Ao superar novamente a triste barreira de 100 assassinatos no ano, Caxias do Sul dá início nesta segunda-feira a um projeto que pretende instigar e mobilizar centenas de homens e mulheres contra a violência. Até o final de 2016, a meta é treinar mil voluntários na resolução de conflitos nas comunidades. É iniciativa inédita no país, inspirada em proposta implantada no Canadá.
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Os voluntários não lidarão com ladrões, assassinos ou traficantes. A função será identificar e prevenir situações variadas que abalem a tranquilidade de lares, escolas e bairros inteiros. Ao estimular o senso comunitário, de forma abrangente, os idealizadores pretendem reduzir a indiferença e baixo engajamento da população. Qualquer cidadão poderá se candidatar ao treinamento.
Lideranças apontam como pretendem se engajar contra a violência
Comunidades podem e precisam intervir
Espiritualidade é apontada como saída
A estratégia será desenvolvida em etapas (ver quadro), e está prevista no programa municipal de cooperação interinstitucional Caxias da Paz, lançado ano passado. A primeira fase começa hoje e prossegue até sexta-feira na Universidade de Caxias do Sul (UCS), com um curso de capacitação para 50 lideranças na aplicação dos chamados círculos restaurativos, onde partes contrárias são convidadas a expor problemas de casos de menor potencial ofensivo como brigas em escola ou negligência familiar.
A partir da conversa, esses líderes podem promover consenso entre as partes sem a necessidade de apelar à polícia e ao judiciário. Eles também terão a incumbência de arregimentar outras pessoas para multiplicar os conceitos de paz na base do diálogo.
De fevereiro a novembro, ocorre a formação de mil voluntários de diversos setores, também com foco na resolução de situações menos graves. O projeto é assinado pela Fundação Caxias, com dinheiro depositado a título de penas alternativas ou transação penal sob a administração da Vara de Execuções Criminais (VEC).
- Há diversos segmentos para se aplicar o conceito. Vai da família aos vizinhos, da necessidade de uma ciclovia num bairro a uma baderna no bar ao lado. Quando as pessoas sentam para conversar de forma linear, sem hierarquia, sem decisão de terceiros, podemos chegar a resultados que não se obtêm pelo meio tradicional. Só a comunidade sabe o que é melhor pra ela e não alguém que está no lado de fora - enfatiza a titular da VEC, juíza Milene Fróes Rodrigues Dal Bó.
PASSOS DO PROJETO
1ª etapa: de hoje até sexta-feira, haverá capacitação de 50 pessoas na metodologia de facilitação de círculos com aplicação preventiva, com ênfase no processo de multiplicação da ideia. Esse grupo deve se agregar à rede municipal de pacificação.
2ª etapa: de fevereiro a novembro de 2016, formação para mil pessoas (40 turmas de 25) como facilitadores de círculos de construção de paz de em três formatos básicos de encontros: diálogo (sensibilização), fortalecimento de vínculos familiares e construção de senso de comunidade
3ª etapa: ao longo de 2016, com base no modelo estruturado pela ONG internacional Terre des hommes, e sob orientação técnica da instituição, será estimulada a implantação das práticas restaurativas nas escolas, com a colaboração dos voluntários formados na prática de círculos. O objetivo é alcançar famílias onde os filhos costumam reproduzir, em sala de aula, os problemas que enfrentam em casa.
4ª etapa: também em 2016, os facilitadores e voluntários que melhor se identificarem com a propostas, será oferecida a formação completa, com duração de quatro dias em Círculos de Justiça Restaurativa e de Construção de Paz, com aprofundamento nas técnicas de construção de consenso e resolução de conflitos.
5ª etapa: os voluntários podem instituir Comitês de Paz nos bairros, baseado numa experiência do Canadá, dentro de um estágio mais avançado do programa Justiça Restaurativa para o Século 21 do Tribunal de Justiça do RS. A ideia é começar pela atuação preventiva, podendo evoluir para a pacificação de conflitos e casos de violência envolvendo crianças, adolescentes, suas famílias e comunidades. Posteriormente, o comitê pode mediar o consenso entre o público adulto.