Bruna Sum Ferreira, 29 anos, estava indo tomar banho quando percebeu uma movimentação estranha na vizinhança em beco do bairro Charqueadas, seu endereço até o fim da tarde de sábado (14). Ela faz parte das oito famílias que perderam tudo o que tinham no incêndio que atingiu a pequena comunidade, localizada próximo à Pedreira Guerra.
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— Da minha casa, não consegui salvar nem documento, nem nada, queimou tudo. Quando abri o portão, tinha tomado tudo de fumaça preta, daí só gritei para meus cachorros e saí com minha filha — relatou ela.
Na manhã deste domingo, quando o cheiro de fumaça ainda era muito forte no local, Bruna tentava se recompor em meio aos escombros da residência onde vivia com o marido e a filha de 15 anos. Somente ela e a adolescente estavam na residência no momento do incêndio. O fogo começou numa casa que ficava em frente à casa de Bruna, numa descida. Todas as casas localizadas ao lado daquela onde o fogo começou queimaram por completo.
— De repente levantou aquele fogo e saltou para as outras casas. Neste horário, só tinha mulher em casa, os homens estavam trabalhando, o negócio era correr. Começou a juntar gente, jogar balde de água, mas não adiantou — disse ela, que ainda reclamou da demora dos bombeiros, que teriam levado mais de uma hora para chegarem; em contraponto, o Corpo de Bombeiros informou ter levado somente 13 minutos para chegar ao local após a primeira ligação.
Além da família, sete cachorros viviam na residência de Bruna. Ela acabou se ferindo na tentativa de salvar os animais, conseguiu tirar somente três deles de dentro da casa.
— A hora que eu estava correndo, o fogo estava alto. Quando me lembrei que os cachorros estavam presos eu voltei, e corri. Quando passei, pegou o calor e machucou meu braço. Fiquei até quase uma da manhã na UPA em observação — contou ela.
Bruna disse que, nesta segunda, deve comparecer à prefeitura para saber como o poder público poderá ajudá-la. Enquanto isso, ela e a família contam com o auxílio de vizinhos e estão ficando temporariamente na Casa de Oração Betel, bem ao lado de onde ela morava. A igreja evangélica, aliás, serviu como ponto de centralização de auxílio aos moradores durante o incêndio. O pastor da congregação, Paulo Ribeiro, 38, chegou ao local por volta das 17h, para limpar o espaço e preparar o tradicional culto de sábado, às 20h. O inesperado incêndio impediu o culto, já que nesse horário o pastor e os moradores ainda se dividiam na tarefa de encher baldes com água e tentar ajudar os bombeiros a conter as chamas.
— Arrebentamos o cano da pia da igreja para ajudar com a água. Quando as chamas foram contidas, veio muita fumaça. Foi desesperador. O pessoal já não tem muito e perdeu tudo — lamentou Ribeiro.
A própria edificação onde a igreja está localizada, ao lado da casa de Bruna, também correu risco durante o incêndio.
— A igreja tem três anos e somente em novembro do ano passado eu consegui fazer um empréstimo para reformar ela, que era de madeira, para construir de bloco. Se não tivesse feito isso, provavelmente ela não estaria mais aqui — concluiu o pastor.