Oito meses depois de ter as duas pernas amputadas por conta de uma vasculite, o caxiense Jedimar de Oliveira, 37 anos, começa a dar os primeiros passos. As próteses que agora o mantêm em pé foram instaladas com a mesma técnica utilizada em implantes dentários.

A chamada osteointegração implantou na tíbia de Oliveira uma haste metálica e as próteses foram acopladas diretamente nela, o que facilita a adaptação e garante movimentos muito próximos dos naturais.
Diferentemente das próteses convencionais, que encaixam a perna artificial no coto, a instalação da peça de titânio diretamente no osso aumenta a percepção do amputado.

Mas, antes que pudesse colocar seus novos pés no chão, o caxiense precisou passar por uma série de treinamentos que a fisioterapeuta Alexandra Renosto resumiu em “reaprender a caminhar”:
— Não é exagero dizer que ele precisou reaprender a caminhar. Ele ainda está, inclusive, em processo de aprendizagem. Precisamos respeitar a integração do osso com o implante e começamos de forma progressiva a soltar o peso dele nas próteses. Antes disso, fizemos um reforço de membros superiores, tronco, abdominal e quadril.
O protocolo utilizado no pós-operatório foi cercado de cuidados por se tratar do primeiro paciente brasileiro a ter as próteses instaladas nas duas pernas. Coube à coordenadora do curso de Fisioterapia do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG) administrar também a ansiedade de Oliveira, que mostrava evolução a cada sessão das três semanais que realizava:
— O biotipo dele ajudou muito a amputação abaixo do joelho e a força de vontade. Se mostrou uma inspiração — definiu Alexandra.

Com um encaixe idêntico àquele que regula a altura dos bancos de uma bicicleta, Oliveira pode retirar e colocar as próteses em segundos. Tem feito isso para dormir, por exemplo, e com elas instaladas pode, aos poucos, voltar a fazer coisas comuns, como tomar banho e dirigir.
— O que mais me perguntam é se sinto dor, e não, não sinto nada. É como se a minhas pernas ainda estivessem aqui. Desde que instalamos as próteses tenho a consciência de onde estou pisando — disse.
A inovação da osteointegração
As técnicas de osteointegração surgiram na década de 1990, na Suécia. Inspirado nos implantes dentários, o procedimento foi adaptado para a medicina. No entanto, o alto custo dos materiais necessários impediu que a técnica fosse utilizada no Brasil antes. O responsável por trazer esse novo modelo de implementação de próteses ao país foi o ortopedista Marcelo Souza e o protesista Tiago Bessa.
Souza realizou o primeiro procedimento utilizando a osteointegração em 2022, em uma paciente que teve a perna direita amputada após apresentar câncer ósseo. Desde então, 24 procedimentos utilizando essa técnica foram realizados em diversos Estados do país e na Argentina, sendo o de Caxias do Sul o mais recente.