Na tarde da quarta-feira (22), Sandra Regina Belotti, 66 anos, levou a uma lavanderia, no centro de Caxias do Sul, o cobertor de tamanho queen que, na última vez que teve de ser lavado, levou cerca de um mês para conseguir secar. Por isso, ainda estava incrédula em sua primeira experiência utilizando o autosserviço, que em uma hora permitiria a ela levar para casa o cobertor sequinho, gastando menos de R$ 50.
— Se eu soubesse deste serviço antes, poderia ter feito uma economia significativa. Neste período da enchente, a minha filha, o meu genro e a minha neta saíram de Porto Alegre, passaram alguns dias em Torres e depois vieram a Caxias já com poucas roupas limpas. Como o tempo não ajudava para secar, tivemos de comprar um monte de roupas — comenta.
Sandra fez uso de uma das quatro unidades da Quicker, uma das cerca de 20 lavanderias self-service que rapidamente se espalharam por Caxias do Sul ao longo do último ano, desde que as mais antigas abriram no início do ano passado. O serviço que utiliza máquinas de lavar industriais para oferecer mais praticidade, comodidade e preços atraentes ao público (normalmente em torno de R$ 20 o ciclo para lavar ou secar), se popularizou de tal forma que a Quicker já soma quatro lojas abertas em menos de seis meses. A primeira, no Centro, foi inaugurada em novembro do ano passado. Desde então abriram filiais nos bairros Bela Vista, Charqueadas e Interlagos, sendo que a quinta, no Parque do Sol, deve abrir até junho. Para o segundo semestre, a empresa irá abrir o sistema de franqueamento, que permitirá espalhar a marca para todo o país.
— A gente se surpreendeu não apenas com a rapidez com que as pessoas se adaptaram e receberam bem o serviço, fazendo o cálculo sobre o que é melhor pra elas: será que vale mais a pena comprar uma máquina ou pagar pelo serviço? — revela Luciano D'Ávila, um dos três sócios da marca.
— É interessante também que temos uma loja no centro, mas todas as outras são em bairros, e estamos percebendo que o morador cria um vínculo com a loja. Ali ele tem internet de graça, tem bancadas para poder trabalhar, pode buscar algo que precisar na conveniência do posto ou no mercado próximo. A lavanderia atrai a pessoa para que, numa pequena parte do dia, consiga resolver um monte de coisas - exemplifica D'Ávila.
Lavanderias de autoatendimento, ou self-service, são comuns nos Estados Unidos, sendo inclusive cenário recorrente em filmes e séries. O crescimento no número de estabelecimentos no "modelo norte-americano" pode ter a ver com uma mudança de comportamento na sociedade, que se explica para além do mercado de consumo. Pelo menos foi o que revelou uma pesquisa contratada pelos empreendedores que viriam a abrir a Quicker.
— Essa pesquisa indicou que muitas pessoas estão deixando de gastar adquirindo coisas que elas podem pagar pelo serviço. Para quê ter um carro se posso andar de Uber, para quê ter um apartamento e não um estúdio onde possa morar e trabalhar? A gente enxergou nesta situação uma oportunidade com boa possibilidade de crescimento, que resolve um problema coletivo e traz um benefício para a sociedade — pontua D´Ávila.
Sala comercial junto a um posto de combustível
Há pouco mais de um ano instalada em Caxias do Sul, a BubbleBox, marca nacional que conta com duas unidades na cidade, tem como franqueado Jairo Ribeiro, que também administra lojas da marca em Porto Alegre. Assim como boa parte das concorrentes, a BubbleBox ocupa uma sala comercial junto a um posto de combustíveis, local que oferece possibilidade de estacionar, conta com bom fluxo garantido e dá sensação de segurança. Ribeiro aponta que o público que tem aderido ao autosserviço está crescendo na mesma medida em que se torna mais diversificado.
— Acredito que nosso trabalho leva comodidade para as pessoas, ajudando elas a ganharem tempo e reduzir custo. A leitura do mercado tem indicado que nosso público vai desde o viajante que está hospedado na cidade para fazer algum trabalho e que precisa lavar sua roupa, até casais jovens que trabalham fora o dia todo e que têm seu tempo livre muito reduzido — salienta Ribeiro.
