A temática da Campanha da Fraternidade deste ano, Fraternidade e Fome, motivou a Diocese de Caxias do Sul a fazer um levantamento, entre suas paróquias, do trabalho realizado por padres e voluntários para combater a fome na cidade. Foi mapeado que, somente no ano passado, entre as 74 paróquias distribuídas nos 32 municípios da Serra, foram arrecadadas 302,3 toneladas de alimentos, separadas em 26,7 mil cestas básicas que foram entregues a 2,6 mil famílias. Os dados levantados, segundo a Igreja, também ajudam na elaboração e no fortalecimento de ações para levar alimentos à mesa dos caxienses — na cidade, segundo dados coletados em dezembro de 2022 pelo Cadastro Único, 11.471 famílias estão em extrema pobreza e 4.441 famílias em pobreza. São, em média, 43 mil pessoas passando fome na segunda maior cidade do Estado.
Mensalmente são atendidas pelas paroquias de Caxias do Sul 1.247 famílias, sendo que a maioria recebe alimentos o ano todo. As doações de mantimentos e de dinheiro para a confecção de cestas básicas são feitas diretamente nas igrejas — e sempre é preciso complementar, então a Diocese busca constantemente ajuda da comunidade para manter o trabalho de assistência. A cesta entregue é composta por 10 itens, como farinhas de trigo e milho, café, feijão, óleo e leite.
Em Caxias do Sul, as pastorais do Pão e da Criança são as que mais se envolvem na arrecadação e distribuição de alimentos. Elas cadastram as famílias moradoras da comunidade e visitam frequentemente as pessoas atendidas, que por muitas vezes chegam por indicações de lideranças comunitárias ou procuram diretamente os padres durante as missas. A Paróquia Santos Apóstolos, por exemplo, que fica no bairro Panazzolo e abrange 11 bairros, faz esse trabalho assistencial há 25 anos. Atualmente atende a 129 famílias, mas, durante a pandemia, chegou a atender mais de 150.
O diácono Henrique Rauch, responsável pelo serviço na Pastoral, explica que, desde o início deste ano, houve uma mudança na organização das entregas dos alimentos: agora há um período específico para o atendimento das famílias. Antes, os atendidos recebiam doações o ano todo, agora passam por uma avaliação a cada três meses. A Pastoral também, em parceria com a Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), encaminha as pessoas cadastradas para vagas de emprego.
— Não é só dar o peixe, é ensinar a pescar. É mostrar que aquela pessoa pode voltar a ter uma vida digna. As pessoas que recebem as cestas não conseguem nem olhar nos nossos olhos de vergonha durante a entrega — conta, deixando claro que nem todas as famílias que são ajudadas são católicas.
As cestas, mensalmente, são montadas por 15 voluntários. Eles verificam se falta algum alimento e, se for preciso, o compram com o dinheiro arrecadado entre os fiéis. Além da arrecadar alimentos, as pastorais recebem doações de roupas, calçados, material escolar e cobertores. Ainda é feita a intermediação com o poder público para situações pontuais, como vaga em creches.
A líder comunitária do bairro Villa Lobos, Inês Alves Rodrigues, é integrante da Pastoral do Pão e da Criança e atende a 10 famílias.
— Fico feliz em ajudar. Eu queria ter dinheiro para ajudar a todos: aqueles que não podem ir no médico por causa de passagem do ônibus, aqueles que não têm comida...
Doação de refeições prontas
Cada paróquia tem sua forma de ajudar. Em São Pelegrino, a Pastoral do Pão arrecada alimentos e prepara refeições para moradores de rua. Desde 2017, todas as quintas-feiras à noite um grupo de aproximadamente 10 voluntários se reúne na cozinha do salão comunitário e prepara, em média, 100 marmitas de 720g.
— Depende do dia, servimos café, suco, também fizemos risoto ou massa, mas o carro chefe é a sopa de frango e legumes — conta Maria Teresinha Mandelli Grasselli, uma das voluntárias.
Os moradores de rua que recebem as refeições do grupo de voluntários da igreja também são orientados a procurar a assistência social do município. Eles também são convidados para, aos domingos, participar de uma ação na igreja de São Pelegrino: em parceria com o programa Médicos do Mundo, eles recebem atendimento médico e psicológico.
Somente no ano passado a equipe entregou 5.768 marmitas.