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Céu cinzento, chuva fina, mas intermitente, e poucos corajosos dispersos pela Rua Sinimbu. Esse foi o clima do início do Desfile da Independência, o primeiro da Era Bolsonaro, em Caxias do Sul. O discurso de civismo, patriotismo, enaltecimento dos símbolos da pátria, sobretudo da bandeira nacional, tema deste ano do desfile, e da inserção de Deus no mais alto posto, são pontos de vista do presidente Jair Bolsonaro que ganham cada dia mais relevância nesse novo Brasil.
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— Estamos vivendo um resgate de valores que haviam se perdido — defende o coronel Glauco Alexandre Braga, comandante do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO/Serra).
Entre os valores, está o lema da bandeira, Ordem e Progresso.
— O desfile de hoje, ressalta a data do nascimento do país como uma nação independente. Ordem e Progresso faz parte do Positivismo, do Augusto Comte (filósofo francês), cujo lema é "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim". Então, toda a instituição tem de ser organizada para que possa crescer estruturada — acredita o Coronel Leandro Fernandes Moraes, Comandante do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea (3ª GAAAe).
Um Brasil organizado, em ordem, disciplinado e com princípios morais. E não por acaso, a abertura do Desfile da Independência contou com a Escola Bíblica e com outras alas em que foram mostrados outros projetos desenvolvidos pela Igreja Assembleia de Deus, em Caxias.
— A Escola Bíblica sempre participou de todos os desfiles, de todos os governos anteriores. Eles sempre deram show. Claro, respeitamos todas as demais religiões, mas acho importante e significativo, porque eles vêm abrindo os caminhos — prega o vereador Renato Nunes, que profere a fé em Cristo, como único Senhor e Salvador.
A seguir, confira a seleção de sete cenas que descrevem esse simbólico 7 de setembro de 2019, que marca os 197 anos da Independência do Brasil.
"O Brasil que é nosso"
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— O Brasil está mudando, está se vestindo de verde-amarelo. Hoje é um dia especial e graças a Deus estamos vendo o povo saindo para as ruas com uma nova perspectiva de nação, fornecida pelo nosso presidente Jair Bolsonaro. Graças a Deus, a bandeira nacional está sendo levada na mão e no coração. Não só quando tem futebol — defendeu Joseane Haefliger, 60 anos, que diz participar de um grupo patriota, em Caxias.
Pela igualdade de gênero
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— Entre aplausos e caras torcidas, nós fomos vistos em cores que expressam a multiplicidade das formas de existir — contou Raul Cardoso Silva, estagiário de psicologia do Centro de Referência LGBT+. Sem tambor, sem tarol, nem piruetas performáticas, ele e os companheiros e as companheiras de luta entoavam sua existência, em desfile na Sinimbu.
Faca na caveira
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Jovens e crianças vestindo fardas camufladas, que participam de um projeto chamado Agente Mirim, que conta com 80 membros. O programa visa a formação através da educação ambiental, prevenção ao uso de drogas, atividades ao ar livre, esportes radicais, preparação para concursos militares, entre outras atividades. Durante o desfile, a gurizada entoava o cântico: "É faca, é faca, é faca na caveira".
Perfilados em simetria
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Coturnos bem engraxados, farda ajustada, movimentos sincronizados dos braços em sintonia com os pés, que firme marcham. O olhar firme, determinado, com testas franzidas, é mais do que interpretação para uma cena de guerra, é um estado permanente de vigília. Conclamados para apaziguar, mesmo que seja preciso agir, com rigor e força.
Bandas marciais
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Meninos e meninas, subiram a Sinimbu e fizeram o tarol ressoar por quatro horas a fio. O hit desta edição foi a trilha sonora do filme Rocky: Um Lutador (1976) imortalizada na cena em que o personagem Rocky Balboa, interpretado por Sylvester Stallone, corre pela cidade e sobe as escadarias ao som do "tãm, tãm, tãmmm, tãm, tãm, tãmmm".
Brasil poético
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Dentro desse Brasil que parece distópico, entre o que uns chamam de opressão e outros, de utopia, ainda há espaço para a poesia? Mais do que debates acirrados, de uma eterna queda de braço, há por aqui e ali qualquer coisa a nos provocar a sublimar o conflito. Uns defendem ficar em cima do muro, outros, o diálogo que estabelece pontes ao invés de gritos que erguem muros. E ainda há os poetas, que silenciosamente transitam por aí, a nos arrebatar com seus versos ou imagens, como neste registro do repórter fotográfico Marcelo Casagrande.
Mensagem das crianças
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A voz das crianças veio através de mensagens escritas, como essa, dentro de um coração, como quem grita com amor, por paz. Quando? Como? A esperança, que nunca tem um lado, está sempre à disposição, apesar do antagonismo.