Como o famoso samba que fala em sacudir a poeira e dar a volta por cima, o bairro Euzébio Beltrão de Queiróz quer virar o jogo contra a violência que historicamente assola a comunidade. Na tarde sábado, a conhecida "vila do cemitério" inaugura um centro voltado para atividades culturais e educativas para crianças e adolescentes. O espaço, que homenageia o já falecido líder comunitário Adão Borges da Rosa, o "Dão", também irá estimular a valorização da diversidade e inclusão social.
Um dos principais alvos da guerra contra o tráfico travada pela polícia, desde 2012 o Beltrão de Queiróz teve registro de 22 homicídios. Considerando o mesmo período, apenas o Santa Fé foi mais violento, com 26 casos. Esse é um dos números alarmantes que as lideranças do bairro esperam mudar pela união de esforços.
- Nosso foco principal são as crianças. Hoje elas ficam na rua no horário contrário da escola, porque não têm outro lugar pra ficar. E a gente sabe que onde tu não educa, o traficante educa. Essa é a oportunidade que nós esperávamos para pode protegê-las melhor, tendo a noção de que nem os traficantes querem o mesmo caminho deles para os seus filhos - diz a presidente da Associação de Moradores do bairro, Miriam Machado, 43 anos.
O amplo espaço de 520m² na Rua Bento Gonçalves irá abrigar projetos sociais que já ocorrem no bairro, oferecer oficinas de arte e abrir espaço para novas iniciativas, como aulas de capoeira. Também servirá de sede para a Amob e para os ensaios da escola de samba XV de Novembro, cujo barracão, incendiado em 2012, ficava no mesmo terreno do centro cultural. Além disso, terá uma biblioteca que inicia com 600 livros, doados pelos voluntários do projeto Leitura Livre.
- Nós todos sabemos da vulnerabilidade da região, e agora temos um espaço que irá facilitar o diálogo e apontar caminhos para nossas crianças e adolescentes. A cultura, aliada à educação, forma cidadãos. Não queremos criar novos "neymares", novos artistas, mas sim dar aos nossos jovens a possibilidade de escolher o que querem para suas vidas _ comenta Jankiel Francisco Claudio, o Chiquinho, 35, coordenador do projeto Crianças e Adolescentes no Esporte (CAE) e um dos diretores do centro cultural.
Prédio amplo e moderno
O investimento que viabilizou o centro cultural foi de cerca de R$ 880 mil, obtidos através de uma compensação à prefeitura firmada com uma construtora, que se comprometeu a construir seis obras em troca da licença para um loteamento no Interlagos. A estrutura conta com duas salas multiuso, três banheiros, dois depósitos, mezanino, salão multiuso com tablado e recepção, além de rampa de acesso e um apartamento com dois dormitórios, cozinha, banheiro e sala, para o caso de ser contratado um zelador.
O vice-presidente da escola de samba Acadêmicos do XV de Novembro, Paulo Ricardo Sores, 29 anos, diz ter ficado surpreso com as dimensões do prédio.
- Tínhamos um centro comunitário muito pequeno e limitado, por isso esperávamos algo muito menor quando foi encaminhado o projeto. Fomos surpreendidos positivamente, porque além de ser amplo, é um prédio muito moderno. Sempre realizamos diversos projetos no bairro, mas que não tínhamos espaço e às vezes precisávamos levar para outros lugares. Agora vamos poder reunir tudo aqui - vibra.
O líder comunitário Paulo Roberto Teixeira, o Cara Preta, 43, também comemorou a conquista para os moradores do Beltrão:
- Queremos sair da manchete das páginas policiais para mostrarmos cidadãos do bem formados aqui. Nossa imagem hoje está ligada à violência, ao tráfico, e estamos batalhando muito para reverter isso.
Inclusão social
Comunidade do Euzébio Beltrão de Queiróz inaugura centro cultural neste sábado
Prédio foi erguido onde funcionava o antigo barracão da escola de samba da comunidade
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