Colunistas do Pioneiro escrevem sobre a mística da época natalina.
Quando criança, nutria uma curiosidade por quem aniversariava bem próximo do Natal e fim de ano. Difícil explicar o porquê desse foco tão específico. Já pensava muito naquela época, quando a velocidade da boca geralmente não acompanha a ansiedade do cérebro. E continua nos dias de hoje, mesmo com a atenção voltada para outras mil funções e seus buraquinhos incompletos de respostas. Antes, havia uma quase piedade ao pensar na possibilidade de alguém ter que se contentar com apenas um presente. Agora, o sentimento que me abate é de agonia vendo essas pessoas, na correria inescrupulosa de Dezembro, fazendo malabarismos com o tempo para organizar outra festa, um encontro pelo menos. Quando moleques, temos muito tempo livre, mas ele só vale quando temos amigos que compartilham as mesmas aventuras. Um aniversário com metade dos coleguinhas na praia desempolga até a criança mais pilhada. Quando adultos, nem sempre aumentamos nosso círculo social. Mas temos cada vez menos respiros para preencher nossos sonhos. O tempo cura e faz milagres. Mas também prega algumas peças, quando nos deixa sem resposta, tal qual um terapeuta que aponta caminhos que não conhecíamos e que agora nos desafiam nesta ingrata tarefa de tomar decisões.
Voltemos à época infantil. Nas festas da minha família, sempre houve Papai Noel. De todos os tamanhos, formas e estilos. Do original aos fantasiados. Como os parentes são muitos, sempre tem um pequeninho que brilha os olhos de curiosidade quando chega aquele corpo carregando roupas vermelhas, barba branquinha, óculos enormes e a imensa sacola repleta de aventuras. Nenhuma criança, na minha família ou na sua, perde muito tempo imaginando qual a data de nascimento do Papai Noel. Ou de onde ele vem. Ou quando assopra velas. “O Papai Noel também ganha presente?”. O Bom Velhinho vive pra sempre, o amor não tem idade e os presentes devem, por lei, serem rasgados sem qualquer temeridade. A diversão do brinquedo começa no processo destrutivo dos muros e grades que protegem o futuro parque de diversões. Com os anos, o Papai Noel vai soando cada vez mais familiar e a gente acaba se acostumando com muros mais altos e parques mais vazios.
Eu descobri o Papai Noel na figura de um tio, quando tinha sete anos. Não foi traumático, nem ao menos decepcionante. Alguém me explicou que o Papai Noel também merece comemorar, por isso a folga naquela noite. Com oito anos comecei a entender minha curiosidade incômoda lá do início. Na festinha da minha namorada, ela dançou cinco músicas com outro coleguinha. Era um dezoito de Dezembro. Reivindiquei a posse do presente que havia levado. Minha mãe precisou intervir, numa quebra de personagem tal qual meu tio um ano antes.
Não peguei birra do amor. Perdoei mãe e tio, como toda criança que briga com mais frequência com o amiguinho/a que mais ama. No fundo, amar é um grande presente de Natal: a gente só empresta pra quem confia e mesmo assim fica de olho.
Será que a velha roupa do Noel ainda me serve?