
Aline Marin, 26 anos, era uma criança quando levava, com o avô e o primo, as uvas colhidas na propriedade familiar para a Cooperativa Santo Antônio, em Flores da Cunha. No caminho, a imagem pintada na parede de uma casa chamava a atenção. Era o desenho de um agricultor que fazia a pisa das uvas, um processo antigo e hoje quase folclórico da produção de vinhos.
Em cima do carretão, ao avistar a arte, a pequena Aline sabia que estava chegando no local onde as frutas colhidas com a ajuda dos vizinhos seriam vendidas e transformadas em vinho. Com o passar dos anos, a cooperativa onde as frutas eram entregues viria a se tornar a Nova Aliança, uma das maiores beneficiadoras de uvas da região, e o local onde o desenho estava, a sede do trabalho de Aline.
Essas são as primeiras memórias da princesa da Feprocol de 2023. Nascida em Nova Pádua, a hoje contadora de um laboratório que recebe amostras de uvas e vinhos para testagens tem sua vida inteiramente relacionada com a safra da uva e o trabalho embaixo das parreiras. Depois de ver a irmã Camila Marin, 30, ser coroada rainha da Festa em 2010, chegou a vez da caçula de Deoclécio Marin, 59 e Juraci Soranzo Marin, 62, representar o município na celebração que expõe os produtos coloniais da cidade conhecida como o "pequeno paraíso italiano".
— Me identifico com os agricultores e faço parte disso, a maioria deles trabalha o dia inteiro e de noite entregam as uvas na cantina. Não é um processo fácil, mas quando eles estão lá, os olhos deles brilham. E aqui eu cresci: a colônia e a agricultura são minha infância. Ela é sustento e pra mim também é sentimento — diz.
Aline faz questão de passar os finais de semana na propriedade de cerca de sete hectares dos pais, no Travessão Barra, interior de Nova Pádua. Por lá, na comunidade de Santa Libera e Santa Juliana, serão colhidos cerca de 120 mil quilos de uvas para vinhos e consumo in natura. Tudo colhido com a cooperação dos vizinhos que também tÊm suas frutas retiradas dos parreirais em ajuda mútua.

E foi realizando a poda com a família que Aline passou a entender sobre os ciclos e a necessidade que até as plantas têm de descansar. Também viu de perto um movimento que tem ficado cada vez mais raro no interior, o do auxílio dos vizinhos nas propriedades. E foi de um deles que ganhou o primeiro salário, aos 16 anos: R$ 135 garantidos pelo dia de colheita.
A relação de trabalho que ensinou sobre recompensa também trouxe lições de hierarquia e humildade. A labuta proporcionada pela vindima seguiu fazendo parte do dia-a-dia até os 18 anos, quando Aline figurava entre os tombadores de uvas da Cooperativa Nova Aliança para medir o grau (proporção entre frutose e glicose) das uvas trazidas pelos agricultores.
— A vindima é união. Como a maioria das famílias é de agricultores, a gente procura se ajudar, aqui em casa contamos os dias para a colheita. É um contexto do nosso município, um senso de cooperativismo de viver em comunidade e se ajudar — conta.
Quando Aline nasceu, em 1997, o pai Deoclécio até torcia para que o segundo filho fosse um menino. Com o passar dos anos, e o interesse das filhas pela vida do interior, fez o orgulho do patriarca superar qualquer pensamento de que meninos pudessem ajudar mais na propriedade. Pai de uma rainha e agora de uma princesa, ele agradece ter sempre por perto as meninas que viu crescer junto às parreiras.
— É genética — brincou.
— Por mais que eu acreditasse nelas, eu jamais imaginaria que as duas seriam eleitas para representar o município. E elas nos ajudam muito quando podem, nas férias, feriados e finais de semana — completa a mãe.

15ª Feprocol começou nesta semana
Realizada de quatro em quatro anos, a Festa de Produtos Coloniais de Nova Pádua surgiu em 1983 e iniciou a 15ª edição nesta quinta-feira (16). O evento segue por dois finais de semana até o domingo (26) nas ruas centrais do município. No entorno da Igreja Matriz estão dispostas a exposição comercial, praça de alimentação, venda de produtos coloniais e oferta de passeios turísticos. A programação cultural conta com show nacional de João Bosco e Vinícius na noite de sábado (22) e desfiles temáticos de carros alegóricos. A entrada é franca.