Usuários das 47 unidades básicas de saúde (UBSs) de Caxias do Sul sabem o quanto é difícil marcar uma consulta pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Secretaria Municipal de Saúde e entidades ligadas à área admitem que há muito a melhorar, mas atribuem parte dessa demora ao mau uso do sistema pelos próprios pacientes, que marcam consultas e não aparecem no dia agendado ou fazem exames e deixam de retirá-los.
Conforme a secretaria, diariamente são disponibilizadas 1,5 mil consultas com clínicos gerais, ginecologistas e pediatras nas 47 UBSs do município. De 10 a 15% dos pacientes, no entanto, não comparecem no dia marcado. Neste caso, a consulta nem sempre é perdida, já que alguns postos conseguem atender outra pessoa naquele horário.
O mesmo não acontece quando a consulta é no Centro Especializado em Saúde (CES), onde o agendamento é feito por meio de uma central que depende de regulação médica. Em dezembro do ano passado, quando foram ofertadas 8.082 consultas, cerca de 13% dos pacientes não compareceram. Em janeiro deste ano, com menos vagas ofertadas, o número de ausências subiu para 15%.
Conforme o CES, nos últimos dois meses, a área campeã em faltas foi a fonoaudiologia. Em dezembro de 2015, por exemplo, das 481 sessões agendadas, em 97 (20,16%) o paciente não apareceu. Em janeiro, foi ainda pior: foram 463 atendimentos marcados e 117 faltas (25,26%). O tempo de espera para marcar o serviço chega a um ano.
- Tentamos educar os usuários para evitar que outra pessoa que esteja precisando deixe de ser atendida. Fazemos reuniões periódicas nas UBS e pedimos que, caso precisem faltar, que avisem com antecedência - afirma a diretora da Secretaria da Saúde, Marta Fattore.
Prejuízo de R$ 550 mil
A falta ou esquecimento dos exames também gera gastos desnecessários para os cofres públicos e engorda ainda mais as filas. Somente em 2015, o prejuízo causado pelos pacientes que realizaram exames, mas não retiraram os resultados é estimado pela SMS em mais de R$ 550 mil.
Para Paulo Cardoso Alves, presidente do Conselho Municipal de Saúde, se o sistema fosse utilizado de forma correta, não haveria mais filas. Ele aponta que em alguns setores, como na traumatologia, por exemplo, a população aguarda até um ano pelo atendimento do médico:
- Temos uma série de coisas a melhorar para que o sistema fique como a gente merece, mas se não houver essa responsabilidade por parte do usuário, o tempo de espera será cada vez maior.
Espera diferente em cada UBS
A ordem de chegada não é o único critério para se conseguir uma consulta. O tempo de espera varia de acordo com a especialidade, a situação do paciente e a UBS que ele frequenta.
Isso acontece porque cada unidade determina como fará os agendamentos, que podem ocorrer diariamente, semanalmente ou quinzenalmente.
Das consultas disponíveis em cada UBS, 50% das vagas são destinadas a agendamentos prévios, 20% às reservas solicitadas por telefone para idosos, gestantes e pessoas com deficiência, e 30% são de vagas preenchidas no dia, com as demandas mais urgentes da população.
O CES conta hoje com 53 médicos de diversas especialidades, enquanto nas UBSs, atuam 159 profissionais.
Tempo médio de espera por consultas em Caxias do Sul:
Eletrocardiograma: 2 dias
Otorrinolaringologista: 2 dias
Urologista: 7 dias
Pequenas cirurgias: 20 dias
Cirurgia vascular: 2 meses
Cardiologia: 4 meses
Dermatologia: 9 meses
Otorrinolaringologista para aparelho auditivo: 10 meses
Fonoaudiologia: 1 ano