
A situação de insegurança no maior polo de entretenimento noturno de Caxias do Sul, o Largo do Estação Férrea, chegou ao ápice. Somente entre abril e maio deste ano, três pessoas foram baleadas, um jovem foi esfaqueado e uma casa noturna foi assaltada na região, que fica no bairro São Pelegrino.
A Brigada Militar (BM) e a prefeitura da cidade afirmam que existe policiamento constante no Largo. Comerciantes, porém, contratam segurança privada para evitar que criminosos atuem próximo aos estabelecimentos, o que não impede ações em frente aos bares ou no entorno, como no caso do técnico de som Alex Sandro da Silva de Brito, 36 anos, atingido por uma bala perdida. Mas, afinal, quem deve garantir a segurança dos frequentadores do Largo?
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Para o proprietário de um bar localizado na Rua Doutor Augusto Pestana, o descaso dos órgãos públicos tem prejudicado o estabelecimento.
– Sei que a polícia não tem efetivo suficiente para a cidade, mas é preciso que alguém assuma e resolva o problema. De que adianta eu montar um lugar que seja capaz de atrair turistas, se quando eles vêm até aqui são alvos da bandidagem? Isso só afasta as pessoas de bem e dá margem para que os criminosos atuem pela Estação – conta Samir Cabral Madi.
O dono do Mississippi Delta Blues Bar, com entrada pela Rua Coronel Flores, João Antônio Pezzi Bagoso, afirma que o problema existe há anos.
– Já não se pode mais empurrar com a barriga. Em 10 anos que tenho o bar, nunca vi a prefeitura tomar uma providência. Há uma incompatibilidade de poderes. A BM é restrita, mas faz o que pode. E a prefeitura faz o quê? Não adianta retirar flanelinhas ou proibir os jovens de beber na rua. Se querem acabar com essa guerra, que encontrem alternativas capazes de solucionar o problema – desabafa Bagoso.
De acordo com o capitão Amilton Turra de Carvalho, responsável pelo policiamento na região, a Brigada Militar não tem condições de ficar 24 horas com viatura no local.
– É de responsabilidade da BM garantir a segurança da população em vias públicas. No momento não temos como garantir exclusividade à Estação Férrea. Seguimos constantemente trabalhando para encontrar uma forma eficaz de acabar com a ação dos criminosos – ressalta.
Prefeitura prevê monitoramento 24 horas
Segundo Ricardo Fugante Martins, diretor da Guarda Municipal, há um projeto que prevê a instalação de um módulo com segurança 24 horas na região.
– Nós estamos atentos ao que acontece na Estação e seguidamente buscamos alternativas que possam resolver o problema. Estudamos a instalação desse módulo com vídeo monitoramento 24 horas, só que faltam recursos que nos possibilitem a implantação – afirma.
No Largo da Estação Férrea, a Guarda Municipal atua apenas na proteção do patrimônio público. Durante a noite um agente fica dentro da Secretaria da Cultura e não tem poder para influenciar na segurança externa. Recentemente, a prefeitura substituiu algumas lâmpadas por outras mais potentes e colocou duas novas luminárias em pontos mais escuros.
BRECHAS
Sem controle
- Mesmo sendo o maior ponto de encontro de jovens de Caxias do Sul, o Largo da Estação Férrea e ruas próximas não contam com policiamento fixo da BM ou segurança da Guarda Municipal. Essa é uma opção das autoridades possivelmente porque o efetivo empregado pelas duas corporações é menor à noite. Contudo, grandes shows ou eventos como a Festa da Uva geralmente contam com uma atenção maior do poder público. Essa mesma atenção poderia ser direcionada para a Estação Férrea, que também atrai público numeroso.
Infiltrados
- Dependendo da época do mês, é comum ver centenas de jovens reunidos nas calçadas e nas esquinas. Mesmo que a BM realize abordagens em alguns momentos, traficantes, viciados em drogas, flanelinhas e baderneiros se infiltram entre os frequentadores de bem e agem assim que a polícia sai de cena.
Sem dono
- Seguranças das casas noturnas não têm autorização para atuar na rua. Na prática, da porta para fora dos estabelecimentos, quando não há polícia, a Estação Férrea vira território sem dono. Sem vigilância, é possível constatar infrações de trânsito, menores consumindo bebidas, uso de drogas e provocações entre grupos. Criminosos inclusive se sentem empoderados para assaltar ou acertas contas com desafetos, a exemplo dos casos registrados neste ano.