O município de Antônio Prado, na Serra gaúcha, preserva um mais importantes testemunhos do legado cultural da imigração italiana. São 48 imóveis construídos no final do século 19 e início do século 20 na área central da cidade, que guardam e retratam a história dos imigrantes.
Para garantir que o centro histórico fosse preservado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) oficializou o tombamento, em 1990. O ato gerou muita polêmica e até um movimento contra o tombamento. Muitos proprietários são obrigados a fazer a manutenção das construções por conta própria seguindo as rigorosas normas impostas pela lei. Poucos comemoram os 30 anos de tombamento.
Em sua dissertação de mestrado pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), a arquiteta Terezinha Buchebuan trata do conflito gerado pelo ato de tombamento do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Antônio Prado.
Ainda hoje, alguns proprietários das casas históricas se sentem lesados pelo ato.
— Foi uma decisão imposta de cima para baixo — reclama o casal Wlademir Jacob Colossi e Maria Ercília Grazziotin Colossi, que precisam desembolsar dinheiro do próprio bolso para fazer a manutenção da casa.
Terezinha concorda que o tombamento foi um ato de violência simbólica. Porém, se a decisão não tivesse sido tomada desta forma, ressalta, provavelmente a região não teria mais esse patrimônio para contar a sua história. Nos municípios vizinhos, na Serra, há alguns exemplares isolados, que não chegam a formar esse importante conjunto urbano.
— Felizmente, o conflito entre os interesses públicos e os individuais não impediu que os velhos casarões se tornassem uma marca da representação da italianidade ou da identidade nacional — destaca a arquiteta.
A professora foi responsável pelo escritório técnico do Iphan no município de 2006 a 2012, atuando como ponte entre a população e o órgão federal. A ideia de desenvolver o estudo surgiu após vivenciar as demandas e a tensão da comunidade.
— No próprio órgão tinha divergências por conta da fragilidade, principalmente no casario de madeira, que precisa de manutenção com mais frequência.
Outra questão que ajudou a acirrar os ânimos foi a de que, logo após o tombamento, os escritórios técnicos do Iphan, de todo o país, foram fechados pelo governo.
Sobre o futuro do sítio histórico, a arquiteta acredita que há uma conscientização dos jovens sobre a importância de manter essas marcas do passado.
— É possível sentir essa valorização, de que o patrimônio tem que se manter para poder contar a história às futuras gerações.
O PATRIMÔNIO
* O processo de tombamento do conjunto arquitetônico e urbanístico de Antônio Prado foi concluído em 1990. Além de proteger as 48 casas, o Iphan buscou preservar o traçado das ruas, praças e vistas do centro da cidade.
* O primeiro imóvel tombado foi a Casa da Neni, por iniciativa do proprietário, em 1985. Hoje, a residência abriga o Museu Municipal Padre Schio.
* A maioria das casas está localizada ao redor da Praça Garibaldi e na Avenida Valdomiro Bocchese e Av. dos Imigrantes. A Zona de Proteção Rigorosa do patrimônio margeia estas vias.
* Quase todos os casarões protegidos são de madeira do pinheiro araucária, material típico da região. A técnica de construção representa a época de apogeu da primeira geração de imigrantes, quando eles já estavam estabelecidos definitivamente nas colônias. Com o passar do tempo, diversas casas foram ornamentadas com lambrequins (elementos decorativos nos telhados), traço marcante da arquitetura local.
* Antônio Prado é considerado, juntamente com Santa Tereza, que teve o núcleo urbano tombado em 2012, o mais bem preservado testemunho do legado cultural da imigração italiana no Brasil.
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