O programa Gaúcha Hoje, da rádio Gaúcha Serra, entrevistou nesta quinta-feira (30) o diretor de Relações Institucionais da Randoncorp, Joarez Piccinini, para falar sobre a participação da empresa Randoncorp no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, realizado até a última sexta-feira (24). Confira a entrevista:
Gaúcha Serra: A Randoncorp, como em outros anos, esteve presente no Fórum Econômico Mundial. Como foi essa experiência dentro do Brazil House, um espaço criado com o objetivo de fortalecer o papel brasileiro no cenário, com grandes marcas do país, e representar o Brasil de uma forma oficial?
Joarez Piccinini: Nós já participamos nos últimos anos, como você disse. Daniel Randon e eu conversamos, inclusive, com outros grandes empresários, o próprio pessoal do BTG. Nós percebíamos que vinham falas, em altíssimo nível, de presidentes, ministros de países do mundo todo, da Ásia, Oriente Médio. As falas eram sempre eles enaltecendo coisas dos seus países, e quando comparávamos com o que nós temos no Brasil para ser enaltecido e levado para esse fórum, nós percebemos que temos muito mais para mostrar. Se focar só em Randoncorp, nós temos realizações e inovações absolutamente fantásticas comparadas com o que se tem no mundo. O eixo elétrico é um exemplo, no qual conseguimos, com ele, uma redução de até 25% do consumo de combustível, e, consequentemente, redução de CO2, redução de custo operacional, e sentíamos falta de um local onde pudéssemos levar essa mensagem de uma visão de muito mais longo prazo. Nós vivemos em uma democracia, e a alternância de poder é uma coisa muito boa, então, a cada momento, os representantes dos poderes da república levam a agenda deles, que é uma agenda que não necessariamente reflita exatamente o que temos feito na indústria, eles não têm também os detalhes que a gente tem. Então, sentíamos que seria muito importante que tivéssemos representantes de empresas relevantes, como o Randoncorp, que tem uma presença global e também crescendo a nossa presença internacional. É mais uma razão pra gente estar participando, estar presente, estar conectado com essas autoridades, e representantes de organismos internacionais, governos, quando a gente tem essa expansão internacional. A nossa iniciativa, e de muito sucesso, nessa parceria com essas empresas. Então, essa parceria atraiu pro Brazil House, que trouxe personalidades, como os ministros de países. Tivemos eventos, painéis, o Daniel participou de diversos painéis, eu também participei, no qual pudemos levar essas informações e mostrar um Brasil, que é o Brasil que efetivamente dá a sustentação de crescimento que a gente tem tido, agronegócio, etc.
E o que se discutiu?
Então, extremamente alinhado com pautas que são hoje relevantes, como inteligência artificial, que evidentemente está em todos os debates, mas tem uma coisa que o Brasil tem, que é destaque. O mundo tem algumas preocupações, destacando duas, a segurança alimentar e a segurança energética, justamente nessa transição energética, no qual o Brasil tem uma matriz de energia, uma matriz elétrica de quase 90% renovável, uma matriz aproximadamente 50% limpa, três vezes acima da média mundial, quatro vezes acima dos países da OCDE. Enfim, tivemos a oportunidade de enaltecer essas questões e elas conectadas com as atividades nossas, da Randoncorp, especificamente, com produtos que têm um tremendo impacto e que levam a essa transição energética de maneira suave e sustentável.
A questão da transição energética tem se tornado cada vez mais presente nesses fóruns mundiais, assim como qualquer evento que reúne organismos internacionais. O Fórum de Davos acabou coincidindo com o início do governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, que mudou radicalmente a política energética por lá. Esse encaminhamento por uma eletrificação, por uma transição energética, é uma oportunidade para o Brasil, para empresas como a Rodoncorp e para outros países do mundo, num momento em que os Estados Unidos tendem a reforçar os combustíveis fósseis? E como foi o clima em Davos a partir desse início do governo Trump?
Em relação à fala do Trump, ele não estava presencialmente, mas a fala não surpreendeu, já que tem sido alinhada com o que ele vem falando ao longo do tempo. Em relação a essa questão da transição, você usou o termo certo. É um processo em que vão conviver as energias por muito tempo. A energia, o combustível, o petróleo, são uma energia barata, muito eficiente, evidentemente tem um efeito que é a emissão de gases de efeito estufa, que tem a emissão de CO2. Mas tem muitos avanços tecnológicos, como nós temos aqui no Brasil, por exemplo, os caminhões a diesel. Hoje o nível de poluição comparado com os caminhões, os motores a diesel antigos, são muito, muito, muito menores.
E qual é a diferença?
