Um vídeo que mostra um confronto envolvendo manifestantes contra o impeachment de Dilma Rousseff e a Brigada Militar, no centro de Caxias do Sul, repercutiu intensamente nas redes sociais na quinta-feira. As imagens divulgadas pela página do Mídia Ninja no Facebook, mostram agressões entre o advogado Mauro Rogério Silva dos Santos, 51 anos, e os policiais.
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A gravação termina quando o filho de Mauro, Vinicius Zabot dos Santos, 21, chuta a cabeça do soldado Cristian Luiz Preto. O rapaz foi preso em flagrante e indiciado por tentativa de homicídio, mas foi solto ainda na quinta-feira por decisão da juíza Milene Rodrigues Froes Dal Bóm, da 1ª Vara Criminal.
Santos recebeu o Pioneiro em sua residência, no bairro Pioneiro, e conversou sobre episódio. Confira alguns trechos da entrevista:
Pioneiro: O que o senhor fez quando chegou na Dr. Montaury?
Mauro Rogério Silva dos Santos: Meu filho não estava sendo abordado. Eu vi que, na parede, tinha uma moça e um rapaz. Eu não me dirigi a eles (policiais). Eu não posso interferir no trabalho deles. Perguntei para a gurizada o que estava acontecendo e me disseram que estavam prendendo eles porque estavam pichando "Fora, Temer!. Eu peguei a minha carteira e me dirigi até um policial e um me perguntou: “onde o senhor vai?” Mas quase não houve diálogo, quase não houve tempo. Eles não estavam em si. Veio um outro e me empurrou. E veio um terceiro violento e é aquilo que o vídeo mostra. E disseram, então: "O senhor está preso!. Mas preso por quê? Não havia como se comunicar com eles. Eles não viram um advogado, viram um homem negro. É difícil juntar as duas coisas. Não é só eles. Eu sou suspeito em dizer que não agredi, agora eles estão dizendo que eu agredi. Provem.
O senhor nega que tenha agredido os policiais?
O que eu tenho para dizer é o que as imagens dizem. É uma época em que há um acirramento político, uma precarização do serviço público do Estado, está todo mundo de cabeça quente. Entendo até que se houver responsabilidade contra mim e meu filho, que a gente responda. Agora não podemos ser maniqueístas – o bem e o mal.
O que aconteceu depois?
Eles me torturaram. Eu sei que vou morrer. Eu e o meu filho estamos ameaçados de morte e quem falou não mente. Vieram de duas fontes. Não me preocupo. Não temo. Não vou sair de Caxias. Não vou me esconder. Sou cidadão. Esse é meu lugar e essa é a minha profissão. A minha profissão não permite me acovardar. Após o vídeo, foi muito pior. Um espetáculo de horror.
O senhor foi conduzido direto para a delegacia?
Lá também houve tortura. O delegado Ives Trindade presenciou e autorizou (leia abaixo o contraponto). Eu não tenho medo. Por isso, que vou morrer. Meu filho também vai morrer.
Houve apoio da OAB?
Dois ou três colegas da OAB estiveram lá acompanhando o ato. Foi nesse momento que cessou o "tal do pacotinho". As algemas eles usaram como objeto de tortura. Eles te algemam nas costas e apertam todo o limite da força deles. A partir daí, ajoelham em cima das costas. Tenho a impressão que fizeram isso por mais de 40 minutos. E também apertam aqui (leva as mãos à garganta) e outro dava um mata-cavalo de asfixia.
Contraponto
"Eu não tenho opinião formada sobre isso. Já afirmei para todos os órgãos de comunicação que o inquérito já está sendo instaurado. Não tenho mais nada a dizer a respeito disso".
Comandante do 12ºBPM, o tenente-coronel Ronaldo Buss.
"Se tivesse presenciado algumas coisa, jamais iria compactuar com um tipo de comportamento desses. Tem várias testemunhas que estavam ali. Vários policiais militares, vários policiais civis que podem contradizer essa versão dele sem problema".
Delegado Ives Trindade.