Ivanete Felippi, 53 anos, já "morreu" quatro vezes. A primeira foi em 2007, quando foi detectado um câncer no colo do útero. Durante a cirurgia, os médicos se assustaram com o número de órgãos afetados pela doença. Dezoito no total. Retiraram as áreas afetadas de todos os que foi possível. A empresária passou 10 dias na UTI e o marido, Marcos, ouviu dos médicos que só um milagre a salvaria. O milagre aconteceu e 20 dias depois estava em casa, com o abdome mutilado.
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Somente seis meses depois, Iva (como é chamada) começou a entender o que estava acontecendo. Um ano e meio depois, o câncer voltou na bexiga e no intestino. Nova cirurgia. Desta vez saiu do hospital com a temida “bolsinha de colostomia”, com a qual conviveu por quase três anos. No mesmo procedimento retirou partes de mais oito órgãos
– Desta vez me anulei. Odiava andar com a tal bolsa pendurada na barriga. Tinha vergonha.
Ela nem lembra mais das datas em que os novos tumores surgiram e foram retirados ou tratados, mas garante que foram mais de oito, ou talvez 10. Recorda que, pouco tempo depois da colostomia, o "bicho" se instalou na musculatura da lateral direita. Novas quimios. Perdeu o cabelo três vezes.
Quando, finalmente, os médicos resolveram tirar a "bolsinha"– três anos depois, o câncer estava no estômago. Tiraram mais um pedaço. Quando terminou o tratamento, um exame mostrava que o câncer insistia em voltar no fígado. Depois foi para a pelve e, novamente, no intestino. Era dezembro de 2015 e poucos órgãos estavam salvos.
– Cansei de ver a morte. Mas estou aqui firme e forte.
As brigas com o "bicho"
Iva desencadeou várias brigas com o câncer e com Deus. A pergunta "por que isso está acontecendo comigo?" faz parte da vida de qualquer pessoa que convive com a doença. A fé é outro sentimento que desperta voluntariamente quando se está fragilizada.
– Tenho tanta fé que tenho certeza ser mais forte de que o câncer. Vou vencer –exalta.
Ela explica, no entanto, que não é qualquer tipo de fé.
– É preciso que venha de dentro, que te sufoque na garganta e, quando falar, acredite. Com força (como retrata a foto acima).
Ela acredita que não vai viver novas experiências com o câncer. Mas é preciso ter consciência de que a vida lá fora continua.
– Posso contar comigo. Ninguém vai viver a minha dor. Portanto, só eu posso fazer diferente. Somente eu posso ensinar e mostrar para todos que sou mais forte que qualquer "bichinho de merda".
A lição de Ivanete emociona. Esse foi o objetivo desta série de reportagens. Acredite que você pode. Pare de reclamar e faça o bem. Sua vida será mais leve.
"Os novos medicamentos são caros e não o SUS não disponibiliza"
A oncologista Janaína Brollo atua na área há 20 anos. Em Caxias, ela atende a cerca de 100 pacientes de câncer de mama por mês. Nesta entrevista, ela fala dos novos tratamentos existentes no mercado que aumentam a sobrevida da paciente.
Pioneiro: Quais os novos tratamentos disponíveis no mercado para o câncer de mama?
Janaína Brollo: O câncer de mama é uma doença complexa e heterogênea. Nas últimas décadas, a análise do genoma nos permitiu entender os subtipos do câncer de mama, especificamente a biologia e o comportamento tumoral. Vários estudos clínicos randomizados e pesquisas colaborativas contribuíram para o entendimento dessa doença e tivemos excelentes resultados em alguns tratamentos. A doença Her-2 positivo, 15% a 20% do câncer de mama caracterizado por tumores de alto risco e de elevada agressividade tumoral, teve grandes avanços no cenário da doença metastática (crônica) e também da doença inicial. Esses subtipos de tumores são altamente responsivos a terapias de alvo molecular que são medicações mais bem toleradas e com menores taxas de efeitos colaterais quando comparadas à quimioterapia convencional. Essas medicações demonstraram excelentes taxas de resposta tumoral e também aumento da sobrevida global das pacientes na doença avançada.
O Pertuzumabe (Perjeta) é um anticorpo monoclonal contra o Her-2 que já havia sido aprovado no Brasil pela Anvisa em maio de 2013 para o tratamento de primeira linha da doença metastática (EC IV). Em agosto de 2016 foi liberado para o câncer de mama Her2 positivo localmente avançado, inflamatório ou em estágio inicial (tumores de 2 cm ou com linfonodo positivo) antes da cirurgia - neoadjuvante. Essa aprovação foi baseada em dois estudos que demonstraram aumento das taxas de resposta patológica completa (avaliação patológica tumoral após quimioterapia neoadjuvante) quando esta medicação é associada à quimioterapia e ao Trastuzumabe (Herceptin).
Que outros avanços a oncologia tem à disposição?
Outro avanço impressionante ocorreu no câncer de mama metastático (EC IV) na paciente pós-menopausa e com receptores hormonais positivos/Her-2 negativo. Três estudos levaram à aprovação do Palbociclib (Ibrance) neste cenário – em primeira e segunda linha metastática nestes subtipos de tumores. O Palbociclib é um inibidor de quinase de múltiplas ciclinas (CDK4/6), que associado à hormonioterapia (letrozol ou fulvestranto), demonstrou excelentes taxas de controle tumoral e mais do que duplicou o tempo de vida livre de doença. O Palbociclib já está aprovado nos EUA desde fevereiro de 2015 e tem previsão de aprovação no Brasil para novembro de 2017.
Estes medicamentos chegam a Caxias?
O Pertuzumabe no tratamento neoadjuvante da doença Her2 positivo inicial ou localmente avançada já está sendo contemplado pelos planos de saúde, mas infelizmente ainda não temos disponível pelo SUS. O mesmo acontece na doença Her2 positivo metastática em primeira linha. O Palbociclib só está disponível no Brasil em estudo clínico, uma vez que ainda não está aprovado. Estão disponíveis a pacientes do SUS ou somente particulares?São medicações bastante caras. O Pertuzumabe varia de R$ 12 mil a R$ 14 mil o frasco-ampola, sendo que a primeira dose são dois frascos. Palbociclib ainda não sabemos quanto custará. Pertuzumabe está sendo contemplado pelos planos de saúde nestas duas indicações e pelo SUS não está disponível. Palbociclib não está disponível no Brasil para comercialização.
Esses novos medicamentos são aplicados em que tipo de casos? Nos tumores de estágio 1 ou em cânceres mais avançados?
Pertuzumabe – câncer de mama Her2 positivo inicial EC II e III (tumores maiores de 2 cm ou com linfonodo positivo) no tratamento neoadjuvante pré-cirurgia– combinado à quimioterapia e ao Trastuzumabe. Também pode ser aplicado no EC do câncer de mama Her2 positivo em primeira linha, combinado à quimioterapia e ao Trastuzumabe. Palbociclib – câncer de mama metastático (EC IV) na paciente pós-menopáusica e com receptores hormonais positivos/Her-2 negativo em primeira e segunda linha.