Ao longo da semana mostramos que Caxias do Sul deixou de ser referência na coleta seletiva e em limpeza urbana. A responsabilidade não é apenas do poder público, já que a comunidade tem misturado o seletivo com o orgânico, descartando o lixo de forma incorreta em locais proibidos e colocando os resíduos nos contêineres em dias em que não há coleta. Claro que a crise econômica enfrentada pela Codeca também não pode ser ignorada, e reflete diretamente no gerenciamento dos resíduos.
A sujeira vista na cidade gera reclamações entre os moradores e cobranças dos vereadores, que questionam o prefeito Adiló Didomenico (PSDB), principalmente pela atuação dele quando presidiu a companhia. Na última reportagem da série sobre o tema, o chefe do executivo avalia a gestão dos resíduos e apresenta alternativas para auxiliar as reciclagens. Ele adianta que está em tratativas a locação de uma máquina para separar os resíduos orgânicos do seletivo antes do lixo ser levado para o aterro Rincão das Flores:
— É um processo que a gente iniciou e está bem adiantado com o fabricante dessa máquina e ao que eu sei ele já formulou a proposta nos últimos dias para a prefeitura — adianta Adiló.
Esse equipamento será colocado na Estação de Transbordo no antigo aterro São Giácomo. Isso significa que antes da Codeca carregar o material para os caminhões que levam o lixo para o aterro será feita uma triagem.
— A máquina vai rasgando as sacolas para separar o orgânico do seletivo. Não dá a mesma qualidade como se fosse separada pelo contribuinte, mas ela consegue separar o material. Pretendemos locar esse equipamento para reduzir o volume de resíduos que vai para o aterro e, consequentemente, ter uma oferta maior de material para as nossas reciclagens. Hoje se vê muito material sendo compactado pelo trator no aterro, que poderia ser reciclado. Nós estamos gastando dinheiro para enterrar dinheiro — frisa ele.
Desestruturação da Codeca e retrocesso na separação do lixo
Para o prefeito, o atual cenário na gestão dos resíduos é reflexo da desestruturação da Codeca, mas também do retrocesso e da falta de cuidados na separação e destinação do lixo.
— Hoje, ela (Codeca) tem um sistema de coleta mecanizada que está superado. Tem caminhões na frota que foram comprados em 2007. Eles estão com 14 anos e nenhum deveria passar de 10 anos. O sistema de coleta mecanizada está bem sofrido, não foi feita a modernização e substituição de frota.
As campanhas de conscientização que eram feitas em escolas e empresas também foram reduzidas:
— Vamos retomar esses programas para melhorar a coleta, para reduzir custos porque isso se perdeu ao longo dos anos. Mas, primeiro, precisamos colocar a empresa de pé de novo. Nosso programa Luz, Cor e Flor vem trabalhando para devolver essas boas práticas e, principalmente, um trabalho educativo com as nossas crianças.
Retorno da fiscalização à noite e durante a madrugada
Outra alternativa é retomar a equipe de fiscalização à noite e durante a madrugada para atuar nas ruas de Caxias. Ele destaca que esse trabalho deve retornar a partir de 2022:
— A Codeca tem que ter uma equipe na madrugada que faça essa ronda de limpeza, mas, ao mesmo tempo, para chegar junto dessas pessoas que estão tirando o lixo e de forma educada, mas firme, pedir para eles que coloquem de volta o lixo. Fizemos isso por muitos anos e dá resultado.
O prefeito ressalta que o município suspeita que há recicladores particulares, inclusive de cidades vizinhas, que jogam o lixo dentro dos contêiner e, às vezes, no recipiente errado:
— Temos percebido muitas caminhonetes, algumas de outras cidades. Eles catam o material durante o dia e, à noite ou na madrugada, descartam os resíduos entupindo nossos contêineres. Aí o contribuinte chega para deixar o lixo e não tem lugar.
Problema social
Adiló avalia ainda que a crise econômica e o desemprego fez com que aumentasse o número de pessoas que trabalham com reciclagem:
— Essa situação botou muitas pessoas na rua catando material. Temos um número muito grande de reciclagens particulares em casa. Tem que ser feito um trabalho com eles, pedindo para ensacarem o material e deixarem na frente de casa para que seja coletado. Por medo de serem tributados por essa coleta, às vezes esse lixo é descartado de forma inadequada.
O prefeito lembra ainda que está em andamento uma proposta para construir um pavilhão para abrigar os catadores que hoje ficam na Rua Cristóforo Randon, no bairro Euzébio Beltrão de Queiróz.
— Já declaramos utilidade pública de uma área aos fundos do campo suplementar do Caxias. Vamos buscar parceria com empresas próximas e com a Coocaver para nos ajudar a construir esse local. Não estamos condenando e nem criticando ninguém, porque são pessoas que estão ali tirando seu sustento. Mas em um lugar inadequado. No próximo ano vamos resolver essa situação.
Parcerias com empresas
Sobre a possibilidade de parcerias com as empresas de Caxias, Adiló aponta que o assunto pode ser levado adiante:
— Temos o Sam's Club, que doa todo o material seletivo por conta do alvará que foi concedido ainda na época do Big. Muitas empresas fazem dividendos da venda do seletivo, mas, claro que podemos negociar. É um trabalho mais demorado e que a Semma e a Codeca podem auxiliar tentando conscientizar esses empresários a doar esse material para as associações conveniadas com o município — aponta o prefeito.