Faltava pouco para o meio dia quando o tempo começou fechar nesta sexta-feira (21), em Vacaria. A primeira coisa que Ivania Bizotto notou foi a escuridão súbita. De dentro da tabacaria de que é proprietária, no centro comercial que abriga a rodoviária da cidade, ela pensava que mais um temporal se aproximava, mas não antecipava a intensidade do fenômeno. Chegando na entrada do estabelecimento, teve dificuldade de fechar a porta.
— Foi vindo aquele vento e passou tudo girando. Deus me livre. Senti muito medo. Parecia coisa de filme — lembra.
Ela correu para fechar o local e, quando reabriu, cerca de cinco minutos depois, parecia ter sido transportada para outro lugar. Pilhas de telhas e destroços se amontoavam pelas ruas e calçadas por onde antes circulavam pessoas e automóveis. Em seguida, começou a chuva.
Os bairros mais afetados pela ventania que atingiu a cidade e provocou danos em mais de 20 residências e foram o Petrópolis e o Planalto, próximos da área central.
A rodoviária foi um dos locais que concentrou mais danos: o telhado foi danificado em diversos pontos e partes da estrutura simplesmente desapareceram. Da janela de um dos quartos do hotel de Paulo Faresin, 58, no segundo andar do edifício, era possível observar salas térreas em que não havia mais telhas, apenas uma cobertura de madeira.
— Entrou água em uns sete ou oito quartos, quebrou vidros das janelas — relata o empresário.
No comando do hotel há décadas, ele diz não lembrar de fenômeno parecido.
— Eu vi que mudou o tempo, tudo estava escuro. Fechei a porta e escutei barulho, muito barulho. Acho que o clima está desregulado. Também não era normal fazer tanto calor aqui — pondera.
"Não vou descansar enquanto não levar tudo para casa"
Para Faresin, as perdas se limitaram a alguns vidros e móveis molhados. Cristine Matias Franzmann, 34, não teve a mesma sorte. Ela é proprietária de um bazar, também na rodoviária, cujo telhado foi totalmente arrancado. Por volta das 17h de sexta, ela e a mãe ainda se esforçavam para salvar alguns produtos poupados pela chuva e pelo vento.
— Nem sei ainda o prejuízo — relata.
Dentro da loja, os sinais do fenômeno ainda eram bem visíveis: o chão estava tomado pela água e pelo barro, que entrou por frestas da cobertura de madeira danificada, e prateleiras e os produtos restantes jaziam espalhados pelo espaço.
— Muita coisa nos ajudaram a levar para casa, mas seguimos recolhendo. Eu não vou descansar enquanto não levar tudo para casa, senão vou ficar pensando no que está estragando ou pode ser roubado — diz Marina Franzmann, 60, mãe de Cristine.
Bairro Planalto foi o mais atingido
O vendaval atingiu Vacaria em pontos dispersos. No bairro Petrópolis, enquanto casas de madeira, mais frágeis, foram poupadas pelo vento, na mesma quadra era possível observar residências de alvenaria parcialmente destelhadas.
Conforme o Corpo de Bombeiros, por volta das 16h de sexta todos os atendimentos já tinham sido concluídos. Ninguém ficou desabrigado e lonas foram distribuídas para quem precisava do material.
A situação era mais grave no bairro Planalto, um pouco para o leste da rodoviária. Ali, na Rua São Manoel com a Rua Independência, os moradores parecem ter sofrido o pior do temporal. Praticamente todas as casas da quadra já tinham recebido lonas ou estavam sendo reparadas.
Na residência do empresário Matheus Rech, 24, que fica na esquina das vias, parte do telhado foi arrancado do imóvel, assim como um poste e até uma araucária que ficava no terreno. Ele não estava em casa no momento da destruição.
— Na garagem, levantou tudo. Já colocamos lonas, agora esperar para reparar a parte elétrica e todo o resto. Nunca vi nada igual. É triste, até os cachorros sumiram na hora, agora apareceram.
Pelas características do fenômeno, os moradores acreditam ter sido vítimas de um tornado.
— Eu estava na rua. Vi dois (focos de vento), girando. Só deu tempo de correr para dentro de casa. Depois, veio a chuva — relata Eneimar Lopes, 23, que mora com o pai Everaldo Vieira Lopes, 41.
A avó de Lopes foi a única ferida pelo vendaval: Maria de Lourdes Vieira, 90 anos, mora na casa ao lado saiu para resgatar seu pássaro de estimação na hora do fenômeno. Ela foi atingida no rosto por um pedaço de telha e socorrida ao Hospital Nossa Senhora da Oliveira. A idosa já se recuperava em casa no fim da tarde de sexta.
De maneira geral, mesmo com perdas materiais, os moradores se consideram sortudos, como é o caso de Terezinha Almeida Ramos, 66, que enfrentou o vendaval sozinha.
— Eu estava sozinha em casa. Pensei, "agora vai arrancar a casa toda". Foi horrível. Mas com a ajuda dos vizinhos e do meu filho que chegou depois, deu para amarrar as lonas. Por enquanto, vou passar a noite na garagem — relata.