
O Dia Mundial da Água, celebrado todo dia 22 de março, é uma data essencial para a reflexão sobre a importância de um dos recursos vitais para a existência da vida no nosso planeta. Instituído pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1992, ele busca conscientizar a sociedade sobre a importância da água, a necessidade de preservá-la e de garantir seu uso sustentável para as gerações futuras.
Como forma de refletir sobre o tema, o diretor do Instituto de Saneamento Ambiental (ISAM) da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Juliano Rodrigues Gimenez participou, neste sábado (22), do programa Gaúcha Hoje, da Rádio Gaúcha Serra. Entre os assuntos abordados, estão questões como cuidado com a água, saneamento ambiental e crises climáticas.
Gimenez é engenheiro civil, doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, conselheiro do Conselho Municipal de Saneamento Ambiental e do Conselho Estadual de Saneamento, e membro do Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática do Estado do Rio Grande do Sul.
Ouça, abaixo, a entrevista completa:
Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista:
Gaúcha Serra: Por que é importante termos um Dia Mundial da Água e quais são os principais desafios que ainda precisamos superar, tanto no Brasil, mas também em Caxias do Sul e região?
Juliano Rodrigues Gimenez: O Dia Mundial da Água é um evento promovido pela Organização das Nações Unidas com o foco de termos um dia para celebrarmos, para lembrarmos desse bem, desse recurso essencialmente vital para nós seres humanos, para o planeta Terra, para os ecossistemas vivos como um todo. A água é elemento muitas vezes de poesia, de música, inclusive utilizada em atos religiosos nas mais diversas culturas, seja para o batismo, seja para significar algo relativo à paz, à tranquilidade, à limpeza, à purificação. No nosso cotidiano, a água é usada de forma diária e constante. Sem água, não sobrevivemos, e a nossa dependência desse recurso é absolutamente fundamental. Não há condições de vida sem esse recurso.
E nós passamos por momentos de excessos de chuva que foram avassaladores. O efeito da crise climática dada pelo excesso de chuva foi bastante evidente no nosso estado. Ao mesmo tempo, também há o efeito das estiagens. Então, é importante que a gente reflita e pense qual o nosso papel frente a esse recurso, analisar o que podemos fazer, individualmente e coletivamente, para melhor gerir a água, e como ela nos afeta de forma tão significativa quando ele se excede ou quando ela falta.
Um estudo divulgado nessa semana comprovou o tamanho de um dos maiores desafios do Brasil. A falta de saneamento básico causou a internação de mais de 300 mil cidadãos em 2024. Como resolver essa questão do saneamento básico nos municípios? É um problema que se vê uma solução a curto prazo?
Nós segmentamos o saneamento em quatro grandes dimensões. Quais são eles? Abastecimento de água, que é o mais essencial, pois precisamos de água em condições sanitárias adequadas para bebermos em nossas casas. A segunda grande dimensão é o esgotamento sanitário, pois a água dilui os nossos resíduos domésticos e leva eles para as estações de tratamento de esgoto, e depois devolvem ao recurso hídrico. Então, a necessidade de tratarmos bem os nossos esgotos é fundamental. Hoje, em Caxias do Sul, especificamente, tem uma situação que vai para além da média nacional de mais de 70% do esgoto coletado, afastado e tratado. Isso é muito positivo, mas não paremos por aí. A realidade brasileira e estadual precisa avançar muito com relação a isso.
A terceira dimensão são os resíduos sólidos. Já a quarta dimensão do saneamento é o esgotamento das águas da chuva, que chamamos tecnicamente de drenagem das águas pluviais. Esse nos afeta muito diretamente quando as estruturas de drenagem não são suficientes para fazer o deslocamento das águas da chuva. De forma geral, essas quatro grandes dimensões são essenciais para as nossas condições de qualidade de vida nos meios urbanos e nos meios rurais. Então, precisamos dar atenção. E a nossa dívida com relação a isso é bastante grande. Temos muito trabalho a fazer pela frente.
Quanto que as mudanças climáticas estão exigindo e vão exigir cada vez mais que a gente tenha uma relação diferente com a água?
O Instituto de Saneamento Ambiental da Universidade de Caxias do Sul tem uma relação com diversos municípios da região e até fora da região. Elaboramos objetos de planejamento como os planos municipais saneamento, de gestão integrada de resíduos sólidos, de recuperação e conservação do bioma mata atlântica, ambientais, e, agora, os planos municipais de ações climáticas. Ou seja, já estamos partindo para um aspecto de contribuir com os municípios no planejamento do seu enfrentamento a essa condição que estamos vivenciando, que são as mudanças climáticas, que não estão aí para brincadeira. É algo que nós, infelizmente, já falávamos há mais de uma década de que isso em algum momento iria nos assolar e causar prejuízos bastante evidentes, e estamos vendo aí nesses últimos cinco anos de uma forma muito mais acintosa.
O efeito das grandes cheias e das grandes estiagens que estão cada vez mais severas é tão verdade que nos últimos três anos tivemos os maiores recordes registrados na história de elevação de temperatura e de grandes quantidades de chuvas. Então, a atenção, a observação e a ação com relação à questão das mudanças climáticas é absolutamente necessária. O elemento água, sem dúvida, é afetado diretamente, seja pela condição de excesso ou de falta, e precisamos observar e agir imediatamente em relação a isso. Hoje o Instituto de Saneamento Ambiental tem contratos firmados com 18 municípios dos quais estamos elaborando planos das mais diversas ordens, inclusive planos de ações ao combate das mudanças climáticas.
Pensemos na água com carinho, zelo, poesia, música, mas também com um olhar técnico e atento, pois nós dependemos dela e as futuras gerações também dependerão.