Enquanto a Serra ultrapassa a marca de 10 mil pessoas infectadas pelo coronavírus, uma única cidade da região continua sem casos da doença. Há quatro meses adotando medidas de prevenção e cumprindo um distanciamento social que já era quase natural para os moradores, Pinhal da Serra conseguiu barrar a entrada do vírus até agora.
Com 75% dos cerca de 2 mil habitantes vivendo na zona rural, a pequena cidade, localizada na divisa com Santa Catarina, a 208 quilômetros de Caxias do Sul, adotou as primeiras medidas de prevenção em 21 de março. Depois de um período de 10 dias com maior restrição, quando apenas o comércio essencial funcionou, a prefeitura adaptou as normas, mas sem relaxar os cuidados. Cada morador recebeu duas máscaras de proteção, que teve a adesão de 98% da população, segundo estimativa da prefeitura.
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Além disso, uma rede de informação foi criada a partir da rádio comunitária, com microfone aberto para esclarecer sobre as formas de contágio, os riscos da doença e a importância do isolamento. Com dois acessos principais – um que liga a cidade a Esmeralda e outro a Anita Garibaldi (SC) – Pinhal da Serra não chegou a adotar barreiras sanitárias. A prefeitura conta com o tradicional boca a boca para monitorar os casos suspeitos.
O secretário da Saúde, Kalil da Costa e Silva, acredita que a estratégia da saúde da família, implantada no município em 2008, também facilita a contenção da doença. Seis servidores permaneceram em contato com os moradores para prestar apoio e esclarecer dúvidas. O conjunto de medidas surtiu efeito:
– As pessoas respeitam a situação, até porque têm consciência de que, se precisarem de atendimento, vão depender do hospital de Vacaria, que fica a 90 quilômetros daqui. E por lá a situação não está tranquila – relata o secretário.
Em Vacaria, há 261 casos confirmados, nove mortes e 55% dos leitos de UTI ocupados.
Mesmo sem casos, famílias são isoladas
Quando há suspeita de contaminação, famílias inteiras são colocadas em isolamento, mesmo sem ninguém ter testado positivo para a covid-19. É o exemplo dos trabalhadores que tiveram contato com uma farmacêutica de outra cidade que estava com a doença. Desde o dia 13, a família da atendente Gislaine Furtado Teixeira, 30 anos, está isolada em casa. Um grupo de WhatsApp foi criado com a equipe de saúde da prefeitura para relatar possíveis sintomas e consultas por vídeo. Morando em uma casa no interior do município, a família formada ainda pelo motorista Leonardo Almeida Teixeira, 34, e os filhos Andriel, 13, e Thaiz, cinco, não teve o que reclamar da quarentena.
– A gente pode correr no pátio, brincar de se esconder, foi uma rotina bem leve. Mas o melhor é saber que não colocamos ninguém em risco e temos certeza que não passamos o vírus adiante – relata o marido da atendente.
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Apesar de distante da doença, Pinhal da Serra não conseguiu evitar os efeitos econômicos da pandemia. Com menos pessoas circulando e a diminuição no consumo, o dono do único posto de gasolina da cidade viu o faturamento cair em 40% nos últimos meses. Apesar disso, Ronaldo Matté, 33, reconhece a importância das medidas de prevenção.
– No comércio todo mundo se lascou, mas eu acho que a população poderia se cuidar mais. Como não tem casos, o pessoal vem relaxando, alguns não querem usar a máscara porque aqui o vírus ainda não chegou. Deveria ser o contrário. Imagina se algum funcionário fica doente e eu tenho que fechar o posto? Nesse momento temos que preservar a saúde para que não fique tudo ainda pior – defende.
A cidade em números
:: População estimada (em 2019): 1.941 pessoas
:: Área territorial: 438,110 km²
:: Densidade demográfica: 4,86 hab/km²
:: PIB per capita: R$ 157.209,06
Sobre o coronavírus
:: Pacientes monitorados desde março: 24
:: Testes negativos: 31