O trecho urbano da BR-116, em Caxias do Sul, traz perigo há bastante tempo e teve raras buscas de soluções, principalmente no que tange aos pedestres, que se arriscam em meio aos carros, que em sua maioria não respeitam o limite de velocidade de 60 km/h. A morte de Márcia Patricia Pedroso Cavanholi, 49 anos, na manhã desta quinta-feira (4), ao ser atingida por um carro enquanto fazia a travessia na altura do bairro Bela Vista, no km 151, é só mais um exemplo da insegurança do trecho.
Ao longo da rodovia, os pedestres tem poucas, para não dizer nenhuma, opções de travessia para o outro lado da faixa. Assim, acabam se arriscando em meio aos veículos. Há apenas uma passarela, no bairro São Ciro, poucos controladores de velocidade e nenhuma faixa de segurança em local de circulação de pessoas.
Inúmeros projetos e discussões foram apresentados, mas raras foram as soluções concretas e pensadas para o trecho, que atravessa a cidade de Caxias do Sul. Desde 2018, pelo menos cinco pessoas, duas delas em 2021, foram atingidas por veículos. Algumas, felizmente, escaparam de danos maiores. O que não foi o caso de Márcia, atingida por um veículo da marca BMW na manhã de quinta-feira.
"O caso de agora é a gota d'água", diz morador
O acidente envolvendo Márcia Patricia Pedroso Cavanholi reacendeu discussões e desejos antigos de moradores próximos da BR-116 com relação à segurança do local, seja em virtude da travessia de pedestres, como também pelo excesso de velocidade dos motoristas que trafegam pelo local.
Um desses moradores, que prefere não se identificar, tem residência a 50 metros de onde aconteceu o atropelamento. Para ele o caso é definitivo para a busca de alternativas para que se evitem novas tragédias.
— Da sinaleira da Rua Rodrigues Alves (bairro Cruzeiro) até o ponto do acidente não tem nada, nem faixa de segurança. Eu tenho que atravessar ali e é bem complicado, não importa o horário. Como moro na beira da BR, a gente vê muitos casos a qualquer hora de excesso de velocidade. Estamos pensando em fazer alguma coisa, acionar as autoridades, porque esse caso foi a gota d'água — alerta.
Para o morador, a melhor alternativa seria uma passarela, alternativa que, devido ao custo, seria difícil. Porém, ele sugere outras maneiras.
— A passarela seria o ideal, mas uma faixa ou algo para a redução de velocidade, que não seria muito caro, ajudaria. A gente sabe que tem vários pontos que são críticos, a PRF (Polícia Rodoviária Federal) estava fazendo fiscalização, mas está difícil. Os pedestres também precisam ter vez no local — argumenta.
O secretário municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade (SMTTM), Alfonso Willenbring Júnior, concorda que o problema no trecho da BR-116 é antigo, aponta causas e o trabalho que está sendo feito para uma possível solução por parte do município.
— É um problema que não tenho a menor dúvida que seja pelo excesso de velocidade. Estamos formulando uma proposta de instalação de controle eletrônico em toda a cidade e isso está incluso nas rodovias federais e estaduais. Primeiro, a gente tem que amadurecer a ideia, pois é um projeto para a cidade inteira. O segundo passo é conversar e formatar uma parceria com a PRF e o Dnit. Gostaria que fosse para ainda esse ano, mas acredito que, para 2022, isso esteja mais concreto — apresenta.
O chefe da delegacia da PRF, em Caxias do Sul, Jonatas Josué Nery, diz que o caso dessa quinta-feira (4) reafirma a preocupação com o trecho da BR-116.
— É óbvio que nos entristece. É antiga a preocupação com esses acidentes, mesmo os que não são fatais, que culminam em lesões graves. É uma rodovia dupla, com quatro faixas, e que atravessa uma cidade de mais de meio milhão de habitantes e muitos pedestres. Por mais que a gente trabalhe para estar em um maior número nos pontos para fiscalização, principalmente de velocidade, ainda temos situações que fogem do nosso controle — salienta.
Para o chefe da PRF, o km 151 é, sem dúvida, um dos pontos de maior risco de atropelamentos. Ele acredita que uma estrutura viária melhor poderia ajudar a evitar novas ocorrências.
— É necessário que o Dnit faça algumas melhorias, como uma estrutura melhor para a rodovia, pois pode proporcionar a melhora para os pedestres. E estamos trabalhando e pleiteando isso, assim como controles de velocidades fixos em pontos específicos de maior incidência de acidentes. Além disso, atualizamos nossa tabela de locais para o uso do radar fotográfico, que não é operado aleatoriamente e, sim, onde está acontecendo a maior desobediência dos motoristas. Mas nada substitui a educação do condutor e dos pedestres para atravessarem em locais mais seguros — define.
Despedida será nesta sexta-feira (5), em Caxias
A morte de Márcia Patricia Pedroso Cavanholi pegou a todos de surpresa, ainda mais da forma como foi, sendo vítima de um atropelamento. A caxiense de 49 anos era moradora do bairro Vila Leon, em Caxias do Sul, e deixa o marido e o filho.
Era vista pelos familiares, amigos e conhecidos como uma mulher alegre e de grande coração, sempre disposta a receber a todos de melhor maneira possível. Outra característica marcante estava na força e dedicação colocada em seus trabalhos.
Aline Rizzon recebeu Márcia em sua casa nos últimos três meses para o serviço de limpeza. Ela a descreveu assim:
— Uma mulher guerreira, batalhadora, muito querida. Uma mulher de Deus. Fazia pouco tempo que ela estava trabalhando na minha em casa, aproximadamente três meses. A notícia foi impactante, estou muito sentida por ela e pela família — define.
O velório de Márcia será na Igreja Assembleia de Deus, no bairro Vila Leon. O sepultamento está marcado para as 11h desta sexta-feira (5), no Cemitério do Bairro São Vitor Cohab.