele vídeo e fiquei desesperada. Eu chorava assistindo. Eram dois piás e até achei que eram armas de brinquedo. Quando vi o vídeo... ainda bem que não reagimos. Espero nunca mais passar por isso na minha vida. Dá uma tranquilidade (saber que estão presos), mas espero que fiquem. Recuperei o carro, mas não mudou. A sensação é a mesma. Entro no carro, mas não parece mais que ele é meu. Ninguém merece passar por isso.
Você ainda espera a papelada pós-assalto ser concluída. Como vai ser voltar a trabalhar?
Só penso nisso. Eu amo a dirigir. Ou acho que ainda amo. Não sei. Irei tentar, mas não sei se vou dar conta. Sempre gostei de trabalhar de noite, mas agora parece que não tem como. Gostava de sair no horário de pico, ir para Caxias. Fazia muitas (corridas) por lá. Não me vejo mais fazendo isso. Talvez trabalhar de manhã... não sei se vai dar certo. É difícil falar, não sei explicar. Um mês na cidade e acontecer isso. Eu estava adorando a Serra, me sentia protegida. Sonhava com uma boa vida aqui, mas agora tenho medo.