O projeto de implantação de uma usina de geração de energia na Serra entrou em uma nova e importante fase. Trata-se dos trâmites para implantação de um equipamento de testes junto ao aterro sanitário Rincão das Flores, em Caxias do Sul. O processo teve início a partir de uma reunião realizada na última quarta-feira (11) entre os municípios da região envolvidos no projeto e a Universidade de Caxias do Sul (UCS), responsável pelos estudos.
A geração de energia a partir dos resíduos ocorre por meio de processos como a pirólise, que decompõe materiais por meio do calor e resulta em combustível líquido e também em uma espécie de biocarvão, que pode ser utilizado na produção de biofertilizantes. Outro tratamento é a biodigestão do chorume (o líquido gerado pelo lixo) que resulta em gás que pode ser utilizado como combustível.
As primeiras conversas para se desenvolver novas tecnologias para destinação dos resíduos sólidos na região tiveram início em 2019. Os trabalhos, contudo, começaram nos primeiros meses de 2022, com a análise do lixo recolhido na região.
Em março de 2023, os responsáveis pelo desenvolvimento concluíram a documentação para solicitar a Licença Ambiental Prévia (LP). O documento dá as diretrizes para a projeção do equipamento e já foi emitido pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).
Agora, o projeto entra na chamada fase 2, que é dividida em três etapas. A primeira, que teve início a partir da reunião da última quarta, consiste em elaborar o pedido da Licença Ambiental de Instalação (LI) da usina de testes. Também emitido pela Fepam, esse é o documento que autoriza a construção. A primeira etapa também contempla a elaboração do restante da documentação necessária.
— O protocolo de solicitação da Licença de Instalação na Fepam deve ocorrer no máximo até junho do ano que vem. Nossa meta é ter ela liberada em 2025 — projeta o professor Marcelo Godinho, coordenador técnico do programa e responsável pelo Laboratório de Energia e Bioprocessos da UCS,
A etapa 2, consiste na projeção e construção da usina em si, que deve ser realizada por uma empresa contratada. Já a etapa 3 envolve a operação da unidade de teste e a análise dos resultados.
A avaliação do funcionamento da planta piloto dará à Fepam subsídios para o licenciamento ambiental de uma futura usina em escala industrial, que permitirá à região ter uma nova fonte de energia a partir de resíduos que atualmente são descartados. Além de dar um encaminhamento mais ecológico ao lixo, a medida permitirá redução de custos à maior parte dos municípios que atualmente encaminham os resíduos a outras cidades.
Parceria com municípios
Embora desenvolvido pela UCS, o projeto conta com apoio de municípios da região, também interessados em utilizar a futura estrutura para destinação dos resíduos. Na primeira fase, 32 municípios contribuíram com os estudos.
Para a segunda fase, seguem engajadas as cidades de Caxias do Sul, Gramado, Flores da Cunha, Nova Petrópolis, São Marcos e Serafina Corrêa. Juntas, elas reúnem 595.872 habitantes. A prefeitura de Caxias já formalizou o novo convênio com a UCS.
Entenda o projeto
- O projeto Resíduos Serra (RS UP) constitui-se no desenvolvimento de alternativas tecnológicas que buscam a destinação sustentável de resíduos sólidos urbanos (RSUs), transformando-os em energia e produtos.
- A partir do processo de pirólise (decomposição térmica na ausência ou deficiência de oxigênio) podem ser obtidos como produtos o char, o óleo de pirólise e o gás de síntese, enquanto no processo de pirólise combinado com reforma catalítica também pode ser obtido o hidrogênio (H2). Já no processo de biodigestão de lixiviado pode ser obtido biogás ou, ainda, biometano.
- O RS UP é uma iniciativa idealizada pelo Conselho Regional de Desenvolvimento da Serra (Corede Serra), pelo Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha (Cisga) e pela Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), responsáveis pela governança do projeto.