Após vários anos consecutivos de crescimento os blocos de rua de Carnaval, as festividades de Caxias sofreram um revés no ano passado após polêmicas envolvendo episódios de violência nas imediações dos eventos. No fato mais grave, um jovem de 19 anos foi espancado por um grupo na área central, após desentendimentos surgidos no bloco de rua do Carnaval do Bar Zanuzi. A repercussão negativa e os transtornos gerados motivaram o proprietário do estabelecimento e organizador do evento, Silvio Zanuz, a desistir de realizar novas edições. Desde 2013, este será o primeiro ano que a atração não acontecerá na cidade.
— Mantemos o posicionamento de não realizar. Nem cogitamos para este ano. Para fazer o Carnaval deveria haver trabalho conjunto, é um evento de proporção muito grande, são mais de 60 mil pessoas na área central, envolve muito mais do que um estabelecimento — comenta Zanuz.
A decisão é lamentada pelos demais carnavalescos, porém, os outros três eventos que se consolidaram nos últimos anos na cidade _ Bloco da Velha, Bloco da Ovelha e Bloco Acadêmicos do Luizinho _ devem manter as atividades, apesar da relativa dificuldade em levantar os recursos para as festas.
Bloco da Velha terá dois dias de atividades
Em sua 9ª edição, o mais popular e já tradicional bloco de rua de Caxias, o Bloco da Velha, contará com uma novidade neste ano: serão dois dias de evento no bairro Exposição, em formato semelhante ao ocorrido em 2018, que reuniu mais de 40 mil pessoas. E, vez de desfile, desde o ano passado, um trio elétrico posicionado na Rua Dom José Barea (próximo à Maesa) serve de palco para a Banda do Bloco da Velha. Foliões se espalham livremente pela rua, que é bloqueada da Andrade Neves até a Treze de Maio.
Apesar de ser realizado em dois dias, ainda não há certeza de quais serão as atrações. O motivo é a incerteza com relação ao recurso que irá subsidiar o evento.
— Fomos aprovados em duas Leis de Incentivo à Cultura (LIC), a do Estado e a do município. Porém, devido à mudança no governo estadual, ainda não tivemos a liberação para podermos captar o recurso. Mas logo que isso acontecer, já iremos adiantar os preparativos — comenta um dos organizadores, Germano Weirich.
Ao todo, são R$ 80 mil previstos via LIC estadual e R$ 70 mil via LIC municipal. Além disso, Weirich comenta que são necessários cerca de R$ 30 mil para complementar os gastos. Esse valor é obtido com a venda de abadás e outras ações.
Ele lamenta o cancelamento do Bloco do Zanuzi, no entanto, diz entender as dificuldades de viabilizar eventos de tamanha proporção:
— Depois do crescimento rápido, o envolvimento da cidade em criar hábito de participar, a gente lamenta que isso aconteça, mas entendo. Tudo que envolve a organização do Carnaval e todos os riscos disso, e, infelizmente, parte da população critica bastante também.
O Bloco da Velha ocorrerá no primeiro domingo e na primeira terça de março.
A Ovelha e o Memorial do Apocalipse
Celebrando cinco anos de existência, o Bloco da Ovelha faz um resgate das quatro edições anteriores e projeta um futuro apocalíptico. Com o tema Memorial do Apocalipse, o mais alternativo dos blocos de rua caxienses está bem encaminhado para mais uma edição, em formato bastante semelhante ao do ano passado. Neste ano, a festa ocorrerá no dia 2 de março.
— Já encaminhamos toda a documentação com exigências da prefeitura e só estamos no aguardo do retorno. Além de comemorarmos os nossos cinco anos, também fazemos referência ao tempo triste em que vivemos na nossa cultura, por isso denominamos de Memorial do Apocalipse — comenta o organizador, Leonardo Ferrolho.
Em termos de recursos, o grupo espera levantar cerca de R$ 70 mil. Desses, R$ 35,5 mil já estão garantidos via LIC municipal. O restante deve ser obtido junto a patrocinadores.
