Procurar pessoas que também vivenciam o tratamento contra o câncer de mama é uma saída para superar mais facilmente a doença. Este é o propósito das oficinas de pintura, que acontecem na Clínica de Atendimento Psicanalítico/Psiquiátrico e Estudos (Cappes).
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Hora de examinar suas mamas
— Aqui, eu esqueço que tive câncer e não penso na possibilidade de ele voltar — resume Ivani Colombo, 58 anos, que há 10 anos retirou um tumor em uma das mamas.
Finalizando sua tela de estrelícias coloridas, ela garante que nunca tinha pego um pincel. Com ele aprendeu que a arteterapia faz bem para o corpo e para a alma. E aconselha:
— Busque a socialização com pessoas que passaram pelo mesmo problema. Elas vão te entender. De nada adianta ficar se lamentando. Você vai acabar adoecendo novamente.
Há um ano, Juliana Batista, 30 anos, exibia um sorriso preocupante. Nas páginas do Outubro Rosa do Pioneiro, seus lenços coloridos escondiam a cabeça careca e o estresse de um tratamento pesado.
— Amava meu cabelo — disse, na época.
Neste outubro, ela voltou a exibir o sorriso. Desta vez de felicidade. E o cabelo voltou, brilhoso e saudável. Exibindo suas tulipas pintadas com tinta de acrílico, Juliana encontrou no grupo da Cappes, boa parte da força para seguir em frente.
— Aqui encontrei pessoas que querem viver. Conhecemos nossas limitações, mas nos entendemos — declara Juliana.
O expansor que carrega há mais de um ano para depois reconstruir a mama direita já não incomoda.
— Não tenho mais tempo para futilidades. Hoje, só quero viver e aproveitar cada minuto.
"Isso me acalma a alma"
Colorinda de Carli tem 73 anos. O câncer a fez retirar as duas mamas. Já as reconstruiu. Agora, enfrenta outros três tumores em diferentes órgãos do seu corpo e um tratamento com quimioterapias vermelhas. Nem isso a fez desistir da arte de pintar. Está nas oficinas há seis anos.
— Me acalma, me tranquiliza, não me deixa pensar na doença. Indico para todas as pacientes com câncer.
Os limões verdes da tela da advogada Iara Lucena não azedaram sua vida. Pelo contrário. Mãe de dois filhos, há três anos precisou retirar uma das mamas. Foi uma fase difícil.
—Ninguém quer ficar sem suas mamas. Ninguém quer ficar careca. Mas é preciso enfrentar a situação de frente. Aqui (na Cappes) encontrei pessoas que me entendem, que me fazem bem.
E mais:
— Nunca imaginei que tivesse habilidade para pintar.
Segundo ela, a terapia em grupo é a direção que as pacientes de câncer devem seguir.
Neusa Maria Pates já está na quarta obra de arte na oficina. Descobriu o câncer em 2010 e desde então participa do trabalho do grupo.
— Eu preciso desta troca de afeto.
Para Jaureci de Cândido o diagnóstico do tumor chegou em 2014 — a quarta integrante da família. Mãe de dois filhos, retirou a mama sem medo.
— De nada adianta ficar em casa se lamentando. Tem que superar e ser feliz. Pintar me ajuda nesta superação.
As obras das "artistas" serão expostas na Câmara de Vereadores, a partir do dia 16 de outubro.
A Cappes
Trinta e cinco mulheres com história de câncer de mama pintam suas telas semanalmente na Cappes, criada em 1989 pela psicanalista Isabel Bissi. Ela explica que um dos trabalhos das oficinas terapêuticas é o acolhimento destas pacientes promovendo o enlaçamento da arte e a psicanálise.
— A ideia é dar outro destino ao sofrimento, pois muitas vezes a palavra não é suficiente — ressalta Isabel.
A clínica trabalha em parceria com várias entidades ligadas à saúde, como o Cecan e Amigas do Peito e Alma. Além das oficinas terapêuticas, conta com uma equipe de 32 profissionais que atua em atendimentos psicanalíticos e psiquiátricos, carteis, grupos de convivência, de estudos, de fala, seminários e palestras. Para participar, busque informações pelo telefone: 3223-0775.