Dois caminhos foram utilizados pelos motoristas como alternativas à Rota do Sol, que ficou bloqueada totalmente em Itati, da manhã do último domingo até a noite de ontem, quando foi liberada. Porém, essas estradas alternativas estão em condições precárias e oferecem risco a quem trafega por elas. Uma delas é a Serra do Umbú e a outra, a Serra do Faxinal (leia mais nos textos abaixo). Ambas as serras são íngremes e perigosas tanto para as pessoas que as sobem quanto para quem as desce. É preciso redobrar a atenção, principalmente, em dias chuvosos e com neblina. Além disso, elas aumentam o percurso dos 180 quilômetros que ligam Caxias a Terra de Areia pela Rota do Sol em 19 e 79 quilômetros, respectivamente.
Ontem, o Daer reiterou a instabilidade do terreno às margens da ERS-486, no ponto onde ocorreram os deslizamentos – o primeiro foi no dia 22 de maio e o segundo no domingo. Isso pode ocasionar novos desmoronamentos na encosta. Uma das pedras que caiu media 3m50cm de altura por 4 metros de espessura e 3m20cm de largura.
Uma equipe trabalhou na remoção de pedras que ainda corriam risco de cair. Os blocos eram amarrados com cordas e puxados por uma retroescavadeira. O objetivo é evitar novas quedas. Na terça-feira, uma pedra de 21 toneladas caiu sobre a pista já interditada.
De acordo com a titular da superintendência do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) em Osório, Daiani Trisch, que orienta o trabalho, é preciso muito cuidado para evitar riscos aos trabalhadores e garantir a segurança da população ao passar pelo trecho.
– Nem sempre o rápido é o certo. Se fizermos na velocidade que a sociedade quer, vamos ter um acidente grave. É um trabalho muito artesanal, mas com engenharia – afirmou a superintendente sobre o tempo que a rodovia ficou interditada.
No começo da noite de ontem o Daer liberou o trânsito nas duas pistas sentido Litoral-Serra, possibilitando que cada uma seja utilizada por um sentido de fluxo. Segundo a engenheira, a Secretaria Estadual de Logística e Transportes disponibilizou os recursos necessários para a limpeza e estabilização da encosta.
Ainda conforme Daiani, as redes de contenção instaladas na época da construção da estrada não suportaram a força do primeiro deslizamento porque ele foi maior do que o projetado à época. Situações assim ocorrem porque, normalmente, os projetos são elaborados com base no comportamento mais comum do terreno, mas situações incomuns podem ocorrer. Além disso, o solo se modifica ao longo do tempo.
O próximo passo, após a liberação da rodovia, será a instalação de uma nova contenção no ponto. Para isso, é necessário a elaboração de um projeto por parte do Daer. Enquanto isso, a rodovia seguirá sendo monitorada e não estão descartadas novas interdições em casos de períodos prolongados de chuva.
Rota com estrada de chão pela Serra do Umbú
O percurso até a Serra do Umbú começa na Rota do Sol em um trecho de 100 quilômetros de asfalto. A pavimentação é boa na RSC-453. Já na sequência, a ERS-486, tem asfalto deteriorado, buracos e sinalização apagada. Assim como na ERS-020, acesso a São Francisco de Paula, que tem muitos e grandes buracos. Depois, é preciso acessar a ERS-484, onde segue um trecho de 54 quilômetros de chão. Destes, 14 quilômetros são de serrania. Na terça-feira à tarde, quando a reportagem fez o trajeto, havia queda de barreira na estrada. Há pontilhões onde só passam um carro por vez e que não são sinalizados. O fluxo de caminhões é frequente ao longo da estrada. Na parte da serra, a pista estreita, há curvas acentuadas, buracos, valas abertas pela água e trechos com barro. A buraqueira aumenta na parte mais plana no município de Maquiné, tornando impossível escapar deles. No trecho final, de Maquiné até Terra de Areia tem 25 quilômetros asfaltados, no total de 199 quilômetros.
– Está um horror. Tem gente que bota o pé no freio lá em cima e chega aqui com os pneus cheirando a queimado. Estávamos abandonados. Levaram dois anos para colocar uma máquina na estrada – lamenta o comerciante Enedir Antonio Boff, 57 anos, que tem uma tenda na localidade de Linha Cerrito, em Maquiné, há 45 anos.
Ele diz que, no local, choveu até a noite da última segunda-feira, o que fez piorar a situação da via, que teve o fluxo aumentado desde que a Rota do Sol foi interditada no domingo. A reportagem encontrou, na margem da estrada, uma patrola e caminhões da Superintendência do Daer com sede em São Francisco de Paula, responsável pela manutenção do trecho.
:: RSC-453, ERS-486 (Rota do Sol) até o trevo de acesso a São Francisco de Paula, na ERS-020, depois, ERS-484 (estrada de chão que liga São Francisco de Paula até Maquiné), até a ERS-101 e BR-101, em Terra de Areia.
Rota com estrada do chão pela Serra do Faxinal
Quem optar pelo outro caminho, a Serra do Faxinal, vai enfrentar problemas semelhantes. O início do trajeto é o mesmo (RSC-453 e ERS-486), só que o acesso é pela ERS-020 em direção a Cambará do Sul. Até aí, são 134 quilômetros de asfalto e sinalização em boas condições. O problema começa ao acessar a ERS-427, em Cambará, estrada de chão que encontra a SC-290, ligando o município gaúcho ao catarinense Praia Grande.
É nesse perímetro de 34 quilômetros de chão que estão curvas muito acentuadas com pedras soltas e trechos de barro e buraqueira, no Morro dos Cabritos (1.045 metros acima do nível do mar). Lá, também está o Parque Nacional Aparados da Serra. Encontramos o caminhoneiro Cleder Nielsen, 38 anos, seguindo para São José dos Ausentes para buscar uma carga de milho. Ele confirmou que utilizava o trajeto como alternativa à Rota do Sol. Havia um caminhão e máquina empedrando a via.
O asfalto retorna na área mais urbana de Praia Grande, segue no município de São João do Sul e por 25 quilômetros até Terra de Areia. No total, esse caminho tem 259 quilômetros.
:: RSC-453, ERS-486 (Rota do Sol), ERS-020 (em Francisco de Paula e Cambará do Sul), ERS- 427 (Cambará do Sul)e SC-290 (Praia Grande e São João do Sul, em Santa Catarina) e BR-101, até Terra de Areia