Pode-se dizer que Lourenço Darcy Castellan sempre sonhou gigante. Desde a época de escola. O empresário, um dos mais bem sucedidos da Serra, fundador e presidente emérito da Florense, uma das marcas de móveis mais bem conceituadas do país, morreu neste domingo (3), aos 92 anos, por complicações no estado de saúde — a causa da morte não foi divulgada oficialmente — após alguns dias de internação no Hospital Pompéia. Lourenço era um dos últimos grandes empresários da Serra, que, desde 2017, já perdeu também Paulo Bellini, Raul Randon e Adelino Colombo.
Nascido de uma família humilde, ao lado de outros nove irmãos, na pacata Flores da Cunha dos anos 1930, Lourenço sempre foi incentivado a pensar grande. O maior exemplo talvez venha da época de escola, quando uma freira do colégio em que cursava o ensino primário, lhe explicar a origem do seu italianíssimo sobrenome. No país europeu, os Castellan eram habitantes de grandes castelos.
Foi o suficiente para o imaginário do então menino, viajar longe. Até 1986, quando Lourenço ergueu o próprio castelo em Flores da Cunha, inspirado em uma visita que fez à França. Não para exibir os frutos da trajetória de sucesso como empresário. Mas, sim, para abrigar uma de suas duas grandes paixões. A família construída ao lado da esposa Noemy, era um dos motivos de maior alegria para ele. Ver o castelo ocupado pelos filhos Gelson, Eliana e Leila, pelos netos Manuela, Virgínia, Roberta e Isadora, e pelo bisneto Lorenzo, fazia os olhos do reservado empresário brilharem.
A outra paixão? O trabalho. Estudou até a quarta série e fez o ginásio por correspondência. Começou a trabalhar aos 13 anos, buscando água na fonte, com uma pequena pipa, para levar aos trabalhadores da Granja União. Deu o pontapé inicial à Florense em maio de 1953, quando tinha apenas 23 anos de idade. E a transformou de uma empresa que fazia produtos artesanais sob encomenda, entre eles caixões, a uma das mais bem conceituadas organizações do país em mobiliário. A grandeza com que Castellan pensava teve um novo capítulo nos anos 1980, quando a empresa serrana iniciou a exportação de móveis corporativos aos Estados Unidos. Hoje, a Florense conta com mais de 10 lojas fora do país. No Brasil, o maior exemplo do "pensar gigante" do empresário está no Rio de Janeiro, onde foi erguida a maior loja de móveis do país, com 2,1 mil metros quadrados.
Aos 82 anos, Castellan começou a "sair de cena" aos poucos, deixando para os filhos o comando da empresa. Nunca, no entanto, pensou em deixar de trabalhar.
— Só saio da Florense se me mandarem embora — disse, à época.
O homem reservado, que sempre pensou (e agiu) como um gigante, deixará para sempre um legado de amor à família e ao trabalho. E um exemplo de que os sonhos podem, sim, se transformar em realidade. E não apenas em contos de fadas de castelos.
Cerimônia restrita
Lourenço Castellan será velado na capela anexa ao castelo da família, localizado no centro de Flores da Cunha, com restrição para familiares e amigos mais próximos do empresário. Uma celebração fechada está marcada para as 11h desta segunda-feira. O corpo do empresário será cremado na tarde desta segunda-feira (4), no Memorial Crematório São José, em cerimônia restrita a familiares.
Documentário em finalização
Apesar da vida reservada, Lourenço Castellan quis deixar para as próximas gerações um documento do seu legado. Foi dele mesmo a ideia de pedir aos filhos que providenciassem a produção de um filme sobre a sua própria vida, assim que completou 90 anos. O documentário Lourenço Castellan: o homem que construiu um castelo (veja o trailer abaixo), está em fase de finalização pela Spaghetti Filmes, de Caxias do Sul.
— Trouxemos um roteirista diretamente da Itália (o jornalista Paolo Meneghini). Estamos há quatro anos desenvolvendo a narrativa da história dele. Fizemos várias entrevistas, ainda faríamos mais algumas, mas acredito que em dois ou três meses estará pronto — explica o diretor Lissandro Stallivieri.