Dos 237 trabalhos apresentados na 35ª edição da Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), seis são de estudantes da Serra gaúcha. Os jovens pesquisadores são das cidades de Bento Gonçalves, Canela e Caxias do Sul. Os temas dos projetos variam desde o estudo da relação entre as emoções e a racionalidade na formação de um caráter ético até a produção de um desinfetante elétrico líquido.
Realizada pela Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo, a mostra é a maior do gênero na América Latina. Nesta edição, que ocorre virtualmente dos dias 9 a 11 dezembro, a Mostratec recebeu trabalhos de estudantes de 18 estados brasileiros e projetos de 12 países voltados para as áreas científicas e tecnológicas. O evento é promovido em parceria com o governo do Estado e patrocínio de algumas instituições.
Para o estudante do Centro Tecnológico da Universidade de Caxias do Sul (Cetec), Diego Luiz Dall'agnol, de 17 anos, a participação de estreia no evento traz uma experiência de muitas trocas com os demais pesquisadores.
— Estar em contato com jovens pesquisadores de diversos lugares do Brasil e do mundo é uma experiência que adiciona muito em nossas vidas enquanto estudantes, mesmo que esse ano de forma on-line. Poder mostrar para o mundo um trabalho realizado dentro do ambiente escolar é algo muito gratificante — descreve Dall’agnol.
Ele, juntamente com as colegas Ana Lívia Machado Morelli e Júlia Squizzato, ambas com 16 anos, desenvolveram o projeto “Óleo essencial de cymbopogon citratus (capim- limão) através de nanotecnologia no controle da podridão olho de boi em frutos de macieira”. Realizado no Laboratório de Fitopatologia da Universidade de Caxias do Sul (Lafit UCS), o qual também forneceu o patógeno, o projeto já tinha sido estudado anteriormente, mas desta vez os estudantes se utilizaram de um objeto de estudo mais abrangente em nossa região, uma doença pós-colheita que atinge a cultura da maçã.
— Para a verificação das hipóteses foram preparados diferentes tratamentos em diferentes concentrações de óleo essencial associado a nanotecnologia. Foram realizados testes in vitro, onde o patógeno foi adicionado ao tratamento e em seguida adicionado em Placas de Petri em meio de cultura por sete dias e in vivo, onde os frutos adquiridos em Caxias do Sul foram banhados nos tratamentos, após receberam o inóculo e ficaram armazenados durante 14 dias — conta o integrante do trio, que ficou satisfeito com os resultados positivos no controle do causador da doença nas frutas.
Já as alunas do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia (IFRS) de Bento Gonçalves, Sofia Invernizzi Dal Ponte, 16, Taíssa Rabaioli, 16, e Tainá Vesterlund, 18, produziram um trabalho mais teórico sobre a pouca difusão do cuidado na saúde com plantas medicinais. A pesquisa recebeu o nome de “Levantamento sobre o uso da fitoterapia por profissionais da saúde após capacitação ofertada pelo Programa das Plantas Medicinais em Bento Gonçalves”.
Segundo Taíssa, os dados foram levantados a partir de capacitações realizadas com médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem de cinco unidades de saúde, em que eles responderam a um questionário sobre o uso da fitoterapia. A conclusão da pesquisa foi de que o baixo número de utilização de plantas medicinais na saúde se deve à carência na formação técnica.
Outro trabalho teórico de estudantes da mesma instituição se utiliza da pesquisa filosófica. “Razão e Paixões na Moralidade em Hume” busca compreender como se relacionam as nossas emoções e a nossa racionalidade na formação de um caráter considerado louvável - este sendo ético e coerente. A partir da leitura de livros do filósofo escocês David Hume, as estudantes Lorenza Pabst Botton, 18, e Bruna de Souza Vanazzi, 16, também buscam entender se a obtenção do caráter louvável e das ações virtuosas são possíveis para todas as pessoas.
