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Por meio da educação, Cambará do Sul encontrou uma forma diferente de ensinar crianças e adolescentes sobre a separação e o descarte correto de materiais recicláveis. O que era descartado junto ao lixo comum, agora é revertido em uniformes escolares para estudantes da rede municipal de ensino através do programa "Recicle Bem, Faça o Bem", que estimula cidades e instituições a trocar o descartável pelo sustentável.
— Durante o período pós-pandemia, com as crianças voltando ao ensino presencial, nós visitamos todas as escolas. E procuramos uma forma de, por meio da prefeitura, fornecer material e uniforme escolar para os alunos da rede municipal de ensino. Então, foram visitados outros municípios que já faziam essa inclusão e, em uma dessas viagens foi conhecido o projeto "Recicle Bem" — contou a Secretária de Educação de Cambará do Sul, Gilceane dos Santos Possamai.
Para que o uniforme seja adquirido pela prefeitura, é necessário realizar uma troca sustentável. Cada peça da roupa do uniforme, composta por camisa, calça, moletom e tênis, são confeccionadas a partir de materiais recicláveis que são arrecadados nas escolas. E desde sua implementação, em 2021, aproximadamente 13 mil quilos de lixo reciclável já foram arrecadados no município.
Nas escolas, máquinas foram instaladas pelos corredores onde os alunos podem depositar o lixo reciclável. Cada item soma pontos, que poderão ser substituídos por um uniforme novo ou em prêmios fornecidos pela organização.
— Cambará ainda não possui programas de reciclagem, e tanto o lixo orgânico quanto o reciclável é reunido e levado para outra cidade que possui aterro sanitário. Esse lixo arrecadado durante esses dois anos de projeto gerou uma economia de R$ 250 mil aos cofres públicos — contou.
Gilceane explica também que essa economia provém da coleta desses resíduos. Após a adesão ao programa, a secretaria do Meio Ambiente realizou um cálculo, no qual constatou que boa parte do lixo deixou de circular na cidade, gerando uma diminuição na demanda de coleta e de transporte desses materiais.
Iniciativa também deu certo em Bom Jesus

Bom Jesus também faz parte do projeto Recicle Bem desde 2021. Até então já foram arrecadados 17 mil quilos de materiais recicláveis em dois anos. Conforme a secretária de Educação, Márcia Freitas Oliveira, o lixo sempre foi um problema na cidade e a iniciativa vem dando muito certo.
— As crianças aceitaram muito bem esse projeto, participando e incentivando dentro e fora de casa. Até nas reuniões de pais, as mães comentavam que os filhos estavam cobrando eles na questão do cuidado. A gente foi fazendo essa conscientização, conseguimos plantar uma sementinha. Inclusive, em uma escola de Educação Infantil os responsáveis pela coleta tem que recolher o material até três vezes na semana — explicou.
Márcia conta que um dos receios iniciais do projeto era a questão dos catadores, que dependem desse lixo para viver.
— A empresa (Recicle Bem, Faça o Bem) contratou esses recicladores para fazer a coleta desse material nas escolas e, em seguida, eles compram todo o lixo. Assim, ninguém foi prejudicado— ressaltou.
Sobre o projeto "Recicle Bem, Faça o Bem"
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O projeto foi fundado em 2019, dentro de uma empresa de confecções, localizada em Mormaço (RS), que produz, principalmente, uniformes escolares. O projeto "Recicle Bem, Faça o Bem" também possui marca registrada, programa, software, metodologia depositada na biblioteca nacional e registro no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).
— Somos nós que produzimos tudo, inclusive as máquinas (ecopontos). A única coisa que não produzimos é a parte eletrônica, que é feita por uma empresa de Caxias do Sul. E todos os nossos uniformes são produzidos com fios de pet (garrafas plásticas), que não temos no Brasil e precisamos importar. Além disso, todos os brindes entregues aos alunos são feitos com materiais recicláveis — explica a sócia-proprietária do projeto, Gabriela Rodrigues.
Até então, 40 municípios de cinco Estados aderiram ao programa, que atinge cerca de 38 mil alunos. Gabriela conta que o próximo passo será produzir o fio de pet no Brasil, que ainda está em tratativas.
Municípios e escolas que queiram participar do projeto devem fazer contato pelo site do "Recicle Bem, Faça o Bem". A entidade faz o pagamento de uniformes e materiais a serem entregues aos alunos (panfletos, ecobag, tag e etc) e a empresa disponibiliza o software, ecoponto e os itens trocados.