Ao que tudo indica, o Hospital Arcanjo São Miguel, de Gramado, será adquirido pela administração municipal. A intenção foi revelada na tarde desta quinta-feira pelo vice-prefeito Luis Antônio Barbacovi, em coletiva de imprensa sobre o resultado dos primeiros 30 dias de trabalho da comissão interventora na instituição. A intervenção será mantida por mais cinco meses.
O primeiro passo para a concretização da compra é a criação de uma associação beneficente, formada por lideranças empresariais, comunitárias, médicas e outros profissionais, para que possam gerir a instituição no término da intervenção.
- Há viabilidade financeira para isto, e notamos que não há outra saída do que comprar. É uma decisão irreversível. No término da intervenção, vamos oficializar o processo -afirma o vice-prefeito.
Ainda não há negociação entre as instituições, porém, sabe-se que o hospital foi adquirido pela Associação Franciscana de Assistência à Saúde em 2013 pelo valor de R$ 10,8 milhões, pago em três parcelas. A prefeitura interviu após risco de fechamento da urgência, emergência e UTI do hospital, que funciona há 67 anos no Centro, atendendo serviços de médio porte. A secretaria da Saúde identificou falhas na infraestrutura, com problemas na farmácia, refeições, limpeza, falta de equipe e outras deficiências pontuais que comprometiam o atendimento do paciente _ o Departamento Médico Legal (DML), por exemplo, hoje fica dentro do vestiário feminino.
- Estávamos contando com a sorte até agora. Para se ter uma ideia da gravidade, os carrinhos de anestesia estavam sem calibragem, o que pode determinar se o conteúdo químico está sendo usado em excesso, por exemplo. Isto poderia ter deixado algum doente acamado - descreve o secretário de Saúde Jeferson Moschen.
O primeiro mês de trabalho, segundo Moschen, contemplou principalmente ações que visaram motivar a equipe de colaboradores _ parte dos médicos está recebendo no início de abril os salários de fevereiro. Cerca de R$ 327 mil foram liberados para compras de equipamentos e melhorias aplicadas na alimentação, lavagem de roupas, higienização, entre outros. A equipe pretende reduzir em 30% gastos com fornecedores de materiais de limpeza, e está revendo acordos firmados com operadoras de saúde.
- A principal depredação é com a parte humana. É o desespero dos funcionários, é a falta de respeito com o paciente. Não havia nem rastreamento da medicação que o paciente utilizava, se ele já havia ingerido, qual era o remédio - exemplifica.
Há possibilidade da intervenção ser prorrogada por mais 180 dias, garante o secretário.
Empresários ajudam hospital
Além da parceria com a prefeitura, outra importante ação tem se consolidado como carro-chefe para a manutenção do hospital _ que apesar da crise, não suspendeu atendimento ao público, recebendo pacientes em todos os 94 leitos: a parceria com a comunidade. Com a economia movida essencialmente pelo turismo, empresas do setor tem dado uma força expressiva para a prefeitura, com doações significativas. A empresa administradora de um atrativo turístico do município doou mais de R$ 50 mil para compra de equipamentos, por exemplo. Clube de mulheres têm trabalhado para reformar poltronas, empresas doam talheres e outros acessórios para o refeitório, outras cedem chocolate para os funcionários, entre outras ações.
- Eles ficaram muito tempo na toca, não saíram para ver a cidade, procurar parcerias com Estado, com os empresários, com outros órgãos. A comunidade quer de volta o hospital - defende o secretário de saúde Jeferson Moschen.
Demanda regional preocupa
Outra forte preocupação que assola a equipe interventora é o atendimento de pacientes de cidades vizinhas _ e, com a situação preocupante dos hospitais do Estado, a demanda só cresce. Nesta quinta-feira, a secretaria municipal da Saúde foi alertada pela estadual de que devem fornecer atendimento para pacientes do Hospital de Canela, nos serviços de obstetrícia e nascimentos. Além disso, a instituição já presta atendimentos para pacientes de Taquara e São Francisco de Paula, que também estão com os hospitais em crise econômica.
- A prefeitura de Gramado não vai arcar com as despesas destes pacientes. Não vamos negar atendimento, mas nosso hospital não pode sofrer prejuízo-afirma o vice-prefeito Luis Antônio Barbacovi.
O hospital presta atendimento a pelo menos 13 mil pacientes por ano da região.
Crise hospitalar
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