Após aplaudir entusiasmada ao último do ato da cavalgada farroupilha na tarde desta quinta, a dona de casa Verônica Bandeira, 43 anos, descreveu:
_ Tradição é algo que não se explica, se vive. Não tenho palavras para dizer o que vi aqui hoje de tarde. Tudo muito lindo, caprichado. Eu adorei.
Verônica saiu do bairro Planalto e rumou até o Centro de Caxias do Sul para assistir aos festejos de Vinte de Setembro. Ela era uma das milhares de pessoas que conferiram o Desfile Farroupilha, com cerca de 650 dançarinos e 300 cavalarianos. O ato voltou a ser realizado na Rua Sinimbu - a última vez que aconteceu, em 2016, foi na Rua Plácido de Castro. No ano passado, não houve desfile por falta de verbas. Ainda que sem carros alegóricos ou mega infraestrutura, o que se viu na Sinimbu na tarde desta quinta é uma amostra do talento e da entrega de prendas e peões que se dedicam ao estudo da cultura gaúcha. A programação começou às 3h25min, e trouxe cavalarianos carregando a chama crioula.
A primeira parte do desfile compôs a 1ª Parada Artística Gaúcha. Iniciou com a apresentação do Grupo dos 8, idealizado por Paixão Côrtes e encenado por gaúchos pilchados, que entregaram a chama crioula de Caxias para que o prefeito Daniel Guerra (PRB) e o presidente da 25ª Região Tradicionalista (25ª RT), Rodrigo Ramos. Na sequência, centenas de homens e mulheres com trajes coloridos adentraram na Sinimbu exibindo danças tradicionais gaúchas, como a Dança do Pezinho, Tatu com volta no meio ou valsa.
_ A intenção foi trazer o palco dos Pavilhões da Festa da Uva, onde estamos acampados, para a Sinimbu. Quisemos mostrar nosso tema, o tropeirismo, e levar um pouco de cultura por meio da parte artística para a população_ conta Márcia Scariot, que coordena a programação artística dos festejos.
A Sinimbu se transformou, também, em um espaço de famílias pilchadas e ansiosas pelo desfile. De bombacha e lenço, Henrique e Felipe Somacal, de cinco e nove anos, ensaiavam na calçada sua rápida passagem pela rua. Ali perto, Andressa e Leonardo Dalla Rosa, moradores do Centro, aguardavam a aparição das prendas e peões para que o filho Rafael, de sete anos, aprendesse a gostar, como eles, da história gaúcha. A família vibrou quando a terceira cena começou: dançarinos retrataram o tropeirismo, tema dos festejos deste ano em Caxias do Sul.
_ É uma amostra de dança tradicional, de tropeirismo e dos grupos birivas_ resume Márcia.
A parte cênica se encerrou com uma justa homenagem ao precursor da cultura gaúcha, Paixão Côrtes, que morreu em agosto deste ano. Vestidas de branco, as prendas do CTG Heróis Farroupilhas dançaram a música Hino ao Rio Grande, interpretada por Côrtes. Na sequência, o marceneiro Lucas Chiapin Prebianca, 33 anos, e o aposentado Antônio de Césaro, 63, integrantes do CTG Chegando no Rancho, apresentaram-se trajados com indumentária característica de Côrtes: o chiripá e o saiote.
_ É uma honra enorme representar ele. A cultura gaúcha só existe por causa do Côrtes_ orgulha-se Prebianca.