Nem parece o mesmo garoto. No dia 28 de novembro de 2015, o pequeno Pedro Henrique Sotti Tecchio, o Pedrinho, sete anos, de Farroupilha, estampava a capa do Pioneiro e pedia socorro para conseguir ser inserido no sistema de pessoas que buscam transplante de medula, o Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea (Rereme).
Em agosto de 2015, ele havia sido diagnosticado com leucemia. As equipes médicas, tanto a do Hospital Geral, como a do Hospital das Clínicas, em Porto Alegre, não derem esperanças à mãe do garoto, Izane Sotti, a Iza, 39. O transplante de medula era a única saída. Mesmo assim, sem garantias de que ele iria resistir ao procedimento. Era preciso entrar na fila de doação e torcer para encontrar uma pessoa compatível. O desespero da mãe se agravou quando ela descobriu, 60 dias depois do diagnóstico, que o filho sequer estava no cadastro.
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Médicos preferem não receitar a fosfoetanolamina
O período coincidiu com a polêmica do uso por pacientes com câncer da substância fosfoetanolamina, que ficou conhecida como a "pílula do câncer". Mesmo com a venda proibida inicialmente e reprovada por vários estudos, Iza não pensou duas vezes. Desesperada, foi em busca dos pesquisadores da substância. Conseguiu. No dia 14 de outubro de 2015, Pedrinho tomava o primeiro comprimido azul e branco e não parou mais.
– No sexto dia de medicação, ele voltou a se alimentar e percebi a mudança. Meu filho estava salvo – diz Iza, emocionada.
Hoje, o Pedrinho parece esbanjar saúde. Frequenta a escola, brinca, domina o computador e adora chocolate. Parece outra criança. Iza garante que seu filho está vivo devido à fosfoetanolamina. Nos exames de medula, a cada 21 dias, não aparecem células cancerígenas.
– Ele está vivo graças a ela e às pessoas que me ajudaram a consegui-la –enfatiza.
As brigas
Iza tem 39 anos e uma garra invejável. Perdeu o medo de tudo. Comprou brigas feias com médicos para poder tratar seu filho com a "milagrosa" pílula. Chegou a ser intimada por uma juíza para prestar esclarecimentos sobre as discussões com os médicos responsáveis pelo tratamento do Pedrinho em Caxias. Nada a intimidou. Hoje, ela comemora cada dia que vive junto com o filho.
Não foi fácil chegar a essa etapa. No começo do diagnóstico, o pai de Pedrinho saiu de casa. Iza se viu sozinha com o filho doente e a filha Maria Victória, de seis meses. Deixou a pequena aos cuidados da mãe e partiu em busca de saídas para salvar a vida do filho.
– Uma médica chegou a dizer que estava fazendo meu filho de palhaço. O juiz negou três liminares (para conseguir a substância) – conta.
Em São Paulo encontrou os pesquisadores da substância na Universidade de São Paulo (USP), os médicos Renato Meneghell e Marcos Vinícius Almeida. Hoje, ela adquire o produto pela internet.
– Para mim é a fosfoetanolamina e ponto. Foi quem o curou. Pedrinho está crescido. Esperto e inquieto. Questionado se lembra do que passou, ele diz:
– Não. Tomo todas as noites meu comprimido com iogurte. Só sinto saudades do meu boné (o que ele está usando na foto abaixo).
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Como está o garoto de Farroupilha que lutou para tomar a "pílula do câncer"
Pedrinho, hoje com sete anos, parece esbanjar saúde um ano e meio depois de começar a tomar a fosfoetanolamina
Ivanete Marzzaro
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