Implantadas no fim de 2021 como parte de uma série de medidas para reduzir o atropelamento de animais na Rota do Sol, em Itati, as travessias aéreas para animais ainda dependem do crescimento da vegetação para funcionamento pleno. Para que sejam atrativas e se integrem ao habitat dos animais, as estruturas serão completamente envolvidas por espécies de trepadeiras, servindo como continuidade da mata por cima da rodovia. O plantio da vegetação ocorreu logo na sequência da instalação das passarelas, mas o preenchimento completo dos espaços ainda não tem data estimada.
A implantação das estruturas seguiu um projeto que previa estudos de monitoramento de fauna e implantação de medidas de proteção para os animais que vivem na Reserva Biológica Estadual Mata Paludosa. A área de preservação foi criada oficialmente em 2000, após ser identificada por biólogos que realizavam o estudo ambiental para a pavimentação da Rota do Sol, na década de 1990. Ao avaliar a área de mata às margens da rodovia (que já tinha o traçado definido), os especialistas encontraram um cenário rico em espécies animais e uma floresta úmida e alagadiça em períodos de inverno. Essas características são ideais para determinadas espécies de anfíbio, que só existem nessa região.
Os estudos apontaram a necessidade de aumento na quantidade de passagens subterrâneas já existentes e também de medidas para facilitar a travessia de espécies que vivem em árvores. Com frequência os animais caíam sobre a rodovia, na tentativa de passar para o outro lado. Outra ação foi implantar um cercamento para forçar a travessia apenas por pontos seguros.
Uma vez ampliados os pontos de passagem, novos estudos monitoraram a eficácia das medidas. Com o cercamento e o aumento das dutos subterrâneos, o índice de atropelamentos caiu 87%. As travessias aéreas, no entanto, não foram verificadas já que ainda não estão em funcionamento pleno.
— Nem precisa estar totalmente colonizada para os animais começarem a usar. Espero que as pererecas arborícolas (que vivem em árvores) comecem a usar antes. Já vimos pererecas naquelas estruturas. Os animais aprendem, a necessidade os força a aprender. A real eficácia só vai poder se comprovar daqui a alguns anos. Nunca dissemos que o sucesso é 100% garantido, mas algum sucesso terá e isso já é positivo, porque antes não tínhamos nada — explica Adriano Souza da Cunha, proprietário da Biolaw, consultoria que realizou os estudos e desenvolveu o projeto.
Novo contrato para monitoramento
O contrato que a Biolaw mantinha com o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) já foi concluído com a realização dos serviços que foram acordados. Atualmente, o Estado é responsável pelo serviço e foram adotadas medidas para acelerar o crescimento da vegetação que irá envolver as estruturas. Cordas também foram implantadas para ligar as copas das árvores às passarelas para auxiliar na cobertura.
Já vimos pererecas naquelas estruturas. Os animais aprendem, a necessidade os força a aprender
ADRIANO SOUZA DA CUNHA
proprietário da Biolaw, consultoria responsável pelo projeto
De acordo com o Daer, uma nova licitação deve ser realizada para contratar uma empresa para gestão ambiental. Segundo o órgão rodoviário, a parceria "contemplará a continuidade do monitoramento das passagens inferiores e das travessias aéreas".
O Daer diz ainda que "como este sistema de passagens é pioneiro, os especialistas avaliam a elaboração de uma metodologia que possibilite a adequada detecção dos anfíbios, visto serem de pequeníssimo porte, e as metodologias usuais — armadilhas fotográficas — nem sempre conseguirem captá-los".
As medidas de proteção foram viabilizadas para atender ao licenciamento ambiental da Rota do Sol e também em resposta a uma ação civil pública movida contra o Estado. Todo o projeto, entre estudos e implantação das medidas, teve custo aproximado de R$ 2 milhões.