Há mais de um mês, os moradores de Santa Lúcia do Piaí, distrito a 28 quilômetros do centro de Caxias do Sul, estão sem atendimento médico na unidade básica de saúde (UBS). O profissional, que há cerca de três anos atendia a mais de 30 pessoas por dia, pediu exoneração no início de março para cursar uma especialização em outra cidade. Como sua cadeira segue vazia, a comunidade tem contado apenas com os serviços de enfermagem da unidade e é obrigada a recorrer ao distante Pronto-Atendimento 24 Horas ou a distritos como Vila Oliva, Vila Seca e Fazenda Souza, onde as vagas são limitadas.
Na casa da autônoma Maria Cristina Pezzi, 42 anos, moradoras de quatro gerações da família têm sentido os transtornos de uma localidade sem médico. A própria Maria, que toma medicamento controlado para depressão, está sem remédio há oito dias, desde que acabou a última caixa. Sua avó, Ana Rigotti, tem 91 anos. Se precisa de atendimento médico, como ocorreu há alguns dias, ao machucar um braço, precisa pagar por uma corrida ou carona até outra localidade, o que pode chegar a R$ 200. Isso porque, devido à idade avançada, Ana tem dificuldade para subir e descer do ônibus. Neste último acidente doméstico, a família contou apenas em anti-inflamatórios para acalmar a dor da idosa.
- É um problema grave. Na maioria das vezes são problemas que daria para resolver com um atendimento aqui no posto, mas temos de ir até a cidade. Minha avó, por exemplo, não tem condições de passar um dia inteiro na fila do postão, como a gente sabe que acontece - reclama Maria Cristina.
Ainda precisariam de atendimento médico na UBS a filha de Maria Cristina, Ana Carolina dos Santos, 16, que está grávida de três meses e tem feito o acompanhamento da gestação apenas com as enfermeiras da UBS, e Natalina Pezzi, mãe de Maria Cristina. Aos 73, Natalina é quem atravessa uma situação pouco mais tranquila: conseguiu renovar a receita dos medicamentos para tratar a hipertensão antes de o médico deixar o postinho.
À espera do sim do 15º convocado
A ausência de médico em Santa Lúcia do Piaí deve-se à dificuldade da Secretaria Municipal de Saúde em encontrar interessados para ocupar a vaga. Desde a saída do último concursado, a prefeitura tentou encaixar uma substituta por meio de contrato emergencial, mas ela trabalhou um dia e não mostrou interesse em permanecer. Dois editais de contratação foram abertos e 14 profissionais foram chamados, mas nenhum quis o posto.
No fim da tarde de terça-feira, era aguardada a resposta do 15º candidato, que, se aceitar, deve começar dentro de duas semanas. A secretaria, contudo, quer encontrar alguém que atue em caráter emergencial, para evitar essa espera.
- Os médicos desistem porque alegam que é longe ou que não podem assumir por estarem envolvidos com outros trabalhos ou residência, o que dificulta para um serviço de 40 horas semanais. Essa situação nos preocupa, mas temos esperança que logo vamos conseguir. Enquanto isso, há uma rede de apoio nos outros distritos que os moradores devem procurar - comenta a diretora da Secretaria de Saúde, Marta Fattori.
Saúde
Falta de médico em UBS provoca transtornos no distrito de Santa Lúcia do Piaí, em Caxias
Em um mês, Secretaria de Saúde de Caxias do Sul ouviu "não" de 14 candidatos à vaga
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