O ato organizado pelos senegaleses na tarde de sábado, na Praça Dante Alighieri, para pedir paz e justiça, se estendeu por seis horas e culminou com orações de despedida para Cheikh Tidiane, 28 anos, em ritual de corpo presente em pleno Centro da cidade.
O africano foi assassinado na quinta-feira passada, na localidade de São João da 4ª Légua, em Galópolis. Dois dias depois do crime, cerca de 150 pessoas mobilizaram-se para reclamar da falta de segurança e da impunidade, já que o suspeito da morte de Tidiane pagou fiança e foi solto em poucas horas depois de ter sido capturado.
Em breves discursos sobre o tema, alguns dos presentes questionaram a eficiência das leis, pediram paz para "senegaleses e brasileiros" e até sugeriram que o racismo poderia ter influência na banalização da morte do rapaz.
- Moro em Caxias há um ano e vejo a invisibilidade do negro na comunidade. A questão racial não pode ser descartada nessa morte, porque 77% da juventude que morre no Brasil é negra - afirmou a produtora audiovisual carioca Monique Rocca, 34, entre lágrimas.
O presidente da Associação dos Senegaleses de Caxias, Aboulahat Ndiaye, 24 anos, o Billy, acostumado a receber migrantes, foi obrigado a aprender a fazer o caminho inverso - e, desta vez, o compatriota chegará sem vida a Dakar, capital do Senegal.
- O homem que fez isso matou um ser humano, uma família e um futuro. Tidiane morava aqui há um ano e mandava todo o dinheiro para os familiares, não tinha contas por aqui - disse Billy.
A coordenadora do Centro de Atendimento ao Migrante de Caxias do Sul, Maria do Carmo Gonçalves, disse que o clamor tinha uma função específica: pedir a prisão preventiva do assassino. A religiosa questiona também a legislação brasileira.
- Penso na qualidade da permanência daqueles que estão aqui. É triste constatar que o passaporte foi a certidão de óbito dele. Com isso, morre um pouco a esperança de cada um - declarou.
Depois das falas, parte do grupo ficou entoando canções religiosas, enquanto caminhava em círculos sob a lona que abriga o palco montado na Praça. Alguns entraram em transe e praticamente todos ficaram até a despedida derradeira, que durou apenas 13 minutos - das 21h50min às 22h03min.
O transporte ficou sob responsabilidade de uma funerária de Passo Fundo, que já havia realizado outras operações como essa, e veio a Caxias buscar Cheikh Tidiane no Instituto Médico Legal. Depois de o corpo ter sido recolhido, foi levado à Praça Dante Alighieri. O veículo subiu na calçada em frente à Galeria do Comércio e, por alguns minutos, os compatriotas fizeram preces junto ao caixão alojado na parte de trás da camionete S10, que estava com o porta-malas aberto.
Cidadania
Senegaleses protestam em Caxias contra a insegurança
No sábado, eles realizaram ato na Praça Dante Alighieri em memória de compatriota assassinado
Tríssia Ordovás Sartori
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