Representantes de entidades de classe e prefeitos de municípios da Serra gaúcha consideram inviável a proposta de criação de um binário envolvendo a RS-122 e a BR-116 na região. A hipótese foi levantada pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, no último dia 7, durante reunião-almoço da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul. Com a medida, a RS-122 ganharia sentido único entre Caxias do Sul e Campestre da Serra e o sentido contrário seria realizado pela BR-116.
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A manifestação do ministro ocorreu após questionamentos a respeitos dos problemas estruturais da BR-116 ente São Marcos e Campestre da Serra, que impedem o tráfego de veículos maiores. Freitas respondeu que a solução poderia aliviar o trânsito entre Vacaria e Caxias do Sul e que o estudo de viabilidade aponta que o binário "parece fazer muito sentido".
De acordo com o diretor institucional da CIC, Rubem Bisi, é a primeira vez que a proposta é apresentada à entidade e, no entendimento dele, precisa ser melhor debatida. A principal preocupação é com relação ao deslocamento de moradores dos municípios cortados por uma das rodovias, como Flores da Cunha, Antônio Prado e São Marcos.
— Nos surpreendeu essa solução. Nunca solicitamos e não tínhamos essa informação. Precisa ser mais debatido e teríamos que verificar, porque vai ter impactos. Retificar todas as curvas seria mais barato do que fazer binário, mas tem que ver com os moradores. Se for alguma medida temporária, em que depois se faça a obra definitiva, tudo bem, se sabe que é um sacrifício — avalia Bisi, que afirma que a BR-116 tem 12 curvas que prejudicam o fluxo de ônibus e caminhões de grande porte no trecho.
Vice-presidente de assuntos de infraestrutura da Associação das Entidades Representativas de Classe Empresarial da Serra Gaúcha (CICs Serra), Elton Gialdi, acredita que o modelo não deve prosperar após passar por uma análise técnica mais profunda. Ele defende que a solução para as rodovias da região passa pela duplicação a partir das concessões que estão em estudo pelo governo do Estado.
— Quando o ministro se debruçar, na prática, sobre isso, ele vai entender que há questões que talvez comprometam essa possibilidade. Uma delas é a extrema distância — avalia.
Em nota, o Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit) disse que o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) da BR-116 foi concluído em janeiro de 2020. O documento apontou como alternativa a realização de melhorias na RS-122 e a implantação de um corredor oeste, com o desvio de Caxias do Sul até o ponto onde está previsto o início do prolongamento da Rodovia do Parque, em Portão. O EVTEA passa por análise na diretoria de Planejamento e Pesquisa do DNIT, em Brasília. A nota não menciona a possível criação de um binário.
Já a Secretaria Extraordinária de Parcerias Estratégicas do Estado, que gerencia os projetos de concessões, afirma que os estudos em andamento nas rodovias da Serra para avaliar o modelo ideal de parceria também servirão para verificar a viabilidade de um binário entre a BR-116 e a RS-122.
Cidades serão prejudicadas, afirmam prefeitos
Às margens da RS-122, Antônio Prado e Flores da Cunha estão entre as cidades mais impactadas caso o binário efetivamente vire realidade. Independentemente do sentido adotado na rodovia, moradores dos municípios precisariam realizar um contorno via BR-116 para ir viajar ou voltar para casa, alongando muito o percurso atual.
— Estamos a 50 quilômetros de Caxias. Vamos imaginar que a RS-122 só suba. Quem sair de Antônio Prado terá que ir até Campestre da Serra, depois São Marcos para chegar em Caxias. Se for para Flores da Cunha é pior ainda. Nós e Ipê com certeza seríamos os municípios mais prejudicados — avalia o prefeito Juarez Santinon.
Segundo ele, os caminhos alternativos atuais não contam com boa estrutura e levam até a ponte sobre o Rio das Antas na RS-122, o que não solucionaria o problema.
O prefeito de Flores da Cunha, Lídio Scortegagna, segue a linha do colega de Antônio Prado e defende que a solução para a RS-122 é a duplicação.
— Nos últimos 20 anos ganhamos praça de pedágio e não ganhamos um trevo de acesso. A tese (do binário) está totalmente equivocada. Estaríamos colocando parte dos veículos em uma estrada e outra parte em outra. Isso não resolve nada — opina.
A principal alternativa para se chegar a São Marcos a partir de Flores da Cunha atualmente é uma estrada municipal em fase de pavimentação. Contudo, para se tornar uma ligação realmente viável, seria preciso alargar a via.
Já o presidente da Câmara de Indústria, Comércio, Serviços e Agropecuária (CIC) de São Marcos, Dorival Perozzo, afirma que o assunto deve ser discutido com muito cuidado e é inviável na atual situação. Ele acredita que consertar as curvas da rodovia para facilitar o tráfego de caminhões seja uma solução mais realista.
— Precisamos pensar não somente nos deslocamentos de longo percurso, mas também em quem está no meio do caminho. Esse sistema funciona quando há uma ligação entre as estradas. Precisa ter uma estrutura bastante eficiente para atender quem está no meio do caminho — defende.
O QUE DISSE O MINISTRO
"Existe uma solução bastante interessante, de maior viabilidade: a absorção da RS-122, incorporaria isso, uma BR e faríamos um binário. Então teríamos uma subida num sentido e a descida no outro sentido e, com isso, aliviaríamos muito o trânsito de Vacaria a Caxias. Faríamos um binário usando a RS-122 conjugada com a BR-116. Estudo de viabilidade mostra que parece fazer muito sentido."
O QUE PENSA A REGIÃO
Ruben Bisi, diretor Institucional da CIC Caxias
"Nos surpreendeu essa solução. A CIC está a bastante tempo reivindicando uma retificação por conta das curvas da BR-116, em São Marcos. Seria mais barato do que fazer binário, mas tem que ver com os moradores"
Elton Gialdi, vice-presidente de assuntos de infraestrutura do CICs Serra
"Imagino que quando o ministro se debruçar sobre isso vai perceber que é inviável, mas algo precisa ser feito na RS-122 e na BR-116. Se não fizermos concessões, nunca teremos rodovias adequadas no Rio Grande do Sul"
Lídio Scortegagna, prefeito de Flores da Cunha
"Os municípios da Serra têm potencial muito grande e precisamos da duplicação que estamos brigando há muito tempo. A tese do binário está totalmente equivocada".
Juarez Santinon, prefeito de Antônio Prado
"Para nós seria terrível. Nós e Ipê seríamos os mais prejudicados. Isso é simplesmente tentar fazer algo sem gastar"
Dorival Perozzo, presidente da CIC de São Marcos
"Temos que pensar em quem está no meio do caminho. O que precisamos é melhorar o acesso. É mais viável que ficar sonhando com altos investimentos".