A trajetória da princesa Bruna Mallmann, 29 anos, eleita na noite desta quinta-feira (22) para compor o trio de soberanas da Festa da Uva 2022, se encaixa exatamente na descrição que ela mesma dá para este momento.
— Ser princesa da Festa da Uva é representar uma história repleta de força e de união daqueles que buscaram a felicidade em uma terra desconhecida e não desistiram do sonho da vida melhor. Eu trago isso comigo, principalmente, a força da minha mãe, para persistir nesse sonho e, agora, com muita honra, poder representar a cidade.
Foi preciso força para vencer a tristeza da perda da mãe, manter o compromisso assumido com o concurso e deixar transbordar o orgulho de representar a cultura do povo caxiense. Para isso, a união e apoio da família foram fundamentais. Para Bruna, que já acumulava conquistas como bióloga e professora, ser reconhecida como uma das soberanas também faz parte do caminho até a felicidade. Sem dúvida, é a realização de um sonho da menina meio moleca na infância, que jogava bola e subia em árvores com os primos, quando o bairro Centenário, onde nasceu e vive até hoje, ainda não era tão movimentado.
Na casa, atualmente, moram ela e o pai, Carlos Alberto Mallmann, 62 anos. Mas, segundo a princesa, tudo no lar lembra a mãe, Maria de Lurdes Mallmann, que morreu durante o concurso, em 26 de junho. Ela havia acabado de ver a filha desfilar, quando teve um infarto, chegou a ser socorrida, mas não resistiu.
— Era o alicerce da família — disse Carlos.
A foto da mãe repousava ao lado da faixa e coroa, quando a reportagem chegou na casa da Bruna, na manhã de sexta-feira (23), para o tradicional café com as soberanas. Desta vez, estavam seu Carlos e as irmãs, Patrícia e Kamila. Bruna é a caçula da família.
— A família unida, com garra, foi demonstrado isso ontem (quinta) à noite, e estamos muito feliz por isso. Ela (esposa) deixou um legado muito importante — comentou Carlos.
O vínculo com a comunidade foi alimentado desde a juventude. A mãe foi presidente do bairro, de círculo de pais e mestres e clube de mães. Bruna e as irmãs participaram do coral da igreja, dos almoços, da banda marcial da escola e de centro de tradições gaúchas. Foram figurantes em corsos alegóricos da Festa da Uva e do comercial do evento em 2000. Além disso, atuaram nos bastidores da escolha das soberanas em 2019.
O pai, agora aposentado, trabalhou por 38 anos na indústria têxtil. Enquanto, em casa, dona Maria de Lurdes sempre foi a soberana, além de administrar a cantina do colégio La Salle por 30 anos.
— Era cozinheira de mão cheia e sinônimo de mesa farta — revela Bruna.
Mas as filhas não têm muita familiaridade com as tarefas domésticas. Bruna confessa que, na cozinha, gosta de fazer pratos mais elaborados, como os que prepara para o namorado, com quem tem um relacionamento há mais de 10 anos, praticamente todo à distância.
Daqui para frente, a princesa vai verificar se será possível conciliar as aulas noturnas que leciona no Sesi, na modalidade Escola para Jovens e Adultos (EJA), com as atividades da Festa da Uva. A agenda ainda não está definida, mas o primeiro compromisso oficial deve ser na Câmara de Vereadores na manhã de terça-feira (27). Até lá, o final de semana de folga passará com a família.
Na sequência do concurso, realizada na noite de quinta (22), no UCS Teatro, Bruna integrou o desfile coletivo na reabertura do evento e sozinha, ao final das demais candidatas, já que havia sido avaliada pelos jurados ainda no dia 26 de junho. Sob palmas da plateia presente, não conteve a emoção ao se aproximar dos familiares.
— Eu queria passar uma mensagem bonita para as pessoas, de novos começos. Não deixa de ser o início de um novo ciclo. No momento em que passei perto da minha família, desabei. Eu quis me permitir sentir todas as emoções. As pessoas me aplaudindo em pé e todas emocionadas me fizeram ficar ainda mais emocionada e muito grata pelo carinho que me passaram naquele momento — comentou.
Ao ouvir o resultado, brotou ainda mais emoção.
— Veio a imagem da minha mãe. O quanto ela gostaria de viver esse momento, fazendo parte disso tudo. Senti ela comigo. Foi muito incrível. Um misto de sensações que não têm como descrever — relatou, emocionada.
O resultado do concurso foi divulgado pouco depois das 23h30min. Ao chegar em casa, foi recepcionada pelos parentes que moram nas casas vizinhas. A adrenalina não deixou com que Bruna adormecesse. Ela ainda leu e respondeu parte das centenas de mensagens que recebeu nas redes sociais. Pegou no sono por volta das 5h e às 8h a irmã, Kamila, chegava para revê-la.
— Quero ler todas as mensagens com muito carinho — disse a princesa, que fez curso de design para mídias sociais para se comunicar melhor pelo Instagran, rede preferida e onde posta curiosidades e história da Festa da Uva e da imigração.
Um dos amores mais recentes da princesa é Chopp, o filhote de golden que ganhou do namorado. Até então, a maioria dos bichos de estimação da família haviam sido gatos. A opção pela carreira na Biologia veio ao natural na vida dela.
— Brincava muito de ser cantora. Me vestia com as roupas da minha mãe, fingia que o pátio tinha público e cantava. Meu avô (paterno) era compositor, tocava violão. Cresci nesse ambiente. Aprendi a tocar violão aos 14 anos. A música é uma paixão. Mas, a Biologia veio muito forte. Não me imaginava fazendo outra coisa. Também brincava de dar aula. Sou muito realizada sendo professora. Consigo ver a transformação verdadeira que a educação causa nas pessoas — pondera Bruna.
Formada na UCS e com mestrado na Unisinos, ela projeta um doutorado para depois do período como soberana da Festa da Uva. Aliás, Bruna conseguiu aliar a bandeira da sustentabilidade, que defende na vida, ao glamour do evento. Fez isso junto com o estilista Fabrício Gelain, o Rico Bracco, na confecção do vestido feito de seda orgânica com linho, tingido com cascas de pinhão e bordado com formas das grimpas das araucárias e das videiras.
Sobre a realização da Festa da Uva em tempos de pandemia, Bruna acredita que seja uma oportunidade para resgatar o verdadeiro sentido da Festa.
— Nossa missão, como trio, é trazer essa mensagem de recomeço e também humanizar a comunicação com as pessoas para aproximá-las da Festa. É uma grande honra. É um título que muitas caxienses já almejaram, de grande responsabilidade e de muito amor. O formato com que a Festa virá no próximo ano pode ser um modelo para outros eventos. Respeito foi a palavra até aqui, com as pessoas que partiram em função da pandemia, e podemos tirar lições, como a resiliência que precisamos para participar desses recomeços e ter o brilho no olho para encarar a realidade mesmo diante de tanta dificuldade. Acredito que as pessoas tenham, dentro de si, uma vontade imensa de celebrar. E a Festa não deixa de celebrar a dificuldade, porque não foi fácil a história dos que aqui chegaram e eles conseguiram superar e construir essa cidade incrível que é Caxias — concluiu Bruna.