A morte da fisioterapeuta Camila Fiorio, 37 anos, abateu familiares e amigos, tal como ocorreu com as outras 70 vítimas de covid-19 em Caxias do Sul. O caso de Camila, entretanto, ressalta aspectos muitas vezes subestimados da doença, pois prova que embora cause mais óbitos em pessoas idosas com comorbidades, nem todas as vítimas se enquadram nesses critérios. Camila não tinha histórico de doenças preexistentes e, dentro das estatísticas mais predominantes, também estava muito abaixo da faixa etária mais vulnerável.
Contudo, a fisioterapeuta pertencia a um outro grupo de risco, o de profissionais de saúde, que por circularem em ambientes de hospitais, ambulatórios ou clínicas, acabam naturalmente ficando mais expostos ao vírus. A morte de Camila representa o primeiro óbito de um profissional de saúde em Caxias, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
O Hospital Pompéia, instituição onde Camila trabalhava há 12 anos e atualmente exercia a gestão do serviço de fisioterapia, publicou nota de pesar lamentando a perda da profissional.
"Camila será lembrada por todo o time do Pompéia, pela dedicação e empenho com que exerceu suas atividades. Manifestamos nossa gratidão pelo privilégio de termos convivido com Camila e prestamos nossas condolências e solidariedade à família e aos amigos. Neste momento tão delicado da pandemia, são os profissionais da saúde que não medem esforços para dar dignidade aos doentes e acalmar seus sofrimentos. Todo nosso respeito a Camila, que ela descanse em paz e a família, nossos mais profundos sentimentos", diz um trecho da nota.
Camila foi a 71ª vítima de covid-19 em Caxias do Sul.
A perda de "um ser iluminado"
Para amigos, a lembrança que prevalecerá será a de uma profissional dedicada e de uma pessoa atenciosa em todas as suas relações.
— Difícil de acreditar, muita tristeza para todos nós. Perdemos uma colega de trabalho exemplar, de um coração lindo e puro. Uma pessoa fantástica que estava atuando na linha de frente, no cuidado com os pacientes covid, e através de uma infeliz coincidência, o mesmo a levou de uma forma repentina e triste. Nos fará muita falta como amiga, colega de trabalho e uma incrível profissional. Ainda há muito que lutar, precisamos ser fortes! — afirma a enfermeira do pronto-atendimento da Unimed, Camila Fernanda Plein, que trabalhou com Camila no Pompéia por 10 anos.
A auxiliar administrativa da coordenação do Pompéia, Rosângela Diniz, que convivia diariamente com Camila há cerca de dois anos, ressalta que mesmo que os profissionais do hospital testemunhem diariamente perdas e o avanço da doença, a experiência não os prepara para momentos como esse.
— Ainda não me caiu a ficha e acho que amanhã (segunda-feira), quando chegar ao trabalho e não ver ela, vai ser devastador. Trabalhamos dentro do hospital e acostumados a ver perdas, mas nunca preparados para perder alguém, e assim, tão repentinamente.
Para Rosângela, a morte de Camila representa a perda de "um ser iluminado".
— Camila foi a melhor pessoa que eu conheci, que abraçava as pessoas até com o olhar. Sempre um sorriso sincero, sempre uma palavra amiga, e que priorizava o bem estar de seus pacientes a cima de tudo. Fará muita falta pra mim e pra todos que conviviam com ela. Era um ser iluminado.
Segundo Rosângela, assim como todos os profissionais do hospital, Camila era uma pessoa bastante cuidadosa e que já havia vivenciado o enfrentamento ao H1N1 atuando no hospital. No entanto, nem isso impediu que o vírus chegasse até ela.
— Esse vírus é muito rápido e realmente mortal, não deu tempo de se preparar. Foi ela, mas poderia ser qualquer um de nós. As pessoas que se contaminam são jovens, ou de qualquer idade. No geral, as pessoas estão cansadas de ficar em casa, se preocupam com o lado financeiro, perder seus empregos, a liberdade, as festas, o cuidado diário acaba sendo cansativo, e como não acontece com alguém conhecido pensam ser apenas estatísticas. Mas ele (o vírus) está aí, é real, não podemos descuidar, cada um tem que fazer o que pode, da melhor forma, porque a cura talvez demore, mas a perda de alguém querido dura pra sempre!