A Randoncorp entende que um veículo, no deslocamento urbano, pode ser 100% elétrico. Mas em uma viagem longa, ele não tem condições de ser 100% elétrico. Aí entra o nosso eixo regenerativo, elétrico e combinado com caminhões, inclusive nós lançamos na Fenatran uma parceria com a Volkswagen Caminhões Brasil, a colocação de um cavalo-trator com eixo, com tração pelo motor a diesel e um eixo com a tração do nosso sistema ICIS, de regeneração de energia cinética que se converte em potência. Ou seja, ali foi lançado um caminhão híbrido sem que tenha necessidade de consumir energia da rede de produção de energia do país, porque ele regenera a energia dele. Então é um processo que a gente desenvolveu, porque ele regenera uma energia que seria dispersa no meio ambiente a partir do calor. A fricção gera um calor enorme, às vezes a gente vê caminhões descendo a serra, soltando fumaça aquecida. Essa energia, os nossos engenheiros cientistas identificaram uma oportunidade de não só liberar calor no meio ambiente, mas de capturar essa energia e converter em tração. Então, essa transição não dispensa o petróleo. O petróleo tem o seu papel e tem reservas enormes, o Brasil, inclusive, ele precisa ser bem aproveitado e usar de uma maneira que não seja tão poluente. Então, assim, sem entrar numa agenda muito radical de um lado para o outro, nós temos as nossas visões e metas e nós não vamos mudar as nossas metas porque temos muita convicção e muita consistência na nossa proposta e nas nossas entregas. Mas, evidentemente, de novo, lá como aqui, tem alternância de poder e as conversas, os discursos e as visões, elas diferem uma da outra.
O Fórum Econômico Mundial tem esse peso muito importante dentro do debate da questão da transição energética e de preservação do planeta, mas também tem o debate econômico em si, das políticas econômicas, da movimentação econômica do mundo. Nesse aspecto como foram as conversas em Davos?
Antigamente, o Fórum de Davos era um fórum que tratava estritamente de economia. Às vezes, tinha até uma peça de capitalismo. As questões geopolíticas, vemos que tem uma espécie de acomodação. Não há interesse no mundo, não há interesse de ter um conflito bélico, não há interesse. O que tem são essas disputas e negociações comerciais, via tarifa, via imposição de restrições e vemos que as coisas tendem a se acomodar. Vemos uma China que surpreendeu recentemente com aquela empresa de inteligência artificial que gerou um impacto gigante no mercado de ações. A China é um país que tem uma evolução tecnológica gigante e está se voltando mais para o mercado interno dela, que é gigante também. Então, ela vai continuar sendo importante. O Brasil terá a China como um importantíssimo parceiro comercial, até porque exportamos produtos alimentares e a população chinesa, a classe média chinesa, está crescendo e está ampliando. E eles vão continuar consumindo os nossos produtos. Então, tem uma pequena mudança em relação a um principal player desse mercado, para nós super importante, a China, deixa de ser aquele grande exportador para o mundo. Não é que deixa de ser, ela diminui o crescimento dela na exportação para o mundo e se volta um pouco mais para o mercado interno dela, que é gigante.
E isso afeta o país?
Para nós afeta um pouco, mas não afeta tanto. Afeta talvez alguns commodities minerais, mas as commodities agrícolas, ao contrário, a demanda é crescente, porque tem uma população que tem um poder aquisitivo maior, a classe média se amplia e amplia em níveis muito relevantes e isso gera para nós uma tranquilidade muito grande. Nós temos uma condição em que se tiver algum atrito entre Estados Unidos e China, o Brasil tende a se beneficiar. A Europa tem grandes desafios, é uma economia com seus desafios e talvez nesse jogo de forças entre Estados Unidos e Brasil, a Europa talvez é a que mais se prejudica. Não vemos o Brasil sendo prejudicado por essa movimentação desses big players globais.
Vem sendo discutido nos últimos tempos sobre o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Isso foi debatido lá?
São muitos painéis que acontecem simultaneamente. Não teve nenhuma condição onde pudéssemos explorar isso ou ouvir isso ser elaborado mais profundamente. É tema de debate, sim. Tivemos painéis, ex-ministros, membros que negociaram essas negociações bilaterais, ou de acordos de bloco, mas não teve nada assim que está naquele cenário em que nós vimos. Ele tenderá a avançar, mas ele sempre tem visões diferentes, uma visão de governo, uma visão de empresas. Não foi um tema que se pudesse extrair de lá. O que a gente pode extrair disso das conversas? Não foi algo que se discutiu à exaustão para poder ter uma opinião.
Ouça a entrevista: