Ao longo de 104 anos, completados neste sábado, o Hospital Pompéia se tornou a maior referência em alta complexidade da Serra, atendendo atualmente a 49 municípios. Poucos sabem, no entanto, que, antes de dispor de toda a estrutura que dispõe hoje, a criação da instituição surgiu graça à iniciativa de 26 senhoras caxienses.
Na época, o grupo, denominado Associação Damas de Caridade, viabiliza os atendimentos de saúde nas casas dos pacientes pobres. Após notarem o aumento da demanda, elas então perceberam a necessidade de Caxias dispor de uma unidade hospitalar e, a partir daí, começaram a angariar recursos para a viabilizar essa estrutura. Posteriormente, em 1913, essa conquista resultou no surgimento do Hospital Pompéia.
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E se a história da fundação não é tão conhecida, ainda menos pessoas sabem que este mesmo grupo, atualmente denominado Pio Sodalício das Damas de Caridade, não apenas continua a atuar de forma discreta nos bastidores, como também se tornou o espírito de solidariedade que garante a eficiência dos serviços oferecidos pela instituição.
– Hoje, nossa função principal é confeccionar enxovais para crianças que nascem aqui (no Pompéia). Além disso, fornecemos suporte espiritual e de acolhimento aos pacientes e seus familiares – revela a atual presidente do Pio Sodalício, Sandra Dellagiustina Barp.
Vinte e oito damas, com auxílio de voluntárias, trabalham em um atelier de costura montado dentro do Pompéia. Semanalmente, das mãos habilidosas dessas mulheres, surgem 10 enxovais com 29 peças cada um. Para garantir o material de confecção (tecidos, linha e miudezas de costura) existe um brechó interno que comercializa aos funcionários roupas, calçados e até brinquedos. Todo o lucro é revertido para a autossustentabilidade das atividades.
_ Além dos pacientes pobres que ajudamos, muitos dos nossos 1,5 mil funcionários têm poucas condições financeiras e acabam sendo beneficiados pelo brechó, pois o valor mais alto que cobramos é R$ 10 _ destaca a dama Marion Luiza Rossi.
As roupas e itens são obtidos por meio de doações das próprias integrantes. Há contribuições que também chegam da comunidade e de lojas de vestuário.
– Não é somente graças às damas, mas também por causa delas que você dificilmente vê pessoas nos corredores do hospital. A maioria dos atendimentos é SUS (Sistema Único de Saúde), mas ele não tem "cara" de SUS. Estamos sempre disponíveis para oferecer ajuda às pessoas, acolhê-las. Também repassamos kits de higiene que a comunidade nos doa – revela a dama Marília Pinós Pontalti.
O Pio Sodalício também atua junto à Pastoral da Saúde e, em conjunto com o capelão do hospital, padre Cláudio José Pezzoli, proporciona a realização de batizados aos recém-nascidos e extrema unção aos enfermos. A espiritualidade, inclusive, é a essência do surgimento e da continuidade da motivação das damas:
– Nosso objetivo é levar conforto, fé e esperança a quem se encontra em momento vulnerável. Não importa como está o mundo hoje, se fizermos nossa parte, o resto vai sozinho. Nosso trabalho é discreto porque não nos preocupamos em colher as sementes, mas, sim, lançá-las e esperar que gerem novas boas ações – entende a presidente do Pio Sodalício.
"O Pio está por trás de tudo o que acontece aqui"
Apesar de não desenvolver trabalhos burocráticos envolvendo a gerência da instituição, para o superintendente-geral do Pompéia, Francisco Ferrer, a participação do Pio Sodalício transcende o acolhimento a pacientes, pois influencia, segundo ele, diretamente no efetivo funcionamento do hospital.
– São elas que conduzem o Pompéia e que estiveram presentes em todos os momentos da nossa história. As damas são exemplos de exercício pleno de cidadania porque, além do trabalho de humanização garantir a boa relação da comunidade com a instituição, colaboram também para a harmonia entre os próprios colaboradores – pontua.
O grupo é, institucionalmente, considerado a entidade mantenedora do hospital, cujo nome original – que consta até hoje no registro de ponto dos funcionários – é Pio Sodalício.
– Prestamos contas ao Pio (Sodalício) a cada três meses. Estamos cientes da importância dessa entidade, pois ela está por trás de tudo o que acontece aqui (no Pompéia). Além de todas essas atividades, elas (as damas) também promovem eventos de integração entre os setores e colaboradores – complementa.
Ao completar 104 anos, Ferrer reconhece as dificuldades financeiras vivenciadas pelo hospital. Por outro lado, celebra a manutenção do atendimento de referência reconhecido na região, o que acredita também estar ligado à grande influência que as damas inspiram.
– Passamos por problemas financeiros que são de conhecimento de todos há anos. Mas é com esse mesmo espírito de motivação demonstrado pelas damas com o qual trabalhamos diariamente. Há 104, elas foram levadas por algo muito maior do que o sonho de construiu um hospital, que foi o sonho de conseguir conquistar isso para ajudar pessoas – conclui.
PERFIL
Embora o grupo de integrantes do Pio Sodalício seja formado por voluntárias, as participantes são selecionadas por meio de recrutamento das próprias damas. O processo ocorre por convite e há um período probatório de aproximadamente um ano. De acordo com a presidente do Pio Sodalício, Sandra Dellagiustina Barp, não há um perfil socioeconômico específico. O principal critério, segundo ela, é a compatibilidade dos ideias de solidariedade e comprometimento que são promovidos pela entidade.