Em meio a maior tragédia climática vivida pelo Rio Grande do Sul, a solidariedade se apresenta de todas as formas. Em Caxias do Sul, a fotógrafa Rafaela Bins tem feito fotos dos animais resgatados pelo Instituto Patinhas, uma das tantas Organizações Não Governamentais (ONGs) engajadas na causa animal, para que eles possam se reencontrar com seus tutores, ou até mesmo encontrar um novo lar.
As imagens falam por si. Com as lentes de uma câmera Canon 6D Mark II, Rafaela busca contar a história de cães e gatos que também carregam consigo um pouco da dor vivida por cada gaúcho e gaúcha neste período tão delicado. O trabalho iniciou há cerca de duas semanas, quando foi feita uma primeira sessão de fotos após contato com uma amiga, que é voluntária no Instituto Patinhas. Na terça-feira (21) ela deve realizar mais alguns registros.
— De início eu queria adotar todos, queria ter mais espaço para pegar todos. Eu até conversei com umas amigas depois (e disse) que me aqueceu um pouco o coração porque lá no Instituto eles estão muito bem cuidados. Eu senti que os bichinhos estavam sendo bem acolhidos e super bem tratados, isso me deu uma calma no coração. Mas, ao mesmo tempo, fiquei pensando que muitos deles não vão encontrar de novo os seus donos e fiquei mais confiante depois dessas fotos que eles possam ser adotados — diz a fotógrafa, sobre o sentimento de realizar as fotos.
Essa foi a primeira vez que a fotógrafa realizou esse tipo de trabalho voltado a animais. No entanto, já foi voluntária em outros projetos, inclusive fora do país.
— Meu primeiro trabalho voluntário foi em Florianópolis, eu era muito nova e ajudei na questão de limpeza de casas. Depois eu me candidatei para fazer um trabalho voluntário no Peru, em 2020, onde fiquei seis meses e fui com um projeto bem legal para ser professora de ioga e fotografia para crianças carentes de alguns bairros — salienta ela, que pretende continuar com os trabalhos voluntários.
O Instituto Patinhas, que Rafaela está auxiliando de forma voluntária, já resgatou 55 cães e cinco gatos, em sua grande maioria nas cidades de Canoas, Cruzeiro do Sul e Roca Sales. Além desses, um cachorro foi resgatado em Galópolis, um dos bairros de Caxias do Sul mais afetados pela chuva e pelos deslizamentos.
Conforme a presidente da ONG, Natiele Gomes, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) tem auxiliado nos atendimentos veterinários, além de outros três profissionais particulares. Os animais resgatados são mantidos em um pavilhão que foi emprestado por um período de dois meses. Após a liberação médica, os animais estão seguindo para lares solidários.
— Geralmente, a gente não consegue (os lares solidários), é raro de acontecer. Mas, dessa vez, acho que devido às enchentes, o pessoal se comoveu bastante e quer ajudar de alguma forma — explica Natiele.
Para ajudar na localização dos tutores, são publicadas fotos dos animais e dados deles, como a cidade em que foram encontrados e o sexo, nas redes sociais. Caso os tutores não apareçam em um período de 30 a 45 dias, os cães e gatos são colocados para adoção.
— No ano passado a gente fez esse mesmo trabalho e trouxemos 40 cães que eram da região de Roca Sales, Lajeado e Muçum. E, desses 40, conseguimos achar os donos da metade. Muitos donos tiveram que sair correndo das suas casas, só com a roupa do corpo. Então, muitos (animais) não foram nem abandonados, mas se perderam. Devolvemos todos castrados e vacinados.
Uma característica em comum entre os animais resgatados, segundo a presidente do Instituto Patinhas, é que eles chegam bastante exaustos por ficarem nas águas, além de apresentarem alterações pulmonares e cardíacas. Dos animais resgatados na tragédia desse ano, Natiele comemora que já foi encontrada a tutora de uma cachorrinha que acabou se perdendo na enchente que atingiu Canoas:
— Essa dona, inclusive, a Defesa Civil retirou de casa. Ela saiu com os três cãezinhos dela, o barco ainda virou e essa cachorrinha acabou se perdendo. A cachorrinha acabou tendo que fazer uma cirurgia, estamos aguardando acabar os antibióticos e retirar os pontos para mandar entregar ela. Uma voluntária viu as fotos que ela (tutora) divulgou e era a mesma.
Atualmente, a ONG pede doações (confira abaixo como ajudar) de rações para cães e gatos, além de animais de grande porte, como cavalos, vacas e porcos. Quem quiser, também pode contribuir com doações financeiras. O Instituto Patinhas também está doando comida para as pessoas atingidas pelas enchentes.
SRD também realiza mais de 60 resgates
A ONG Sem Raça Definida (SRD) é outra ligada à causa animal que tem intensificado a atuação na maior tragédia climática no Estado. Desde 2 de maio já foram resgatados 62 animais, sendo 12 gatos e 50 cachorros. A maioria é de Caxias do Sul, local que, conforme a presidente da ONG, Andressa Mallmann Bassani, foi o primeiro foco de atuação. Foram realizados resgates nos bairros Galópolis, Fátima e Reolon. Além disso, animais foram salvos em outros municípios, como Roca Sales, Novo Hamburgo e Estrela.
Uma das histórias mais curiosas é de Estrela, em que uma cachorra que recém havia dado à luz a sete filhotes foi resgatada na cidade. Segundo a presidente da ONG, todos estão bem. Eles ainda não estão para adoção porque é preciso fazer o desmame e a castração, o que ainda leva um tempo.
— Ela deu à luz em uma gaveta na enchente. Nos enviaram para cá através de táxi pago por uma protetora aqui de Caxias. Todos sobreviveram, (os filhotes) estão de olhos fechados ainda — relembra Andressa.
Os animais tem chegado, na maioria das vezes, bastante assustados e com problemas de saúde. Por isso, como protocolo da ONG, passam por uma bateria de exames. Conforme Andressa, alguns encontraram os tutores, enquanto outros, em breve, estarão para adoção. Os animais são mantidos em um pavilhão emprestado por 60 dias.
— Os de Galópolis, do Fátima e do Reolon, na grande maioria, têm tutores. Então, a partir do momento que começaram a voltar para casa, foram devolvidos. Outros não conseguiram se realocar, então ficam na nossa guarda. Os dois de Roca Sales estão prontos, mas não têm tutores, estão para adoção. E os de Novo Hamburgo ainda estão machucados — contextualiza.
Nesse momento, a SRD pede doações (confira abaixo como ajudar) de ração de cão, gato, areia de gato e cobertores para auxiliar a manter os animais.
Como ajudar as ONGs
Instituto Patinhas
:: O que doar: ração de cão, gato, além de fórmula para bebês, fraldas infantis e geriátricas.
:: Onde levar: Tudo em Rações (Rua Botafogo, 166, bairro Universitário), Loja Artes Flores (Rua Pinheiro Machado, 3.271, bairro São Pelegrino), Soldera Pet Center (Avenida França, 547, Bela Vista). Outros pontos podem ser conferidos na página do Instagram @institutopatinhascaxias.
:: Pix: 43563779000166 (CNPJ).
ONG Sem Raça Definida (SRD)
:: O que doar: ração de cão, gato, areia de gato e cobertores.
:: Onde levar: Brechó da SRD (Rua Sarmento Leite, 3.090, bairro Rio Branco), Clínica Veterinária Petlância (Rua General Arcy da Rocha Nóbrega, 699, bairro Jardim América).
:: Pix: ongsrdoficial@gmail.com (e-mail).