Desde maio, quando a intensa chuva atingiu todo o Rio Grande do Sul, sete famílias de indígenas kaingangs, foram retiradas pela Defesa Civil de Caxias do Sul da aldeia próximo da Vinícola Onzi, em Forqueta. A remoção ocorreu por riscos de deslizamento de terra no local. No último dia 17, fez cinco meses que o grupo deixou o local.
Depois de ficarem um curto período no salão comunitário do loteamento Vale da Esperança, no bairro Reolon, as famílias foram alocadas em duas casas, cedidas pela subprefeitura de Forqueta. Os imóveis ficam na Rua Alcides Lazzari, no terreno dos fundos da UBS da comunidade.
Apesar de parte da aldeia já ter sido liberada pela Defesa Civil, as famílias optaram por permanecer nas casas cedidas. Conforme o cacique Altair Santos, o retorno não é possível devido às condições precárias das casas na aldeia.
— Os telhados estão com problema. Chove dentro das casas igual chove lá fora. Quando deu aquela chuva mais forte em maio, a gente perdeu muitos móveis, perdemos muitas coisas que acabaram estragando – conta.
As sete famílias kaingangs residiam no local desde agosto de 2021. O grupo chegou a Caxias do Sul vindo da BR-386, em Estrela, onde uma aldeia estava assentada. Com a duplicação da rodovia, parte das famílias foi alocada em outras áreas, como a aldeia de Forqueta, que abrigava 23 pessoas.
As residências em que as famílias estão alocadas apresentavam problemas no telhado. Lonas foram instaladas pela Prefeitura para evitar que a água entre em dias chuvosos. No entanto, a estrutura ainda não condiz totalmente com as necessidades das famílias.
Rosane Couto, 47 anos, é uma das moradoras da aldeia alocada nas casas cedidas pela subprefeitura. O espaço em que ela está, uma antiga garagem, não conta com banheiro.
— Quando preciso, vou na casa ali do lado. É ruim, porque não é a casa da gente. Ajeitamos as coisas para ficar por enquanto aqui. Estamos recebendo cesta básica do Banco de Alimentos e da Funai, porque não estamos indo vender os artesanatos — relata.
Novas moradias
No início do ano, os indígenas haviam iniciado as obras de novas moradias para alocar as famílias. As casas estavam sendo construídas através de uma permuta com uma madeireira.
— A gente fez um acordo com o dono. Ele vinha buscar madeira de eucalipto em uma parte aqui da aldeia. Em troca ele entregava a madeira pronta. Foi tudo combinado com a permissão da Funai. Mas depois de maio, as estradas que levam até os eucaliptos ficaram com problemas e o dono da madeireira não quis mais pegar a madeira — explica.
A retomada das obras deverá ser feita pela prefeitura de Caxias do Sul. Conforme o coordenador da Defesa Civil de Caxias do Sul, tenente Armando da Silva, a administração aguarda a entrega de um laudo técnico, que irá indicar se a área em que as casas estavam sendo construídas não corre mais risco de deslizamentos de terra.
— Acredito que a empresa entregue logo o laudo. Precisamos dele para saber se é necessário fazer um muro de contenção no local antes de colocar as novas habitações para restabelecer a vida deles — explica.
Segundo o coordenador da Defesa Civil, a administração está participando de reuniões com o Ministério Público Federal para tratar do assunto. O procurador que cuida do caso, Rapahel Gorgen, do 2º Ofício da Procuradoria da República de Erechim, foi procurado pela pela reportagem, mas não se manifestou até o fechamento deste texto.