Uma das escritoras mais premiadas e respeitadas mundialmente na literatura infantojuvenil, Marina Colasanti morreu nesta terça-feira (28), no Rio de Janeiro, de complicações da doença de Parkinson. Filha de italianos, ela era amiga do escritor caxiense Volnei Canîonica e esteve em Caxias do Sul participando de eventos literários, incluindo a Feira do Livro, como em 2009 e 2017.
Leitor habitual das obras da escritora, Canônica conheceu Marina quando ele trabalhou, em 2008, na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), no Rio de Janeiro. Acabou se tornando referência na obra da artista, ministrando especializações sobre os livros da escritora.
— Eu sempre chamei ela de a grande dama da literatura brasileira. Porque a Marina era uma pessoa muito generosa. Generosa com a sua obra, com a sua literatura. Comentávamos que éramos da família. Mediei muitos eventos, incluindo internacionais, com a presença dela. Jantávamos juntos, viajávamos juntos. Em janeiro, ia vê-la, mas como estava se recupeando de uma pneumonia, resolvemos não nos encontrarmos — descreve.
Na visita, ele levaria um presente para ela: uma echarpe da China de uma ilustradora que foi finalista do prêmio Hans Christian Andersen, que Marina também foi indicada. A ideia era tentar novamente entregar o lenço no mês que vem, quando ele estará no Rio de Janeiro. Presentear a escritora era algo rotineiro e Canônica costumava atender a um pedido de Marina que tem o gosto e a tradição da Serra.
— Sempre que nos víamos, quando eu ia para o Rio, ela pedia para eu levar capeletti. Porque ela sempre me dizia: "não sei como você consegue ficar um dia sem a sopa de capeletti" — recorda.
A parceria entre os dois rendeu um convite, em março de 2020, para que a escritora viesse a Caxias do Sul. Ela foi homenageada no painel "Entre a espada e a rosa". O evento reuniu mais de 30 mulheres da região para refletir sobre a trajetória feminina na história, suas lutas, conquistas e novos horizontes.
Durante a vista, ela foi entrevistada ao vivo no Jornal do Almoço, da RBS TV sobre o assunto e reforçou a bandeira pela igualdade de gênero.
— Percebe-se uma evolução, mas não chegamos onde queremos. Os salários são menores, a presença (das mulheres) no topo das pirâmides é rara e a presença da política deixa a desejar. As mulheres devem soltar a voz, declarar-se feminista, ser a favor da igualdade — reforçou.
Entre as boas memórias, Canônica relembrou um episódio, em 2019, quando Marina parecia sentir a hora de se despedir.
— Durante um bate-papo na Feira do Livro de Bolonha (na Itália), eu fiz uma brincadeira com as obras dela. Ela escreveu um livro chamado Ana Z. Aonde vai você?. E eu perguntei: "Marina, aonde vai você?". E ela disse, categoricamente: "eu vou para a morte. Esse é o meu caminho agora." Marina é uma pessoa que falava sobre a morte em seus textos para discutir a potência que é a vida — afirma.
Autora de mais de 70 obras
A escritora Marina Colasanti é autora de mais de 70 obras destinadas a crianças e adultos. A informação sobre a morte foi confirmada pelo Parque Lage, onde o corpo será velado.
Conforme o g1, a cerimônia de despedida está marcada para a manhã desta quarta-feira (29).
Reconhecida como autora de poesias, contos, literatura infantil e infantojuvenil, a escritora também teve destacada atuação como jornalista e tradutora.
Em 2023, ela se tornou a 10ª mulher a receber o renomado Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, uma das maiores honrarias literárias do Brasil. O prêmio foi dado em homenagem ao conjunto de sua obra, caracterizada como vasta, atemporal e inesquecível.
Nascida em 26 de setembro de 1937, em Asmara, capital da Eritreia, Marina passou parte da infância em Trípoli, na Líbia, e na Itália. Após a Segunda Guerra Mundial, em 1948, ela e a família emigraram para o Brasil, estabelecendo-se no Rio de Janeiro.
O primeiro livro dela foi publicado em 1968. Ao longo de sua trajetória, Marina lançou mais de 50 títulos no Brasil e no Exterior, abrangendo poesia, contos, crônicas, literatura infantil e juvenil, além de ensaios sobre literatura, questões femininas, arte, problemas sociais e amor. A paixão pela literatura também permitiu que ela explorasse o talento como artista plástica, ilustrando as próprias obras, que têm sido objeto de inúmeras teses acadêmicas.
Carreira no jornalismo
Em 1962, Marina iniciou a carreira no Jornal do Brasil, onde atuou como redatora, cronista, colunista, ilustradora e subeditora. Foi editora do Caderno Infantil e colaborou com o Suplemento do Livro, escrevendo diversas resenhas. Também foi editora da seção Segundo Tempo, do Jornal dos Sports, e permaneceu no Jornal do Brasil até 1973.
Posteriormente, Marina contribuiu com publicações como as revistas Senhor, Fatos e Fotos, Ele e Ela, Fair-play, Cláudia e Joia. Em 1976, ingressou na Editora Abril, onde exerceu o cargo de editora de Comportamento na revista Nova, conquistando o Prêmio Abril de Jornalismo em 1978, 1980 e 1982. Em 1986, escreveu crônicas para a revista Manchete e, em 1992, encerrou a atuação na Editora Abril.
Entre 2005 e 2007, Marina publicou crônicas semanais no Jornal do Brasil, e entre 2011 e 2014, no jornal Estado de Minas.
Televisão
Na TV, Marina desempenhou diversas funções. Foi entrevistadora dos programas Sexo Indiscreto, na TV Rio, e Olho por Olho, na TV Tupi. Também atuou como editora e apresentadora do noticiário Primeira Mão, na TV Rio, além de ser apresentadora e redatora do programa cultural Os Mágicos, e âncora dos programas Sábado Forte e Imagens da Itália, na TVE, este último patrocinado pelo Instituto Italiano de Cultura.
Obras
- Eu Sozinha (1968)
- Nada de Manga (1975)
- Zoológico (1975)
- A Morada do Ser (1978)
- Uma Ideia Toda Azul (1978)
- Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento (1978)
- A Menina Arco-Íris (1984)
- O Lobo e o Carneiro no Sonho da Menina (1985)
- E Por Falar em Amor (1985)
- O Verde Brilha no Poço (1986)
- Contos de Amor Rasgado (1986)
- Um Amigo Para Sempre (1988)
- Aqui Entre Nós (1988)
- O Menino Que Achou Uma Estrela (1988)
- Cada Bicho Seu Capricho (1992)
- Um Amor Sem Palavras (1995)
- Longe Como o Meu Querer (1997)
- Gargantas Abertas (1998)
- Fragatas Para Terras Distantes (2004)
- Uma Estrada Junto ao Rio (2005)
- Acontece na Cidade (2005)
- Minha Ilha Maravilha (2007)
- Passageira em Trânsito (2010)
- Hora de Alimentar Serpentes (2013)
- Como Uma Carta de Amor (2014)
- Mais de Cem Histórias Maravilhosas (2015)
- Melhores Crônicas — Marina Colasanti (2016)
- Tudo Tem Princípio e Fim (2017)