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Empossado na última terça-feira (18) como novo comandante do Comando Regional de Polícia Ostensiva da Serra (CRPO/Serra), o coronel Ricardo Moreira de Vargas falou ontem no programa Gaúcha Hoje, da Gaúcha Serra, sobre as prioridades à frente do batalhão, que abrange 19 municípios da região.
Vargas assume o posto do coronel Eduardo Cunha Michel, que deixa o CRPO após 11 meses de atuação. O novo comandante esteve recentemente à frente do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM) em Caxias do Sul e, agora, pretende replicar ações que tiveram êxito para as demais cidades. Vargas também traz a experiência da passagem por diversos outros setores da Brigada Militar, como a Inteligência e a Corregedoria-Geral.
Aprimorar o atendimento à população e dar atenção especial ao que ocorre dentro dos presídios também foram citados como prioridades do novo comandante do CRPO/Serra:
— A gente sabe que muita coisa que acontece nas ruas é reflexo do que está sendo decidido ou autorizado nos presídios. Pretendemos trabalhar com integração e inteligência.
Gaúcha Serra: Quais os seus planos gerais para a Brigada Militar neste novo desafio, já que o senhor tem um grande conhecimento, com um trabalho e uma vivência grande na comunidade de Caxias?
Ricardo Vargas: Conversamos bastante com os comandantes de batalhão e pretendemos ter essa interlocução com eles. Assim como tivemos essa experiência no 12º BPM, eles possuem essa vivência local, nas suas cidades, para trabalhar a questão das estratégias no combate ao crime, tentando desenvolver sempre aquilo que conseguimos consolidar em Caxias do Sul.
Sabemos o que queremos enfrentar, agora são mais 18 municípios além de Caxias. E são regiões muito diferentes umas das outras, mas com o mesmo objetivo, que é tornar a Serra mais segura. Acreditamos que sempre há espaço para aprimoramento, para melhorias, ainda mais na área da segurança.
O que o senhor pode destacar de característica da criminalidade nos 19 municípios do CRPO?
Eles possuem peculiaridades, principalmente na questão dos grupos criminosos. Vamos colocar uma lupa, em conjunto com as demais secretarias e instituições, na questão prisional. Temos características diferentes das nossas cadeias. A gente sabe que muita coisa que acontece nas ruas é reflexo do que está sendo decidido ou autorizado de dentro dos presídios. Pretendemos trabalhar com muita integração e inteligência, colocando a qualificação dos profissionais que atuam nessa área. Pretendemos dividir a nossa gestão no CRPO em ações estratégicas, com eixos bem definidos, principalmente no combate ao crime, que é o que vem sendo feito diretamente. Isso foi feito no 12º BPM, por conta daquela onda de crimes violentos, letais e intencionais que assolavam a Caxias do Sul.
Temos também a ideia de avançar em outros eixos, de política social, preventiva e transversal, em relação a fortalecer a integração com a sociedade e as ações de segurança pública com impacto na melhoria da condição de vida e da convivência das famílias. Isso significa a necessidade não apenas de reduzir os indicadores, mas de efetivamente aumentar a segurança. Precisamos bater nessa tecla, o 190 precisa ser um atendimento que faça com que o cidadão se sinta realmente atendido. E isso envolve a questão de trabalho, de conversa com os profissionais e, principalmente, de ter as condições necessárias para que aquelas pessoas também se sintam bem naquele ambiente de trabalho e possam desenvolver o seu melhor.
Em relação à questão de dados da segurança, o que é apresentado para a Serra como estatística? O que pode ser apontado ainda como a necessidade de mais trabalho?
Muitas metas já foram atingidas, precisamos atingir algumas dentro de determinado indicador. Por exemplo, nos homicídios. Temos que ter um olhar diferenciado para a questão dos feminicídios. Tivemos em Caxias recentemente a prisão do autor de um possível atentado contra uma menina de 13 anos, em que ele sai do veículo com uma faca, vai em direção a ela e retorna. E, um trabalho rápido da inteligência foi possível identificar e prender o suspeito. É um trabalho intenso, preventivo, que visa não apenas reduzir os indicadores, mas trazer mais sensação de segurança.
E isso passa também por tratar a questão com um colegiado dos nossos prefeitos, para que possamos ter um plano de recomposição de efetivo na Serra, fazendo por metas, colocando as necessidades de cada município, procurando colaborar com o preenchimento por etapas.
Em questão de integração, em Caxias do Sul temos o Ciop, que reúne forças de segurança. Essa é uma questão que precisa de avanço em outros municípios abrangidos pelo CRPO?
Todas as ações integradas são bem-vindas. A Brigada Militar sempre vai participar para compor, ajudar a qualificar. Acho que essas iniciativas que vieram, como é o caso do Ciop, são interessantes porque partem de um pressuposto de maior tecnologia disponível. Se criou o Ciop em Caxias e a tecnologia serve também para que a gente realize com mais qualidade as prisões. Ela não serve somente para a Polícia Ostensiva, também serve para a Polícia Civil, porque o cercamento eletrônico robustece a prova penal depois no inquérito concluído. Isso é muito importante para nós.
Temos hoje em dia que trazer inovações, inclusive de outros países, para que esses centros integrados de prestação de atendimento à população, tanto com o despacho de viatura, atendimento do telefone de emergência, tudo seja qualificado. É um dos eixos que a gente procura tratar, que é a qualificação do atendimento. Isso repercute numa redução do tempo de resposta, da distribuição dos efetivos nas cidades. Isso passa pela integração, por esse apoio que as prefeituras colocam nesses centros. Passa pelo dia a dia da convivência dos policiais trocando informações e por uma análise de todo o contexto que envolve o atendimento.
Como fazer para tornar mais efetivo, por exemplo, o uso da tecnologia em casos de feminicídio?
Por parte da Brigada Militar já temos, em conjunto com a Polícia Civil, com o Poder Judiciário e com o Ministério Público, o programa de monitoramento do agressor. Então, já é determinado que aquele agressor use a tornozeleira. Tem que efetivamente estar disponível para que aquele autor seja monitorado e a partir dali tenha condições de a gente trabalhar a prevenção.
Esse sistema é muito ágil, ele parte do pressuposto de que se houver aproximação do autor a vítima acione o 190 no sentido de um policial militar atender a ocorrência. Só que é um número diferenciado, que permite um atendimento mais exclusivo e focado na questão da mulher. Já temos em Caxias o programa de monitoramento do agressor e já temos casos de sucesso. Temos que trabalhar e ampliar esse programa.