— De qualquer maneira, o evento está confirmado — garante Ferrolho, que afirma não ter tido dificuldades junto ao poder público para a realização desta edição.
O bloco iniciará o cortejo junto à Casa Paralela, na Rua Tronca, seguirá por algumas ruas da área central e se concentrará na Praça das Feiras, no bairro São Pelegrino.
Ferrolho acredita que por mais que haja dificuldades para a realização do evento, o espírito carnavalesco sempre irá se sobrepor na data:
— Esse risco de não haver o Carnaval não existe. Independente de os blocos fazerem ou não, o Carnaval acontece, ele está no calendário e vai acontecer. É um sentimento que vem das pessoas e vai extravasar de alguma maneira nesses dias.
Mesmo com dificuldades, Bloco do Luizinho está garantido
No terceiro ano consecutivo de atividades, o Bloco do Luizinho pretende dobrar número de público dos 10 mil participantes da primeira edição da festa, em 2017. Para crescer proporcionalmente, a organização espera ampliar a estrutura do evento, voltado especialmente a entusiastas do pagode. No entanto, conforme o organizador, Leonardo Santos, a captação de recursos está complicada.
— Foram aprovados R$ 60 mil via LIC, mas não conseguimos captar nada até agora. Não vamos prometer nada até a última semana que antecede o evento, porque somente aí saberemos a disponibilidade de recursos e teremos noção dos cortes necessários — comenta Santos.
Devido ao crescimento já percebido no último ano, a ideia, segundo ele, seria mudar a formatação do palco.
— Nosso palco estava na sacada, então quem estava na lateral da rua não via nada. Para este ano, pretendíamos instalar um palco 360º para todos assistirem. Mas, se não rolar estrutura, a gente reduz a estrutura — complementa.
Para este ano, estarão garantidos suporte de seguranças da Brigada Militar e Guarda Municipal, além do bloqueio de trecho da Rua Jacob Luchesi, entre as ruas Alziro Zarur e Lauro Caldas Lopes e outras vias de acesso à Jacob.
A atividade está marcada para ocorrer no dia 2 de março.
Três escolas de samba confirmaram folia
Entre as escolas de samba, a diretora do departamento de Arte e Cultura Popular da Secretaria da Cultura, Aline Carneiro, afirma que três agremiações procuraram o órgão para confirmar suas folias e solicitar apoio logístico, como presença da Guarda Municipal e da fiscalização de trânsito. São elas a Filhos de Jardel (bairro Jardelino Ramos), que irá fazer sua festa no dia 9 de março; a Acadêmicos do Arsenal (Reolon), cujo Carnaval será antecipado, no dia 23 de fevereiro; e a Incríveis do Ritmo (Pioneiro), que ainda não confirmou data.
— Por terem seus próprios produtores culturais, os blocos têm uma facilidade maior de organização, enquanto as escolas contam mais com o nosso apoio. Ainda estamos aguardando algumas escolas que ficaram de dar resposta sobre se irão fazer ou não o seu Carnaval, mas já temos algumas reuniões agendadas para a próxima semana, quando devemos ter um cenário mais claro — declara Aline, que assumiu o departamento no último dia 20 de dezembro.
No ano passado, os três blocos de Carnaval e os grupos de maracatu (que realizaram o Maracaxias) levaram cerca de 100 mil foliões às ruas de Caxias do Sul. As escolas de samba, que pelo terceiro ano não terão o tradicional desfile por conta do corte de recursos financeiros da prefeitura, ainda lutam para se manter diante da nova realidade.
Acesso público: Todas as atividades são gratuitas.
Datas
:: Bloco Acadêmicos do Luizinho: 2 de março (sábado)
:: Bloco da Ovelha: 2 de março (sábado)
:: Bloco da Velha: dias 3 e 5 de março (domingo e terça)
Escolas de Samba
:: Acadêmicos do Arsenal (Reolon): 23 de fevereiro
:: Filhos de Jardel (Jardelino Ramos): 9 de março
:: Incríveis do Ritmo (Pioneiro): ainda não confirmou data