Doutora em Educação e coordenadora dos cursos de mestrado e doutorado em Educação na Universidade de Caxias do Sul (UCS), a professora Terciane Ângela Luchese, 41 anos, entende que os reflexos da falta de professores nas escolas vão muito além dos dias de aula perdidos. Somente em Caxias do Sul, o déficit é de 46 profissionais. Em toda a 4ª CRE, que abrange 122 escolas de 14 municípios, são necessários 100 professores.
– É impossível alcançar o tamanho do prejuízo na vida escolar do aluno. Eles são seres em formação e, por mais que existam muitas informações disponíveis em todos os lugares hoje, temos de diferenciá-las do que é conhecimento, do que deveriam estar recebendo na escola. Situações como essa (da falta de professores) mostram que os estudantes estão convivendo, e isso não é exclusivo do nosso Estado, com a ausência de profissionais bem preparados, que não conseguem planejar suas aulas e abordar o conteúdo adequado a cada faixa etária e com uma sequência correta. Saber muito matemática não significa que você será um bom professor. É preciso ter uma boa formação didática e pedagógica para isso. É um crime isso que estamos vivendo, estamos na contramão – afirma Terciane, que acumula experiência de 11 anos lecionando na rede pública de ensino.
Mesmo que novos docentes sejam incorporados nas próximas semanas, a professora acredita que seja impossível recuperar o tempo perdido.
– Não é um caso isolado deste ano, isso tem sido quase que recorrente e afeta a vida escolar do estudante. Essas lacunas vão se tornando um fosso que ele dificilmente vai conseguir recuperar. E qual é a consequência disso? Estamos certificando pessoas que saem da escola após um longo período de estudo e que não têm o mínimo de conhecimento. Essa falta de embasamento certamente vai atingir questões de cidadania, tirar a oportunidade de as pessoas serem bons profissionais. E onde estão esses estudantes? Justamente onde estão esses problemas, o que acaba por gerar ainda mais desigualdade social – entende.
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Eliane Brum
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