Consultas de optometristas que dão diagnóstico incompleto e que deveriam ser feitos por um oftalmologista e casos de aplicação de botox em clínicas onde não há um profissional capacitado para esse tipo de procedimento. Esses são os casos mais comuns de práticas consideradas pela classe médica como exercício ilegal da Medicina e que chegaram ao conhecimento do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) na Serra. A entidade registrou, até o momento, 20 casos na região, sendo 14 apenas em Caxias do Sul — o segundo maior número entre os municípios gaúchos, atrás apenas de Porto Alegre.
Dos 14 casos em Caxias, cinco são de denúncias de exercício da atividade médica por profissional sem capacidade ou autorização na área da dermatologia e quatro de optometristas (veja mais no quadro abaixo) — áreas com exemplos que abriram esta reportagem. As denúncias podem ser feitas pelo site do sindicato e não é necessário se identificar. Neste mês, o Simers lançou uma campanha para reforçar com a comunidade os cuidados sobre a escolha de alternativas de baixo custo ou com diagnóstico incompleto.
Os relatos são gerenciados pelo Núcleo de Combate ao Exercício Ilegal da Medicina do Simers, criado em 2019 para concentrar as denúncias de práticas de não médicos. Uma das coordenadoras do núcleo, a médica Mônica Zechmeister Berg, exemplifica um dos casos mais comuns observados nas denúncias realizadas em Caxias e que tramitam no sindicato.
— Na área da oftalmologista, temos o que chamamos de profissões parceiras, que são complementares, como é o caso dos optometristas. Eles atuam com uma ação de diagnóstico, prescrição de lentes, sem se atentar para outras doenças que poderiam estar causando uma dificuldade visual, por exemplo. O fato de estar perdendo a visão, diminuindo a acuidade visual, não quer dizer que somente uma lente vai ser suficiente para corrigir, pode ser que tenha mais coisas por trás — justifica.
Outro fator que contribui para os casos, principalmente na dermatologia, é o crescimento na realização de procedimentos estéticos, principalmente com preenchimento ou aplicação de toxina botulínica, o popular botox.
Com maior interesse na intervenção, também aumentou o número de estabelecimentos que realizam o procedimento em locais não especializados.
— O problema é que o procedimento estético parece uma coisa muito simples, as pessoas acham que é apenas uma aplicação de toxina botulínica ou é somente um peeling, mas isso tem consequências. O que dá certo, fica perfeito, sem problema algum. Agora, no momento que tem alguma complicação, a figura do médico é muito importante para identificar e conseguir tratar o mais rápido possível para evitar qualquer tipo de sequela, como cicatrizes, áreas com perdas de tecido ou infecções — afirma Mônica.
Ainda de acordo com a coordenadora, a maioria das denúncias partem da classe médica. Entretanto, segundo ela, 25% das denúncias são de pessoas em geral, segundo algumas delas lesadas por eventuais falhas nos procedimentos ou seus familiares.
Além disso, para que a investigação possa avançar, é necessário ter materiais que comprovem a irregularidade. Um dos meios é o recebimento de materiais de divulgação e também nas redes sociais dos estabelecimentos. A oferta de preço mais baixo em relação a outros locais é um dos indicativos que merece atenção da comunidade.
— A cobrança mais barata é um atrativo usado, mas existe também um marketing muito grande em cima de resultados que até mesmo os profissionais não conseguem chegar. É algo muitas vezes falso, que não corresponde com a realidade. Muito se usa do popular antes e depois, mas o médico não pode fazer esse tipo de divulgação para não expor o paciente — explica.
O Simers disponibiliza um canal de denúncias no site, também pelo e-mail: denuncias@simers.org.br ou ainda pelo telefone: (51) 3027-3737, para que os casos sejam encaminhados às instâncias cabíveis.
As inconformidades são encaminhadas para órgãos de fiscalização, como o Ministério Público (MP), Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), demais conselhos profissionais, Vigilância Sanitária e secretarias municipais de Saúde dos municípios. Em todo o Rio Grande do Sul, são investigadas neste momento 375 denúncias de possíveis infrações ou atos danosos à saúde pública.
Áreas com mais casos em Caxias
Além de Caxias, o Simers recebeu denúncias em Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Gramado, Guaporé, Veranópolis e Vacaria. Na lista, as áreas com o maior número de casos de denúncia em Caxias.
- Dermatologista (5)
- Optometrista (4)
- Odontologista (2)
- Legista (1)
- Nutricionista (1)
- Farmacêutico (1)
Fonte: Simers
Dicas para não errar
:: Desconfie de estabelecimentos que oferecem procedimentos com preços muito mais baixos que os praticados no mercado. Por isso, vale sempre pesquisar preços e a avaliação do local;
:: Não existem procedimentos milagrosos e, por isso, não acredite em falsas promessas. Simers alerta que, muitas vezes, o marketing utilizado é agressivo, que promete até mesmo rejuvenescimento de até 20 anos em poucas semanas;
:: No site do Cremers, é possível consultar se o médico em questão está ativo e apto para realizar o procedimento em determinada área.
Fonte: Simers