Um grupo de pessoas se reuniu na manhã desta segunda-feira em frente à Casa Dal Bó, em Garibaldi, para protestar contra a possível demolição da residência histórica na área central do município. O imóvel, que pertence à família Dal Bó, apresentaria risco de ruir, fato que é contestado pelo grupo de manifestantes em favor da preservação, que conta com arquitetos.
Construída em 1895, na esquina das ruas Júlio de Castilhos e Dante Grossi, a Casa Dal Bó interage com a história de Garibaldi, tendo sido residência do ex-prefeito Vicente Dal Bó (1935-1949). Antes de ter sido adquirida pelo político, serviu de sede da prefeitura, de hospital e até de cadeia, além de ter abrigado as irmãs da congregação de São José de Chambéry, logo que chegaram da França, no final do século 19.
Em duas ocasiões, em 2004 e 2013, a estrutura do imóvel foi prejudicada por obras contratadas pela prefeitura na rua em frente. A família entrou com processo judicial e obteve direito a receber uma indenização, que foi paga pela atual gestão em agosto do ano passado. O valor foi superior a R$ 2,8 milhões.
A atual proprietária e moradora do imóvel, Rosmari Dal Bó, que é neta do ex-prefeito, alegou à imprensa local estar cumprindo uma decisão judicial de 2008, que aponta a necessidade de demolição devido aos riscos que o imóvel apresenta, especialmente de queda. Rosmari também teria afirmado que ela e a mãe, de 90 anos, irão sair da cidade até que a nova casa seja construída no local, tendo um memorial que contasse a história do casarão.
A arquiteta Patrícia Pasini, especialista em Patrimônio Histórico e membro do grupo que alcançou 1,2 mil assinaturas com uma petição contra a demolição, destaca que o que a manifestação busca, no momento, é ganhar tempo para tentar reverter a situação.
— A gente não está contra a família, nem contra a indenização que foi paga, mas acredita que o bem tem de ser protegido, também pelo fato de ter havido a indenização. Como especialista, olho para a edificação e não vejo que ela esteja em condições de ruir ou de provocar algum acidente. Nossa briga é para evitar a demolição que está iminente, até conseguirmos acessar o processo judicial, que até o momento não conseguimos, e ver realmente o que foi pedido — comenta.
A arquiteta aponta ainda que o imóvel, embora não seja tombado pelo município, consta como bem inventariado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
— Infelizmente o município não tem esse histórico de tombamento de patrimônio, mas em 1987 o Iphan fez o inventário de casas importantes historicamente no município de Garibaldi, e a Casa Dal Bó está nesse inventário — ressalta Patricia.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Na tarde desta segunda-feira (14), a prefeitura de Garibaldi emitiu uma nota oficial em que afirma estar buscando, com seu corpo jurídico, possíveis soluções legais e administrativas para a Casa Dal Bó. O entrave, segundo a nota, é a decisão judicial que, “ancorada em laudo pericial, aponta a necessidade da demolição da edificação, em virtude de danos estruturais causados por obras executadas, sem cuidado e planejamento adequados, pela gestão municipal em 2004 e 2013, gerando inclusive risco às pessoas que circulam pela região”.
A nota confirma ainda que os prejuízos provocados na estrutura da casa levaram a uma condenação em que a prefeitura teve de pagar mais de R$ 2,8 milhões aos proprietários, por danos morais, materiais e multa. Os valores foram pagos em agosto de 2021 pela atual gestão.
A reportagem procurou Rosmari Dal Bó para dar a sua versão, mas não obteve retorno.