Negócio é prático também para gerenciar
Além de benefícios como praticidade e economia, outras razões que fazem com que parte do público procure o autosserviço é a maior amplitude de horário em relação a estabelecimentos convencionais, que normalmente atendem em horário comercial. Algumas lojas chegam a oferecer o serviço 24 horas, enquanto outras se estendem até próximo à meia-noite, graças à possibilidade de automatizar abertura e fechamento das portas e toda a funcionalidade dos equipamentos.
A solução tecnológica permite que até a administração do negócio seja feita de forma remota. É o caso da LavPop, cujos proprietários moram em Porto Alegre e monitoram todo o funcionamento da loja à distância, contando apenas com a ajuda eventual de um funcionário do Pátio da Estação, onde a loja, que é uma franquia da rede 5àsec, está instalada. A escolha por fazer o investimento em Caxias do Sul levou em conta, principalmente, fatores econômicos e climáticos.
— Caxias, por ser uma cidade sempre em expansão, com uma renda ativa boa e uma idade ativa grande também, foi o local que nos pareceu mais promissor, considerando também o clima na cidade. O inverno é muito úmido, às vezes mesmo a pessoa tendo o espaço em casa, o clima não contribui. A isso se somam outros fatores, como o custo da energia elétrica que só sobe, ou as pessoas estarem optando por morar em apartamentos menores. Mesmo tendo apenas três meses de loja, já estamos com fila de espera das máquinas nos finais de semana — comenta a sócia-proprietária Gabrielle Vilanova.
A LavPop abriu em Caxias há três meses. Cliente da loja há cerca de um mês, desde que passou a morar sozinho, o personal trainer Rodrigo Andrade conta como o serviço facilitou sua vida:
— Principalmente depois que passa o verão, em Caxias a gente começa a ter esse problema da roupa lavada não secar. Por isso tenho gostado bastante deste serviço. A roupa fica bem lavada, é tudo bem rápido, e já levo para casa seca. E consigo vir na hora do intervalo no trabalho, sem interferir muito na minha rotina.
Oportunidade para o primeiro negócio
Assim como os franqueados da LavPop, que são ambos engenheiros atuantes em sua na área de formação, que viram na lavanderia self-service uma boa oportunidade para empreender, a caxiense Danielly Soares tomou iniciativa semelhante. Danielly é proprietária da naLav, que atende em um centro comercial no bairro Panazzolo. Ao contrário dos porto-alegrenses, Danielly optou por largar o emprego em uma multinacional para se dedicar por inteiro ao primeiro negócio, inaugurado há oito meses.
— Eu queria sair da rotina muito agitada e do ambiente de muita pressão (do mundo corporativo), e quando olhei na conta e vi que já tinha um dinheirinho, pensei que era a hora de abrir o meu negócio. Conhecia as lavanderias self-service dos filmes e sentia falta de ter uma na minha cidade, daí que veio a ideia de partir para esse ramo. Quando comecei a pensar no projeto, a procurar o local mais adequado, havia apenas quatro lavanderias em Caxias. Hoje já são mais de 20, mas se pensar em uma para cada 10 mil habitantes, que é uma estimativa com que se trabalha no mercado, ainda tem uma boa margem para novas lojas. É um serviço bastante localizado, que a pessoa prefere fazer o mais perto de casa possível — comenta.
Se a tendência é que o cenário urbano de Caxias do Sul passe a ter cada vez mais lavanderias de autoatendimento, os proprietários consultados pela reportagem são unânimes ao considerar que o mercado ainda tem muito espaço para crescer. Sendo um ramo em que os preços são similares, bem como o serviço em si, cada marca precisa encontrar a melhor forma de se diferenciar. Para Danielly, esta foi uma das partes mais desafiadoras, mas também a mais divertida, por ir de encontro com a sua área de maior afinidade:
— Como eu sou formada em Design Gráfico e Marketing Digital, optei por fazer eu mesma toda a criação da marca, conceito, identidade visual e a estratégia de divulgação nas redes sociais. Graças a isso, pude fazer com que muitos seguidores já estivessem esperando pela lavanderia antes mesmo dela abrir. Mas o mais importante foi ter pensado sempre em como seria a lavanderia que eu gostaria de frequentar: um lugar colorido, cheiroso, que fosse de autosserviço, mas que também tivesse uma pessoa que pudesse ajudar a tirar alguma dúvida, ou mesmo para dar um oi e conversar.
Satisfeita com o negócio, Danielly já projeta a abertura da segunda loja da naLav em Caxias para este ano. O local, é claro, clientes e seguidores terão de esperar para saber onde vai ser.