Os números comprovam: Caxias do Sul vive o menor número de assaltos da década. Até setembro, foram 1.993 roubos, conforme os dados divulgados pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP). Na comparação com o mesmo período do ano passado, a redução foi de 28% — até setembro daquele ano, foram registrados 2.772 assaltos. A média de sete assaltos por dia em 2018, contudo, ainda é considerada alta.
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O pior momento da crise na segurança pública caxiense ocorreu em 2016. O parcelamento dos salários dos servidores estaduais e as incertezas sobre um plano de carreira levaram centenas de policiais gaúchos a se aposentar. Em Caxias, essa redução do efetivo coincidiu com o avanço de grupos criminosos e os índices alcançaram números alarmantes: 150 assassinatos no ano e média de 13 roubos por dia. Em comparação com o auge da crise, foram 1.568 vítimas a menos no mesmo período (janeiro a setembro), uma redução de 44%. Essa redução do sentimento de insegurança vem sendo percebida nas ruas e é, inclusive, elogiada por comerciantes.
— Diminuiu bastante os roubos, dá para perceber só de andar na rua. Não vemos mais aquele pessoal suspeito. Embora não tenhamos visto muito o efetivo da BM nas ruas, acredito que o trabalho está sendo feito — avalia Gilmar Rossi, vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Caxias (Sindilojas).
Rossi acrescenta que, entre as reivindicações da categoria, a segurança está quase indo para segundo lugar. É difícil lembrar, segundo ele, a última época em que se sentiu tão seguro. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Ivonei Miguel Pioner, concorda:
— A segurança é sempre uma preocupação, mas com certeza melhorou. Antes, quando sentávamos em uma mesa, sempre havia três ou mais que tinham sido atacados. Essa sensação de insegurança diminuiu.
Para o diretor executivo do Instituto Cidade Segura, Alberto Kopittke, os números são reflexo de melhorias na inteligência policial.
— Isso demonstra que é possível reduzir a violência por meio de melhoria na gestão policial, ao contrário do que se está afirmando muito em nível nacional que apenas mais força é capaz de reduzir os índices de violência — aponta.
Maior troca de informações e esforços conjuntos
A queda no crime que mais assusta a população, de acordo com as lideranças policiais, seria resultado da maior disponibilização de horas extras e do aprimoramento do trabalho de inteligência e de investigação policiais. No início do ano, tanto a Brigada Militar (BM) quanto a Polícia Civil estabeleceram o combate aos roubos como prioridade em Caxias do Sul. Um efeito colateral da crise, que teve seu ápice em 2016, foi a melhora na comunicação entre as duas corporações.
— A delegacia especializada ganhou reforço e, consequentemente, há uma efetividade melhor. Quanto mais gente, melhores resultados. Eles buscam a (prisão) preventiva, o que faz com que o assaltante fique mais tempo preso. Assim, estamos sanando aquele problema da impunidade, de sentirem que roubar não dava nada porque no outro dia estariam de volta na rua. Com mais policiais, há um trabalho mais efetivo — aponta o major Emerson Ubirajara, subcomandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM).
O delegado Adriano Linhares, da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec), exemplifica que a partir de prisões feitas pela BM, em que o infrator é pego com carro roubado (receptação), por vezes se consegue esclarecer quatro ou cinco assaltos e mantê-lo preso.
— É a união de esforços e investigação intensa. Acabou o oba-oba de roubar e não dar nada. Todo dia fazemos reconhecimentos e concluímos inquéritos — destaca.
A boa comunicação entre as forças policiais é destacada pelo presidente da CDL. Ele também ressalta a receptividade dos comandos da BM e da Polícia Civil e os benefícios dessa conversa direta, como a redução dos índices de roubos.
— Essa harmonia, inclusive entre eles, traz muitos frutos. É um momento de muita parceria. O grande desafio é manter estas corporações aparelhadas com tecnologia, que é fundamental para a efetividade e agilidade das ações — afirma Ivonei Pioner.