Como era previsível, a chegada do aplicativo Uber em Caxias do Sul e a falta de regulamentação criou um clima de discórdia entre motoristas e taxistas. De um lado, taxistas que reclamam dos supostos benefícios que os concorrentes têm em não pagar taxas ou passar por vistorias da prefeitura. Eles também afirmam que os motoristas estariam recolhendo clientes na rua sem contato pelo aplicativo, o que é vetado pela empresa.
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Do outro lado, motoristas do Uber reclamam de assédio e até perseguições sofridos nos últimos dias, principalmente à noite, no Largo da Estação. A situação teria chegado ao ponto de condutores serem alvejados com ovos e pedras. O Sindicato dos Taxistas (SindiTaxi) e a Associação dos Motoristas de Táxi e Auxiliares (Amot) afirmam desconhecer as agressões.
– Ensinamos a eles (taxistas) que a violência não era o caminho. Mas a gente sabe que tem Uber que fica nos provocando, perseguindo. Dois ou três taxistas nos contaram isso. Além disso, estariam fazendo fila e esperando clientes do outro lado da rua da fila dos táxis – revela o presidente do SindiTáxi, Adail Bernardo da Silva.
A insatisfação dos taxistas pela falta de regulamentação é tamanha que a entidade verifica com o setor jurídico a possibilidade de pedir uma liminar que interrompa o sinal do aplicativo.
– A ideia seria ele ficar fora do ar até ser regulamentado – explica Adail.
Enquanto isso, a legislação que deve regrar o Uber deve se arrastar por vários meses. Ainda que a Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade tenha optado por trabalhar no projeto de lei encaminhado pelo vereador Adiló Didomênico (PTB), o que teoricamente encurtaria caminho, a prefeitura aguarda posicionamento dos representantes do aplicativo. Entre os itens sugeridos, estão a taxa mensal a ser cobrada pelos motoristas de forma fixa, e não por quilômetro rodado, como funciona em São Paulo. A identificação dos carros também está em pauta: ainda que a secretaria de Trânsito defenda que a adesivagem do automóvel apresente uma afronta aos taxistas, o sindicato defende a obrigatoriedade deste selo.
– Isto permite que o passageiro identifique o Uber na rua e entre nele sem ser pelo aplicativo, o que é desleal. Também apresentamos que possa haver um número limite de carros por CPF. Nós colocamos no papel a visão da secretaria e a análise do sindicato. Falta, agora, o Uber se posicionar, até o fim da semana – afirma o secretário de Trânsito, Manoel Marrachinho.
O que diz a empresa
A Uber considera inaceitável o uso de violência. Todo cidadão tem o direito de escolher como quer se movimentar pela cidade, assim como o direito de trabalhar honestamente. Esperamos que motoristas parceiros não se envolvam em brigas e discussões e que contatem as autoridades policiais. É importante também fazer um boletim de ocorrência para que os órgãos competentes possam tomar as medidas cabíveis.
Sobre a regulamentação, a Uber vê como positiva a iniciativa da Secretaria de Transportes de iniciar o processo de construção de uma regulamentação para os serviços de transporte individual privado e irá colaborar. Regulamentações modernas criam ambientes de inovação, que garantem o direito de escolha sobre como se movimentar pela cidade aos cidadãos, além de uma opção digna de renda para motoristas parceiros.
Motoristas pretendem paralisar
Membros do Uber estão descontentes com uma série de itens que incluem desde as tarifas aplicadas até a insegurança que afirmam sentir em Caxias do Sul. Após reunião realizada no domingo, nos pavilhões da Festa da Uva, onde mais de 80 membros participaram, chegou-se à conclusão de que haverá paralisação amanhã caso não haja uma resposta de representantes do aplicativo. O grupo elaborou uma petição eletrônica onde lista sete pontos que reivindicam alterações no funcionamento da plataforma em Caxias.
– Está sendo impraticável ter lucro se levarmos em conta depreciação do veículo, manutenção, seguro e impostos – diz o documento.
Até a quinta-feira, 75 pessoas assinaram a petição, que pede a limitação de cancelamentos de viagens por parte de clientes, erros de endereço, não receber o pagamento em dinheiro, aumento nos valores de incentivos do Uber, tarifas diferenciadas para trajetos longos, mapeamento de locais perigosos, além de aumento no preço do quilômetro rodado, de R$ 1,20 para R$ 1,58, da tarifa básica, de R$ 2 para R$ 2,75, e do minuto da viagem, de R$ 0,15 para R$ 0,30.
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Raquel Fronza
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