A rede pública hospitalar de Caxias do Sul atende a mais de 40 municípios da região. Normalmente, os casos transferidos são de urgência ou emergência e com isso uma demanda pouco visível acaba se perdendo na pressa pela busca de atendimento: pessoas de baixa renda têm dificuldades em arranjar alojamento na cidade em razão da falta de dinheiro.
Os hospitais Geral e Pompéia confirmam que há demanda por acolhida e que não há como respondê-la, pois o serviço inexiste no município. Ou, pelo menos, não existia, até hoje. Nesta quarta-feira ocorre a inauguração da Casa de Acolhida Luiz Matias, no bairro Jardim América. O projeto é uma iniciativa do Instituto Anglicano, que irá coordenar o espaço com o trabalho de cerca de 20 voluntários.
O local contará com 25 vagas em seis dormitórios, que serão dedicados exclusivamente a familiares de pacientes de outras localidades que se deslocam a Caxias para internação. Assistentes sociais dos hospitais é que farão contato com a casa para solicitar o acolhimento. Mesmo antes de inaugurar, pessoas já foram acolhidas temporariamente.
— Acolhemos um casal de Aparecida de Goiânia nesta semana. Ano passado, descobrimos que uma mulher vinda de Guaporé e que tinha acabado de ter um bebê prematuro precisou dormir no carro porque não conseguiu acolhimento. Por isso, vamos inaugurar sem reformar parte da estrutura, pois a demanda está muito grande — diz o coordenador da casa, Anderson Luiz Golin.
Até então, os hospitais tentavam se virar como podiam para não deixar desassistidas pessoas sem local para repouso.
— Não temos onde colocar os familiares, mas às vezes auxiliamos conseguindo lugar para banho e outros serviços básicos. Porém, em alguns casos, isso é inviável — relata a assistente social do Hospital Pompéia, Simone Arcaro.
Ela cita um exemplo de demanda que não conseguiu ser atendida justamente pela falta desse tipo de estrutura:
— Há algum tempo, tivemos quatro casos de UTI neonatal em que as mães precisavam de acolhimento. Porém, só temos um quarto com duas camas, por isso, tivemos de dar um jeito de revezá-las. A criação da casa é muito bem-vinda — ressalta.
Sem custos de aluguel
A casa utiliza as antigas ocupações da Casa de Repouso São José, fechada em março do ano passado. O proprietário do imóvel cedeu o espaço gratuitamente para o Instituto Anglicano por pelo menos um ano. Por esse motivo, foi homenageado com a denominação do local.
— A casa ficou abandonada por alguns meses e sofreu bastante depredação e furtos. Fomos falar com o dono do imóvel e ele gentilmente nos emprestou. Por isso, demos o nome dele à nossa casa — ressalta Golin.
Ao todo, são 585 metros quadrados que incluem seis quartos, seis banheiros, refeitório, cozinha, sala de estar, capela, lavanderia, além de área externa para repouso.
Uma missa será realizada para inauguração do espaço, às 19h30min.
Dependente de doações
Não há tipificação de serviços com as características da casa de acolhimento junto a órgãos públicos. Por isso, não será possível obter recursos ou aportes financeiros junto ao poder público. Com isso, o espaço precisará ser mantido com doações.
— Tudo que dispomos foi por meio de doações e voluntariado e assim terá de ser. Porém, sempre estamos buscando novos apoiadores. Seria interessante, por exemplo, conseguirmos um parceiro para tentar viabilizar transporte gratuito aos nossos acolhidos — explica Golin.
Embora tenha condições de se manter no início das atividades, conforme o coordenador, doações de todo o tipo são bem-vindas.
— Precisaremos sempre de voluntários, seja para nos ajudar no dia a dia, seja somente para conversar com os acolhidos. Necessitamos também de itens como roupas de cama, colchões e qualquer coisa que possa nos ajudar a aprimorar o espaço — acrescenta.
Alguns móveis disponíveis são antigos e alguns cômodos ainda precisam ser completamente reformados. Apesar disso, o essencial já está disponível.
— Temos alimento, cama, espaço para preparar comida e chuveiro para os acolhidos tomarem banho — cita Golin.
O Sindicato dos Metalúrgicos foi uma das entidades que colaborou para reformar a estrutura, tanto em pequenas reformas até instalação de fiação elétrica.
Interessados em ajudar podem entrar em contato com Anderson Golin pelo telefone (54) 98144-0345.