— É a primeira vez na Mostratec, ainda não senti a ficha caindo. Eu me sinto muito grata por ter tido a oportunidade de fazer pesquisa durante meu Ensino Médio e participar de feiras dessa dimensão. Além disso, se tem poucos trabalhos de Ciências Humanas com o devido reconhecimento em mostras científicas, e um de Filosofia ter o destaque que está tendo, mostra a relevância da temática nos dias de hoje e a importância da reflexão filosófica para o desenvolvimento tanto acadêmico, quanto pessoal dos estudantes — explica Lorenza.
Com um projeto mais diferenciado dos demais, Maria Eduarda Valin Kaefer, Laura Alves Bohrer, Heloisa Ribeiro da Silva e Jairyni de Mello Tomé, todas com 17 anos e estudantes do Colégio Marista Maria Imaculada, de Canela, desenvolveram um aplicativo para auxiliar as pessoas que sofrem de depressão. Intitulado “Ajuda Amarela”, a ideia surgiu depois da participação na Mostra de Conhecimento da escola, que ocorre anualmente.
— A gente quis trazer um pouco mais da realidade, que é uma coisa principalmente agora na pandemia, que estamos enfrentando muito. Só no século 21 já foram confirmados mais de 300 milhões de casos de depressão. Por que não ajudar as pessoas que sofrem desse transtorno? Então veio a ideia de criar um aplicativo de entretenimento para ajudar com os horários de tomar os remédios, uma coisa para ler. Tem dentro uma aba onde leva a telefones do CVV, que tem melhores contatos de psicólogos e podem ajudar essas pessoas — comunica Maria Eduarda, sobre o projeto que já participou de outras três feiras e, entre elas, ganhou o primeiro lugar na categoria Ensino Médio e Curso Técnico na Mostra Científica e Tecnológica das Escolas de Ensino Fundamental e Médio da Serra Gaúcha (Mostraseg).
Em Caxias do Sul, outros dois projetos de alunos do Cetec também ganharam espaço na Mostratec deste ano. O primeiro denominado “Estudo comparativo dos desenvolvimentos sociais e econômicos indígenas nas tribos dos Kaingang (Farroupilha) e Caingangues (Erechim), entre os anos de 1930 e 2020” faz um paralelo das tribos indígenas desde a Era Vargas até o momento atual do Brasil.
Composto por Manuela Teles da Roza, Laura Elizama Silveira Calgaro, ambas de 16 anos, e Gabriela Priscila da Silva, 17, o trio acredita que, com a pesquisa, possam conscientizar as pessoas da importância desses povos para a história do país e mostrar a forte luta deles pelos seus direitos.
— Estamos um pouco nervosas mas, ao mesmo tempo, seguras do trabalho que fizemos e muito felizes de podermos representar a nossa escola em um evento tão importante quanto a Mostratec. Ao passo que também levamos o peso de estarmos com o primeiro trabalho de Ciências Humanas que sai da escola para uma mostra maior e esperamos poder usar nosso lugar de fala para dar voz a essas populações importantes e que lutam há muito tempo por seu reconhecimento, que não tem sido efetivo — esclarece Manuela.
O outro projeto se trata de um desinfetante elétrico líquido natural, que é produzido com óleo essencial de Tea Tree, e utilizado para a limpeza de ambientes e prevenção de bactérias e vírus. Desenvolvido pelas estudantes Luiza Bemfica Sant’Ana e Júlia de Azambuja Vaniel, ambas de 16 anos, o desinfetante foi constituído nos moldes do dispositivo de um repelente elétrico líquido que, ao se conectar na tomada, começa a agir e inicia a sua camada protetora.
— Utilizamos o óleo essencial de Tea Tree, que já possui propilenoglicol na sua composição, o que evita muita evaporação do líquido, e para a diluição deste óleo utilizamos o álcool de cereais. Por estarmos em meio a uma pandemia, decidimos fazer algo que pudesse ajudar a sociedade como um todo. É um produto prático na sua utilização — completa Luiza.