A exemplo das metrópoles, que assistiram passivamente à construção de submoradias sob viadutos e marquises, Caxias do Sul consolidou de vez os sem-teto em locais públicos. Não se trata mais de gente dormindo sobre colchões e papelões. Agora, homens e mulheres fixaram endereço na rua com direito a fogão, sofá e cama, um cenário que reforça ainda mais a miséria na cidade.
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Conforme Grasiela Closs de Oliveira, gerente em exercício no Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro POP Rua), atualmente cerca de 300 pessoas usam com frequência os serviços da entidade. O número de novos cadastros é que surpreende: aumento de 126,1% em relação ao ano anterior. Enquanto 2014 teve 300 cadastrados, outros 649 procuraram pelo serviço em 2015.
Para a doutora em Serviço Social Jane Cruz Prates, de Porto Alegre, a crise econômica impacta esses dados.
- Temos famílias inteiras que por causa da recessão, da pobreza, ficaram sem ter onde morar e foram para debaixo de alguma ponte - exemplifica.
Um dos pontos mais visíveis é a esquina da Rua José Bisol com a BR-116, no bairro Lourdes. Debaixo da marquise de um prédio vazio, sete pessoas convivem ao relento. Sob o viaduto da Avenida Júlio de Castilhos, perto do Senac, no bairro Cinquentenário, a reportagem encontrou três homens e uma mulher dormindo em colchões, além de outros móveis como um sofá e uma cadeira de praia. Eles não quiseram conversar com a equipe, mas afirmaram que nenhum deles mora ali, apenas frequentam o local para consumo de drogas.
Levantamento feito pelo Pop Rua e pela reportagem indica que a cidade tem 31 pontos que servem de abrigo para moradores de rua. O uso de drogas, o desemprego, a perda do vínculo com a família e problemas mentais são apontados como alguns dos motivos que levam muita gente a optar pela vida sob viadutos ou marquises. Muitos não aceitam o suporte oferecido pelas entidades responsáveis. A população que convive com essa vizinhança fica assustada com o aumento da indigência e cobra atitude do poder público.
- Não tem como obrigar a pessoa a sair da rua, ela tem o direito de ir e vir. Já tivemos aqui vários casos que foram bem- sucedidos de reinserção na sociedade. Não é um trabalho fácil, mas nosso objetivo é que a pessoa tenha sua autonomia e saia da rua - explica Grasiela, do POP Rua.
Para Jane, o processo de instalação definitiva dos moradores em locais públicos não é novo. Há tempos, eles reproduzem o ambiente de casas nas ruas. Para o restante da população, porém, esses locais não são percebidos como moradias.
- Hoje, com as pessoas jogando fora sofás e outros itens fica mais fácil. Especialmente os moradores que têm um tempo menor de rua, que ainda têm um apego muito grande com as coisas materiais. Depois, eles vão abandonando esses objetos para poder se deslocar com mais facilidade - aponta.
Portanto, homens e mulheres ignorados pela sociedade, agora têm moradia fixa em locais públicos. Assim evolui a indigência nas ruas da cidade.
Relento
Moradores fixam endereço nas ruas de Caxias do Sul
Atualmente cerca de 300 homens e mulheres utilizam o serviço do Centro Pop Rua
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