O ritmo de vacinação contra a covid-19 parece ter mudado em Caxias do Sul nos últimos dias. O movimento tranquilo, com menor procura nos pontos de vacinação, fez com que a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) ampliasse a imunização para contemplar mais faixas etárias na segunda (12) e na terça-feira (13).
Inicialmente, seriam vacinadas pessoas de 63 anos ou mais, divididos por mês de nascimento, mas todos dessa faixa puderam buscar a vacina ainda na segunda. Na terça pela manhã ocorreu o mesmo, e então foi aberta a vacinação para os idosos de 62 anos ou mais. Já na tarde de terça, a procura foi mais expressiva, tanto que a vacinação foi encerrada no final da manhã desta quarta-feira (14) porque as doses disponíveis foram todas aplicadas. Foram vacinados idosos no drive-thru do Shopping Villagio Caxias e nas Unidades Básicas Vacinadoras (UBSv) Centenário, São Ciro, Cristo Operário e Alvorada.
A imunização desse público será retomada quando o município receber mais doses destinadas à primeira aplicação. Ainda não há previsão para a chegada de novos lotes, mas o Ministério da Saúde já informou que as vacinas devem chegar até o final desta semana. Até o momento, mais de 11 mil pessoas dos 60 aos 64 anos foram imunizadas em Caxias, sendo que a estimativa é vacinar cerca de 19 mil dentro dessa faixa. De acordo com a SMS, essa estimativa é realizada com base nos dados da última campanha de vacinação contra a H1N1, bem como nos números do Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SIPNI), estimativa populacional do IBGE e dados do Serviço da Atenção Domiciliar (SAD).
A diretora da Vigilância em Saúde de Caxias do Sul, Juliana Argenta Calloni, frisa que, como se trata de uma estimativa, o público sofre alteração no decorrer na campanha e o número é modificado, já que os grupos contemplados podem ser alterados.
— Não temos um número exato porque trabalhamos com uma projeção, é apenas uma estimativa. Sabemos que quanto menor a idade maior o número de pessoas.
Ela também se refere à mudança de perfil dos vacinados: mais jovens, independentes e ainda no mercado de trabalho.
— Percebemos que, no início, com os mais velhos, a procura era maior. Agora temos muitas pessoas que ainda trabalham, são independentes e, por isso, não buscam a vacina no primeiro momento — destaca Juliana.
Os mais idosos eram levados por filhos e netos e a atual faixa etária é composta por pessoas mais ativas, que buscam a vacinação sozinhas, a caminho do trabalho e dentro de suas rotinas. Por isso, ela lembra que a imunização é aberta sempre contemplando a idade para cima para que todos sejam vacinados:
— Na terça-feira, um senhor de 74 anos foi vacinado porque é sempre daquela idade para cima. Além da mudança de perfil, também temos que avaliar que há situações que adiam a vacina, como ter sido contaminado pelo covid-19 entre uma dose e outra, por exemplo. Lembro que se alguém não fez a primeira dose sempre tem a chance de buscar a vacinação quando inicia uma nova faixa se está dentro dos grupos prioritários.
A diretora ressalta ainda que sobram doses e também não se pode falar em baixa adesão do público.
— Tivemos faixas etárias com mais pessoas vacinadas do que a projeção que temos. A vacina segue disponível, com um ritmo mais lento, mas também não vimos como baixa a adesão. O ritmo tem sido menor até pelo perfil dos vacinados — explica ela.
Aplicação da segunda dose
De acordo com dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI), 1,5 milhão de brasileiros já poderiam ter tomado a segunda dose, mas ainda não receberam o imunizante. Contudo, o economista Rodrigo Costa da Silva, que integra, a Rede Análise Covid-19 ressalta que há atraso na notificação do números de vacinados:
— As séries históricas dos vacinômetros estão sendo atualizadas com atrasos, e assim estão voltando para trás e mexendo nos dados anteriores. Se percebe um atraso dos estados dessas notificações porque não estão conseguindo registrar os números no dia em que são vacinados. É necessário cautela para analisar esses dados, porque não há segurança nos dados.
Ele explica que a premissa de uma série histórica é que ela não pode mudar os dados para trás. Mas não é o que tem ocorrido:
— Se analisar o vacinômetro do RS, por exemplo, os dados mudam todos os dias.
De acordo com especialistas, a segunda dose é essencial não apenas para proteção individual, mas também para que seja criada uma barreira na comunidade inteira, diminuindo as possibilidades de alguém se infectar. A biomédica e doutora em neurociências pela UFRGS, Mellanie Fontes-Dutra salienta a necessidade da segunda dose da vacinação:
— Estudos clínicos mostram que a proteção completa para vacinas de regime duas doses vem depois da aplicação delas. É de suma importância tomar a segunda dose no tempo estabelecido como adequado para fazer esse reforço, para ter uma proteção completa, um nível adequado de anticorpos, de células especialistas de defesa e uma imunidade mais protetora — analisa ela, que atua na Rede Análise Covid-19, equipe Halo da ONU, grupo InfoVid, Todos Pelas Vacinas e União Pró-Vacina.
Mellanie lembra que, para a CoronaVac, o melhor resultado, de acordo com os estudos, ocorre quando a segunda dose é aplicada em um intervalo de 21 a 28 dias. Já para a vacina da AstraZeneca, a maior eficácia é alcançada quando o intervalo entre a primeira e a segunda doses é de três meses. Ela ressalta que quem não toma a segunda dose não estará com a proteção completa.
— Apenas as duas doses vão conferir uma proteção adequada contra a doença e os agravamentos. Quem não toma a segunda dose deve tomar imediatamente, se já passou do prazo. Anotem a data para não esquecer porque é a segunda dose que garante essa imunidade.
Ainda não há dados de Caxias sobre ausência na aplicação da segunda dose
A diretora da Vigilância em Saúde de Caxias do Sul, Juliana Argenta Calloni, afirma que ainda não há dados referentes a quantas pessoas deixaram de tomar a segunda dose no prazo em Caxias do Sul.
— Começamos a aplicar a segunda dose em um maior número de pessoas na segunda-feira, e ainda estamos contabilizando quantos deixaram de buscar a imunização. Trabalhamos com várias vacinas no calendário vacinal e, infelizmente, observamos que nas outras vacinas, que tem o esquema com mais de uma dose, há situações em que as pessoas não concluem o esquema vacinal.
Ela ressalta a importância de receber a imunização completa:
— A pessoa só vai produzir os anticorpos se fizer as duas doses. Existe um intervalo ideal para cada vacina para melhor criação dos anticorpos, mas não perde a validade e nem há necessidade de reiniciar o esquema vacinal. Mas é imprescindível fazer a vacina.